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terça-feira, 8 de setembro de 2009

QUANDO SE GANHA DOANDO-SE

"Tornar um amor real é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém”. Nando Reis*
Dom Hélder Câmara escreveu: “Quando dou comida aos pobres me chamam de santo. Quando pergunto por que são pobres me chamam de comunista”. Ao ler essa afirmação, irônica e verdadeira, comecei a refletir sobre o real valor da doação. Existe a doação material, onde, na frase, identificamos no doar a comida. Mas também vivenciamos (muito pouco) a doação corpo-espiritual, que considero aquela, onde Dom Hélder se refere ao perguntar sobre a desvalorização da espécie humana. Porque a negação e o ataque que recebem as pessoas que questionam o poder de uns e de outros são grandes.
O que é doar-se?
É se entregar ao próximo. Fazer do estilo de vida dele o seu, a vida dele a sua, os problemas dele os seus. É deixar-se completar pelo outro, oferecendo-se assim para completá-lo. Casado, solteiro, ou de qualquer maneira de vida, estamos convidados a dividir-nos.
Essa doação que me refiro aqui não é aquela que parte do comodismo familiar (que não deixa de ser complicado). Mas sim se fazer positivamente presente – e deixar que se façam presentes – na vida de toda e qualquer pessoa.
Quando se assume os problemas do outro, tentamos nos unir para solucioná-lo. E o necessário é rever a relação de problema. Precisa-se haver respeito de ambas as partes, por que se considerarmos que “cada ser humano é um mundo”, há terras distintas entre um e outro. Acredito no que uma professora da 4ª série falava: “minha liberdade termina onde a do outro começa”. Reconhecer esses limites nos permite uma relação respeitosa e de doação com as outras pessoas.
Como é difícil! Só que devemos acreditar na reciprocidade do ato doar. Ou seja, se eu me doo, a outra pessoa consequentemente, se abriu para receber, doou-se, mesmo que um pouco. Mas acreditemos que seja o seu máximo, e que não seremos mais os mesmos depois desse pouco que recebemos.
A doação é parte integrante do processo da conquista humana da “Civilização do Amor”.

"Amor que exige amor,
Amor com dosagem,
Com cálculo,
Com restrições,
Poder ser tudo
- menos amor!" Dom Hélder Câmara**

*Música: Quem vai dizer tchau?
** Um olhar sobre a cidade, 2ª Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.

Um comentário:

  1. Concordo com vc. Mas como é difícil tudo isso né? Como é difícil sair de dentro de nós mesmos e encarar o mundo, as pessoas, a realidade. NOs acostumamos a achar a realidade feia, pequena e nos iludimos, quase o tempo todo. Quando na verdade a realidade, por mais que seja dura, é cheia de beleza, de cores, de encantamento. Perder-se dentro de si mesmo, é perder o tempo. O tempo do contato, da descoberta, da verdade, do amor. Eu como já disse aqui, estou aprendendo. Aprendendo a ser menos egoísta, aprendendo a ser menos sozinha, menos auto-centrada, aprendendo a ver o mundo.

    E vc Allan, tem me ensinado muito, te agradeço muito por isso. Obrigado por me deixar fazer parte do seu mundo, e por participar do meu, mesmo que ele seja assim todo torto.

    te amo

    beijos

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