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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O amor [que sinto]

O amor, 
em algum momento será isso, 
algo de aceitar 
a perda da sanidade 
e aumento da dor selvagem, 
como batida em moleira de criança, 
parada cardíaca demorada. 

Se te acrescenta então saudade, 
se assegure no futuro, 
que o passado não existe 
e o presente machuca 
que nem arame farpado preso 
em dedo sem sapato, 
choque de fio desencapado. 


O amor deixa a gente desenganado,
que nem pinto atropelado.
Tal qual queda de penhasco,
só que nunca chega o chão. 
Mas se quiser tirar da gente
o amor do coração,
nêgo gela as canelas,
sua pelas mãos.
Faz de prece a oração
pra Deus dar um jeito no destino
e manter a união.

domingo, 6 de agosto de 2017

Sopro

O cara acordou cedo. Não se preocupou com o cheiro, acendeu o filtro vermelho de cinco conto que comprou na padaria, ligou o som, botou na rádio. Sabe-se lá o que pensava, mas tragava com vontade, e soprava a fumaça como se quisesse soltar os pulmões, era como gritar. O cubículo, no segundo sopro, estava cheio. Com destreza, acendia um no rabo do outro, sem desperdiçar um trago sequer. Letras apareciam como projeções na fumaça. Imagens se formaram. E o ritual continuou tempo a fio, até o maço ficar vazio. Saiu para comprar outro. Nunca mais voltou, deixou a porta aberta. Até agora ecoa no corredor os gritos no cheiro dos cigarros baratos.