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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Pra um amigo preocupado

É normal se preocupar com os outros, né? Ou com uma situação que queremos muito que aconteça, inclusive com os outros. E nessa preocupação, a gente despende muita energia num desejo nosso pra que tudo aconteça como nós queremos. É uma mania nossa, coisas de gente mesmo, transferir nossos desejos para os outros. Isso acontece com mais frequência que eu possa imaginar. 
Eu dependo de um monte de coisa pra fazer minhas coisas, mas não quero depender de um monte de gente, no sentido sensível da palavra, pra realizar o que preciso. Não é porquê minha melhor amiga quer alguma coisa de mim que eu preciso fazer. O que as pessoas esperam de nós não necessariamente é o que queremos de nós mesmos e isso tem que deixar de ser um peso. 
Agora, um ponto potencialmente polêmico, mas espero que me entenda: você precisa parar de rezar por alguém sem que a pessoa saiba pelo quê você está rezando pra ela. Se a oração (transfira essa palavra pra sua crença, reza, mandinga, pedido...) tem um poder tanto sobre quem realiza quanto sobre a quem se destina, é muito perigoso. Você que faz sem o consentimento da pessoa pode estar interferindo sobre a liberdade dela de desejar o que quer que seja pra ela mesma. Não sejamos mais egoístas ao ponto de querermos decidir sobre os desejos de alguém. Assuma pra você mesmo que até você fica em dúvida, de vez em quando, se está com fome. 
Outro dia, por exemplo, me peguei querendo que uma amiga que mora longe estivesse aqui em Goiânia, fazendo faculdade, morando sozinha... e no meio desse desejo eu fui falar com ela e descobri que ela não queria nada disso, ela estava feliz no lugar, satisfeita com o que estava fazendo e muito completa morando com quem estava. Fiquei feliz por ela e descobri ali, naquele momento simples, que o que eu desejo para os outros, por mais certo e melhor que possa parecer, não é o que os outros querem ou esperam para si próprios. E que preciso tomar cuidados com o que eu transfiro de desejos para o outro.
Pro ano que vem e todos os outros que ainda nos esperam, que consigamos ter consciência dos nossos sonhos. E que tomemos consciência também dos sonhos dos outros e aceitemos que eles podem sim ser diferentes dos nossos. E rezemos menos e façamos mais. Uma conversa frente a frente com alguém pode ser mais eficaz que qualquer conversa com Deus. Afinal, seu problema não é com Ele. 
Cheiro!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015 ou dois mil e quinze motivos pro ano acabar logo

Em janeiro já começaram os tiros. Fevereiro as porradas e o resto do ano foi bomba. Ano do carneiro, muita cabeçada rolou nesse dois mil e quinze. Se alguém tinha dúvidas do Apocalipse passou a sacar que é possível que role mesmo. 
Foi um ano tão esquisito que antes de acabar eu tô fazendo logo a retrospectiva. Perdão aos inventores desse calendário que seguimos mas 'dois mil de dezesseis' vai começar antes pra mim. Ontem foi um bom dia pra acabar um ano e começar outro. 
Ah, não poderia deixar de falar: se tem um trem que existiu nesse ano que passou foi a esperança. E ajudou muito. Ninguém passou ileso a 2015.

Feliz 2016!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Quando quis ser deus


Quisera eu ser deus. Aliás, queremos todos ter os poderes de deus, principalmente aquele que fica sentado num trono, sem precisar fazer muita coisa. Paradinho ali, qualquer coisa manda seus anjos e arcanjos pra resolverem pra ele. Quando a coisa fica mais séria é só estalar os dedos e os problemas ou os causadores se desfazem, deixam de existir. Fabuloso!
Quando não quero ser deus, eu queria conhecer deus. Ser amigo próximo, visitar a casa dele e comer dos prometidos manjares. Aliás, queria ser, sei lá, pai de deus. Imagina que incrível ser pai de deus. Deus, limpa a casa pra mim! Deus, me ajuda! Talvez faria até mais sentido na hora de falar "pelo amor de deus".
Agora do que eu gosto mesmo é santificar meus conhecidos. Imacular a figura daquele amigo que fala baixinho. Dar o título de grande sábio àquele que tem uma ideia sobre tudo e as compartilha no momento de um conselho. Acho que a distância entre a terra e o céu me fez querer ter deus aqui, próximo a mim. Por outro lado, acho que foi minha vontade de acreditar que existe o bem soberano divino, fazendo com que eu, sem conseguir ser tão bom assim, transfira a responsabilidade de ser deus em terra.
Coitada dessa pessoa, vamos combinar. Imagina, num lugar como esse aqui, ser deus. Que peso a se carregar. Até porquê deus não erra, portanto ela não pode cair nas graças do erro. Palavras medidas, gestos comedidos... Coitada, no momento em que foi dada a ela a possibilidade de ser gente, a gente a pôs no lugar de deus.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

5

A rainha do abebé, dona da beleza, da fluidez, dos estados afetivos da matéria. Mulher. Iyá. Mamãe. 
Quando fui abraçado pela senhora das águas doces, a rainha dourada, a riqueza em forma de amor, Osùn, nunca mais me senti desprotegido. Ela que é mãe, que cuida dos filhos enquanto os pais vão pra guerra, que se responsabiliza pela fecundação, que nos protege com fertilidade. 
A rainha que ganhou o coração de Sangò. Que apaga o fogo, que com calma fura a pedra, que esfria os caminhos.
É da Osùn a vaidade. Nos vales é querida, na seca é chamada, no fundo é fértil.
Ela que mata minha sede, que me limpa, que me alimenta, não permite que feitiço nem praga me derrube, não deixa que mal olhado se achegue, que choro desalenta, que riso exagere.

08/12 dia de Osùn.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Mulher

Às vezes é demorosa,
às vezes é delicada.
Às vezes é abrupta,
às vezes determinada.

As vezes que é querida,
sorri e se desmancha.
As vezes que é doida,
grita e é odiada.
Às vezes é quieta,
às vezes transtornada,
às vezes é santa,
às vezes endemoniada.
Às vezes se esconde,
outras se dá.
Muitas coisas é...
em todas sanguinária.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Esperança

Enquanto houverem Inêses Brasis,
pretas empoderadas,
crianças viadas,
pomba-giras encarnadas,
rodas pra exu,
orixá,
boas gozadas
eu acreditarei nessa humanidade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Trevas x Luz

Que bagunça boa. Que lembranças esquisitas, que pesadelos leves, que incríveis são as formas que o universo encontra pra fazerem coisas impregnadas nas nossas células irem embora.
Tanta coisa maluca acontecendo no mundo, e no meu mundo. Tantos corações choram agora e tantas lágrimas caem do meu coração. Uma baderna.
A energia caótica deixou tanta coisa fora do lugar. Muitas frestas reabertas e tantas trevas escorregam por elas. Em oposição, tanta luz nos segura e se assegura de que continuemos caminhando.
Apesar de tudo, as estradas parecem mal iluminadas. E nesse processo todo, o que me resta é manter o lampião aceso. Troco o gás no escuro. Não me entrego.