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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Saudade

De zero a seis
De doze a dezesseis
Entre isso foi no mundo.
Estrada.
Poeira.
Molhada na soleira,
levanta o cheiro
da história guardada
em fios de memória d'ouro.
Manga.
Cajá.
Neguim de afeto,
pipa, bicicleta.
Serra.
Morena acompanhante
nos trieiros.
Excursão.
Expedição.
Cachoeira da pedra,
passagem de bicho.
Pulo.
Saudade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pane


Pane. A informações se tornaram subconscientes. Os pensamentos objetivos não me vêm à tona, formam um surto, um caos. Não consigo escrever. A galinha ainda dança. A galinha não pode parar. Numa mesa, sentamos eu e meus pensamentos, frente à luz do monitor do computador, lado a lado com a luz natural que vem da janela principal do pensamento. O encanamento está entupido. Volto três casas e os dados rolam abaixo de zero. O cheiro da chuva me remete a lugares que até agora não pude ir. Preciso manter os pés no chão, mas como o fazer se minha cabeça está no céu, sem carta aérea e sem vontade de tê-las? O som continua. A música não pode parar. Duas cadeiras separadas, forçosamente separadas. Uma crítica expressionista. Dali me acompanha nesta realidade. Quadrados se derretendo. Calma. Aparentemente tudo voltando ao seu lugar de origem.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Lá,
o sol susteniu
a lua surgiu.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cima, em cima, para cima separado.
Baixo, embaixo, cabisbaixo mas junto.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Círculo Sem Fim

Esperou até o dia em que não coube mais. A imaginação já tinha sucumbido aos desejos de deixar aquilo escapar pelas linhas das veias, da cabeça à ponta dos dedos e formarem as linhas no papel. Qual o culpado por todos esses devaneios inquietos, hiperativos feito o dono? O amor. É o amor que não deixa mais o menino em paz, é um olhar que o faz desmanchar em segundos, que o amolece, que o estremece. Só um olhar e lá está a realidade enamorada do menino.
Quer escrever e não consegue, não consegue diminuir o sentimento e colocá-lo em palavras escritas, inaudíveis aos corações que não amam. Somente quem amou consegue enxergar o que o menino tem sentido no último ano e que perpetua no tempo, fazendo-os sem fronteira e sem final. A compreensão da dimensão de infinito não se compara ao sentimento do menino.
O menino entende o círculo sem fim.

terça-feira, 24 de julho de 2012


Nariz meio grandinho
Cabelo liso
Incha quando tira o ciso 
e eu chamo de cajuzinho. 


sábado, 7 de julho de 2012

Quando o amor vai passar um final de semana fora

Acabou de ir.
Podia ter sei lá,
acabado de chegar,
sei lá,
acabado de ficar.
Mas acabou de ir.
E foi contigo,
além do topete,
no foguete,
meu coração.
Deixou para trás,
logo na fumaça,
uma saudade 
que pesa, 
como massa de macarrão
não instantâneo. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Carta desabafo após uma apresentação frustrante


Goiânia, 14 de julho de 2011.

Já tinha que ter esperado por esse momento e, mais que esperado, me preparado para o fracasso. Como isso nunca havia passado pela minha cabeça? O Teatro é mesmo uma arte de compensação, no entanto, hoje me pareceu mais uma sacudida. Subir no palco nunca tinha sido tão difícil. Nunca, na minha vida, estive tão deslocado em cima do lugar sagrado, do presbitério da minha alma, da cozinha da minha existência. Como eu não olhei para o público? Como eu não consegui encontrar o canal de energia da platéia com o espetáculo. Espetáculo? Se tiver alguma coisa que não posso chamar aquilo que hoje tive a infelicidade de apresentar é de espetáculo.
Que bom! Já estava quase acreditando que o teatro é a arte da repetição. Não, de longe não é. No teatro, no palco, não nos é permitido o retorno, a repetição. Definitivamente, no teatro não nos cabe o fracasso... Ou tem-se glória ou tem-se preparação para ela. Fracasso não. Nunca. Se ficar ruim, a única coisa que devo fazer é pedir mil perdões a aqueles que compartilharam do meu infeliz momento, da minha falta de capacidade de fazer bem feito aquilo que fiquei tempos ensaiando. Como pude? Como pude? Não sei. Definitivamente não tenho idéia. Não tenho. Deveria ter perguntado se eu podia fazer de novo e tentar dar o meu máximo. Aquele, definitivamente não foi meu máximo. Brincando? Eu estava brincando de ser ator? Cadê meu frio na barriga, meu desejo de estar ali? Não sei onde foi parar minha escolha por essa vida. Naquele momento, o ritmo da minha vida estava descontrolado. E eu? O que eu fiz para perceber isso? De novo o Teatro me ensinou uma coisa; com um cochicho que entrava pela minha garganta abaixo e parava nas minhas entranhas, ele dizia: “Meu filho, isso aqui não é brincadeira, não é guerra de ego, não é tudo aquilo que você pensava. Eu sou coisa séria e, se eu te escolhi, é por que pensei que você tivesse a coragem de se jogar, de não ter medo do ridículo, de se despir da sua vida por completa”. E por fim, o pai Teatro me perguntou: “Onde esteve toda aquela força que há alguns dias atrás te acompanhava?”. Ah, como pude fazer isso com a coisa mais importante na minha vida? Como eu, criança, até então, nascida para estar lá, consegui fazer aquilo? Coisa estranha, sem energia, sem crescimento, sem noção. Este fui eu no palco hoje. Sinto por quem foi me ver no pior dos meus piores dias em cena. Juro que se eu pudesse teria mudado, teria crescido e feito o maior de todos os espetáculos. Mas não consegui e não poderia repetir. Guardo comigo os ensinamentos que o palco de hoje me trouxe e prometo, público, que farei o impossível para nunca mais ser tão medíocre diante de vocês.

Obrigado e perdões, Allan.

Carta de feliz aniversário


Goiânia, 16 de setembro de 2011.

Peão,

eu poderia começar justificando algumas muitas coisas que ficaram subentendidas nas minhas falas e/ou intenções nestes últimos cinco meses, tipo: o porquê d'eu não gostar mais de escrever cartas. No entanto, pensando com meu fone de ouvido (não uso camisa e pensar com botões é monótono), cheguei à conclusão de que a justificativa deveria aparecer nas pequenas coisas, como essa aqui, eu escrevendo uma carta para você. São tantas coisas que me falta assunto e organização mental, mas vamos lá, acho que essa é uma oportunidade única de te mostrar algumas coisas e enfim. 
Para começar mesmo, vamos direto na lição #1: Eu não minto em cartas como não juro por Deus para mentiras e sobre os conteúdos da carta, a primeira resposta tem que ser n'outra carta!  
As próximas lições não estarão numeradas e muito menos definidas, afinal, que graça teria se você não precisasse de mais de uma carta pra me conhecer por completo? Ou me conhecer, somente?
Então... uma das coisas que me faziam não escrever mais cartas é que me fazem pensar muito para o fazer. Comigo isso de sentar e escrever, ultimamente, tem funcionado somente no Twitter. Só entrar lá e ver a qualidade do conteúdo. #Fail, como dizemos por lá. Até que decidi que iria me esforçar um pouco para te escrever uma carta de aniversário. Agora, depois de começar, vi que o esforçar um pouco aconteceu quando eu escrevi a primeira linha da página, a data. Agora já estou no muito esforço. Muito esforço esse que me traz algumas lembranças que se perderam nas brigas que tivemos ou nos caminhos que passamos separados e precisávamos descarregar um pouco pra caminhada se tornar mais leve. Que bobeira, hein!? Que bobeira! Ilusão de ótica, o nome disso. Acha-se que perde, o peso diminui e depois lembra-se de novo. Como nosso cérebro funciona direitinho, não é? Agora, quando relembrei, não são mais lembranças pesadas. As mesmas lembranças que me atrapalhavam caminhar levemente, hoje me empurram para frente. 
Sabe aquele dia em que você estava dopado de ritalina, maconha e cerveja? Foi o dia em que eu estava dopado de cerveja e maconha (infelizmente ainda não conhecia a Ritalina). E mesmo assim, naquele meio tempo a gente se viu, ou melhor, conseguiu se ver. Isso deixou de ser pouco pra mim há muito. Há muito. Outra coisa parece o tempo: é muito e só aumenta, que é meu sentimento por você. Sentimento esse que não precisa de nome, de idade nem de telefone. Ele já tem tudo o que ele precisa, que é um receptor. Então, nem nos preocupemos em tentar encontrar um nome pra esse bebê.
E como essa é uma carta de aniversário, para ela não se tornar tão extensa, escreverei mais dois parágrafos. O início do fim e o fim do começo, se é que compreende minha metáfora pra "começo".
Uma rampa, dois olhares, uma insistência, duas insistências, três insistências, uma ligação, um abraço, algumas contradições, um sentimento. Daí começou a decadência de uma vida, que até então vivia sozinha. Começou-se junto da decadência, a construção, difícil e árdua, de duas vidas, juntinhas. Aí vieram uns amigos, pais e por fim, uma coisa que não sai da minha cabeça: A frase: "Olha lá. Quem são?" A simples e óbvia resposta não conseguiu expressar o que eu senti e o que eu estou sentindo até agora. Não consegui responder pra mim mesmo, e nem preciso, porque quando paro de procurar respostas eu encontro uma fotografia de mim, meu amor e um espelho. 
Enfim. Feliz aniversário, hoje e sempre. Que você encontre toda a importância desta data. Que você reconheça suas fraquezas e escolha se fortalecer. Que saúde seja sinônimo de felicidade e que doença seja sinônimo de força. Que você possa ser o mais feliz possível. E se esse último não for possível mesmo, que você seja o menos triste dos tristes. Um grande beijo e um forte abraço,

Allan

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Amor

O amor é um sentimento esquisito. É a contradição materializada em sentimento. É a possibilidade de perceber e ver-se em piores e melhores momentos. É padecimento. É o grotesco transformado em manhãs de céu limpo e brisa leve. É o bem estar retocado de aflição. É o ser acima do fazer. É a visão mais turvada dos olhos perfeitos. É aquilo que os grandes mestres tentaram definir mas que nunca conseguiram (Talvez Camões*). A definição do amor escapa-nos por entre os dedos, deixando-nos um perfume agradabilíssimo a todos os sentidos. É medo, é coragem, é força, é folhagem. 

*Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor? (Soneto 11, de Luiz Vaz de Camões).

segunda-feira, 16 de abril de 2012

o menino c
                     a
                   i
                    u

                           em seu próprio












b
  uracO.

Não estarei mais aqui

Quando eu começar a transferir
o peso de viver pra minhas próprias costas
e enxergar meu caminho sozinho
vão sentir minha falta
e não estarei mais aqui.

Quando eu descobrir
que eu consigo sozinho,
que a responsabilidade é só minha
vão sentir minha falta
e não estarei mais aqui.

Quando eu fugir
pelas estradas mais longínquas
ou pelos becos mais escuros
vão sentir minha falta
e não estarei mais aqui.

Quando a luz for forte demais, ofuscando,
ou quando for fraca demais,
quase se apagando,
vão sentir minha falta
e não estarei mais aqui.

Não estarei mais aqui
para que vejam-me somente,
sem poder opinar.
Eu serei minha opinião e o sofrimento
de não estar mais aqui.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Onde não quero mais estar

Eu não posso perder
aquilo que procurei a vida inteira
e só agora consegui encontrar.
Não posso correr
atrás das coisas que eu sempre quis
sem antes enxergar os caminhos.
Não quero voltar
no lugar
onde eu não me via,
onde eu não ouvia
eu mesmo me chamar.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sermos adultos

Estamos muito longe de sermos perfeitos um pro outro
E a chegada está cada vem mais longe.
A caminhada está na marcha ré!
Alguém mecheu no câmbio nalguma parte do caminho
E a gente tava olhando pralgum lugar que não pra frente.

Acredito que estávamos olhando um nos olhos do outro.
O volante no automático ajudava.
A estrada é reta, foi sem acidentes. 
Alguns sustos, mas sem acidentes.

Medo de continuar nesse carro e não conseguirmos mudar de direção.
Até o dia em que estivermos tão velhos e cansados, 
Que o câmbio não muda de marcha,
E as pernas não suportam mais voltar a pé.

Vou a pé, jogando as pernas no movimento do capim 
Até pegar a carona certa,
Que vai pro caminho certo,
Que vai pro final certo, se é que há.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

De Pedras e Caminhos

Tem épocas na vida da gente que o destino quer nos mostrar/lembrar que no fim somos só nós conosco mesmos. E isso não é para que fiquemos magoados ou tristes, mas é um momento de passagem, onde aprendemos a viver só. Até que um dia, vem o destino de novo e brinca com a nossa cara: coloca pessoa ou pessoas na nossa vida que olhamos e pensamos nunca vivermos sem elas. 
O nome disso é vida! Uma contradição de fatos. E no final... quem sabe do final?

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Quando estou com você
Sinto meu mundo acabar,
perco o chão sob os meus pés
Me falta o ar pra respirar
E só de pensar em te perder por um segundo,
Eu sei que isso é o fim do mundo"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Uma semana depois

Eu ficava pensando no pra sempre mas confesso que, de vez em quando, ficava tentando prever o que seria mais difícil quando aquilo tudo acabasse. E uma semana depois já diminuí os cigarros, voltei a fazer exercícios físicos, a correr, a estudar. Já consigo pegar um livro e ler sem muitas dificuldades como antes, época em que qualquer "dê" que eu lesse me lembrava de você. Já consigo acessar a internet e não falar contigo, resistindo, mesmo a vontade sendo muita. Já consegui até beijar outra pessoa e não foi a coisa mais difícil do mundo. Mas foi difícil. 
No entanto, do que mais reclamo em pensamento é dessa solidão na hora de dormir e não te ter pra me desejar boa noite, não te ter pra sonhar comigo e relutar quando sonho contigo. Abraçar o travesseiro, que antes eu imaginava você, agora já não posso mais. Não é que não posso, mas não devo. Não devo prolongar o sofrimento, manter a cara amarrada, virar vilão nem mocinho. Então eu olho pro travesseiro, deixo ele olhar pra mim e o abraço ainda de olhos abertos, tendo a certeza de que é só um travesseiro que, por sorte, não guarda seu cheiro. 
Quero confessar também que, depois dessa semana, ainda sinto saudade. Sabe aquela saudade das coisinhas pequenas e do que eu mais acreditava em nós? Pois é, é essa mesmo. Mas estou conseguindo conversar com as pessoas, dormir bem, comer bem. Estou conseguindo ficar bem e isso já é um ganho. Já me poupa várias energias. Não é que seja fácil, mas é melhor.
Mas o que mais me assusta é essa esperança. Essa fé, essa coragem, essa vontade de continuar do jeito que eu sou, sabe? Ainda espero o grande amor, acredita? Uma coisa é certa: eu sempre acredito nos meus amores como para sempre! Se esse pra sempre acabou é porquê não era pra ser pra sempre. E quando for, ah mas eu quero estar preparadão. Vou pra porta da rua, ficar na varanda esperando chegar. Porque um dia vai chegar!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Hoje

Definitivamente já teve a certeza do que queria. Pensar, repensar, pesar, trocar de balança, pedir opinião... essas coisas todas que fazemos quando estamos desesperados e necessitados de uma decisão. Decisão! Precisei distanciar para fazê-la, precisei largar mão até de coisas que eu, desde que me entendo por gente, acredito. E o pretérito é uma lembrança, daquelas que guardam tantas coisas boas, mas tantas coisas boas. 
Mas hoje o passado se efetivou como passado, assim como o ano passado, o beijo mal dado, o amor recebido, os sonhos sonhados. Hoje, a partir de hoje, decreto-me a mim mesmo, aceitar o fato de estar sempre sozinho no mundo, de necessitar tomar sozinho as minhas próprias decisões, de comprar uma balança que seja só minha e que eu, ninguém mais ninguém menos, somente eu posso ajustá-la a cada situação. 
Hoje tomei as rédeas de mim. Confesso que ainda sinto, ainda morro, ainda choro, ainda quero. Não posso. Não posso mais ficar como sempre estive, acreditando que as coisas vão melhorar, que a vida vai ser como eu quero somente acreditando. Hoje eu vi que é necessário parar mesmo, é necessário dizer mesmo, chorar mesmo, querer mesmo. É preciso acreditar, mas mais ainda é preciso estar. Estar bem, estar são, estar afim, estar ali, aqui, lá. É necessário coração, braço, lábio, chão. A reciprocidade das ações está na visão dos pensamentos perdidos.
E como sei que nunca lerá isso aqui, deixo claro que essas coisas todas começaram contigo. Foi ali, naquele momento quando te vi que já, de uma forma ou de outra, decidi que cresceria, que aprenderia, que viveria, que seria. Mas quando larga-se uma coisa sempre seguramos outra, precisei segurar em algo que desde o início se movimentava como um galho fino de árvore numa ventania. Tudo tremia e devo confessar que eu temia. 
Foram ótimos os momentos vividos, principalmente aqueles que levarei para sempre comigo nalguma parte da minha memória. Outros prefiro deixar para lá, varrer para debaixo do tapete do cérebro, juntar às sujeiras, ao pó, ao lixo. Algumas vezes jogamos coisas no lixo que ainda teriam alguma serventia, é verdade. Mas mesmo assim as jogamos, na esperança de um dia conseguirmos outras, mais novas, mais limpas.
O que vivemos eu chamo de vagalume, aquilo que Caio Fernando Abreu compara a uma vela, que não se apaga mas que tem uma vida inteira para brilhar. Que coisa é a vida, não é? Mas acredito que continuará brilhando por aí, naquilo que conseguimos construir e naquilo que conseguiremos guardar. Ah! Nada de guardar no peito. Deixemos agora os corações livres e a consciência tranquilo para que mais pessoas passem por aqui, deixem suas marcas, furem as paredes, quebrem suas taças. Porque se isso não acontecer, como poderemos depois faxinar, limpar, espirrar? A graça do amor é exatamente essa:  podermos cuidar do coração como uma casa, como um quarto. Enfim... que venham muitos até um dia, quando sobrar somente duas taças e a parte central da parede principal do coração vazia, chegue alguém que não bateu na porta e coloque ali sua fotografia. Nesse momento, brindará conosco "ao amor" e dali em diante até o último dia de nossas vidas nos acompanhará em todos nossos sonhos. Acompanharemos também seus sonhos. Amor se faz de dois. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O menino que acreditava em anjos

Era uma vez um menino que, já há algum tempo, tinha deixado de acreditar em Papai Noel, Fada dos Dentes, Lobo Mal, Bruxas, Duendes e Anjos. Que coisa triste, não é? Esse menino, desde muito pequeno, vinha alimentando em si a necessidade e guardado provas da existência desses seres desconhecidos e mantidos somente nas lembranças e memórias infantis. Infantis, mas ele foi crescendo e mantendo tudo isso no peito. Só que de us tempos para cá essas coisas foram esfriando e tomando lugar somente da imaginação não muito convincente do menino. O menino foi guardando essas informações em um lugar tão profundo e tão escuro que elas se perderam. Ficaram vagando, perdidas.
Um belo dia de chuva, tudo mudou na vida do menino. Ou tudo voltou a ser como devia ser. Ou tudo estava começando a ser como era, mas que tinha muito que vir a ser. Não sei, só sei que foi assim: subindo os poucos degraus que existiam para serem subidos, o menino procurou no primeiro bolso o seu bilhete mágico de volta para seu mundo. Isso já pressupõe que o menino havia ido a outro mundo. Ops, me confundi. Vou começar do começo.
O menino mora em um mundo não muito distante e foi visitar um elfo seu amigo no mundo vizinho. Para chegar lá, ele pegou uma nave espacial que usava como passagem um bilhete mágico. O menino tinha dois. O primeiro ele usou para ir e na volta o menino enrolou e não tinham mais naves espaciais, então o menino decidiu ir voando para o seu mundo quando de repente, apontou na pista de naves espaciais uma, sozinha, brilhando como uma estrela em meio a chuva. Foi nessa mesma que o menino entrou, crendo que seu bilhete mágico estava com ele. Procurou no primeiro bolso e nada. No segundo e no terceiro e em todos, obtendo o mesmo resultado. E agora? O menino tinha perdido seu bilhete mágico! Desesperou-se e disse para o monstro que pilotava a nave: "Senhor, eu perdi o meu bilhete mágico e não tenho dinheiro". O senhor o pediu para descer, enquanto parava a nave para pegar outro passageiro. O menino insistiu com o piloto sem resultado e foi então que o passageiro que tinha acabado de entrar disse: "Pode seguir, sr. monstro, eu passo o menino" e  tirou um bilhete mágico do bolso e passou o menino na girolândica da nave. O menino que, se descesse ali teria que passar por uma constelação perigosíssima com roubadores de vida e felicidade dos outros, agradeceu muito ao passageiro secreto e ao descer, caiu-lhe a ficha: ele tinha encontrado um anjo. E foi aí que o menino passou a acreditar de novo em anjos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Surto

Escuro. A intuição é quem dita a posição correta do teclado, que faz com que as mãos esverdeadas, iluminadas somente pela luz do monitor, se movimentam com dúvida mas, mesmo assim, confiantes. Como se diz, já que não vai pra lugar nenhum ao contrário, aproveite a oportunidade.
Claro demais, fotografias passam pela cabeça esculhambada e torta daquela deficiente monstruosa. Sua deficiência não chega nem perto da impossibilidade do pensamento convencional ou do movimento de qualquer membro. Sua deficiência se encontra lá, onde ninguém poderia sequer tentar ajudá-la, com tal força e com tal ânimo essa imprudência de sequências e hábitos imprudentes se rebelam contra qualquer forma e coisa.
Mal pode esperar para ver o que acontecerá, afinal o futuro é incerto demais para a criatura que escreve e que tenta descer e chegar em um lugar onde quando estava aqui não chegava. Diga, criança, o que te assusta e lhe direi todas essas coisas, pois o que eu espero, de coração é que se assuste tanto que seus algores e sua pele flácida se descole do resto.