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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Do trombo pro trisco

Do trombo pro trisco.
Trisco, de triscada.
Trombo, de trombada.
O solavanco não há de acontecer,
a energia vital
concentrada em seu lugar.
Vibrará, forte, por sinal,
mas não atravancado,
a sorte há de ser
outro dia,
companheira inseparável.
Há de vir e há de ser.

domingo, 28 de dezembro de 2014

2014

Depois de vários coices
e prova dos latões,
o ano do cavalo
vai diminuindo o passo
num galope maroto
com brisinha de verão.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

cigá

el          
cig          
á          
fa
l
ac
o
n


pano velho. muito pano. muito velhos. mas coloridos, felizes. pele escura, combinativa com os cobres, com as pratas queimadas e com as moedas. cabelo negro, olhos negros, viola negra.
sinto em mim o calor da areia, o roçar do tecido, o amor mal vivido de quem viveu em muitos cantos e morreu na barreira. não faz mal, tem muita estrada pra percorrer ainda, muita estrela pra guiar.
fala o cigano que me guarda.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natal

No Natal,
que antes o menino comemorava com todas as fés reunidas,
 ele ficou sozinho,
por escolha própria,
e percebeu que suas fés não estavam separadas,
mas mais unidas que antes.
Cristo nasceu gordo como Buda
e numa manjedoura do fogo de Xangô.
Na paz, de Krishna.
E nesse caminho,
deixa de ser um para ser poli-menino.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cigarro de páia

Cigarro de páia num salva ninguém.
O que salva é a coroa na cabeça
e sentir frio no coração por alguém.
Cigarro de páia não salva ninguém.
O que salva é o malandro da beira,
que salta fogueira
e manda os trem ruim pro além.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Zé,
amigo preto
que carrego noutro plano
além do coração.
Zé tombado,
juremeiro arretado,
na estrada se criou
depois de fugir
de quem ia fazê-lo mal.
No mar conheceu um povo,
na estrada, outro.
No catimbó mais um
e no sertão alguns.
Zé passou por tudo quanto é lado,
sem casa, sem terra,
Zé andou.
A rua, sua morada,
é de Zé,
que passa de cabeça baixa,
porquê "pobre o ego abaixa".
De mulher Zé conhece,
já ganhou o coração de muitas.
Mas perdeu a vida
por conta de seu próprio sentir.
Amou a mulher certa
que tava com o homem errado.
Zé passou.
Meu amigo,
que me cuida do escuro
e pra luz me leva.
Meu amigo Zé.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Inevejinha barata

Birra, não, né?
Coisa mais ridícula
ficar por aí
aos cantos

esperando que o salvador venha
te tirar dessa insegurança
descarregada em forma de carinha feia
naquele que pra você é ameaça.

Se cuida por aí
fazendo o que tem feito
e o que tem que fazer
não tema

os olhares sutis que te dá
nem os abraços sinceros que você não recebe
por medinho de perder a imunidade
nas escolhas e canto da mesa.

A beleza é maior, de fato
mas o amor é amigo dele
não é amor.
Relaxa e goza.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014




















Foto: Pierre Verger. Recife, PE, 1947-1951.

Me esquece

Me esquece.
Me deixa que hoje tô pra putaria.
Tô pra porta da rua do beco,
tô pra bebiba barata e doce,
tô pro cigarro fino como pro longo.
Me deixa que o carnaval me tomou conta.
Tô pra carne como bicho do mato,
com fome.
Me deixa que hoje tô jogado,
tô nojento,
tô suado e desejoso.
Me larga que o batuque tá levando,
tô sacudido.
Me esquece pra eu te esquecer.
Me larga pra eu conseguir te largar.
Tô sujo mas tô inteiro.
Tô dado mas tô limite.
Tô rua mas tô em casa.
Viva a festa da carne,
o suor do espírito,
a limitação da fala,
o prazer da língua.
Tô prazer.
Me esquece.

sábado, 18 de outubro de 2014

Catu Marota

Entre uma banda e outra,
o disco da dupla "queridinha"
toca no notebook.
Entre um gole e outro,
revelações iluminam a cozinha.
Entre a catuaba e o cigarro,
a vontade do beijo molhado
daquele que parece iluminado
se escancara.
O suor deixa tudo temperado.
E a noite se adentra,
minuto a minuto
na falta dele.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Macumba pra protegido

Fiquei sabendo que ela fez
Macumba pra mim
Mas o que ela não sabia
Protegido eu estava

Do nada ouvi assim:
Ela quis te derrubar
Mandou gente pra te pegar
Mas o que ela não sabia
É que tu é meu fizim

Botou vela vermelha e preta
Cachaça e mal desejo
Pediu que fosse dela
Ou que a morte lhe desse um beijo

Mas o que ela não sabia
Protegido tu estava
O que ela não sabia
Protegido eu estava!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Menos mais amor

Tô amor puro.
Tô frio na barriga,
tô sexo no parque,
tô cheiro de cachaça
e arrependimento.
Tô amor.
Puro acabamento,
foda do eixo.
Amor puro...
desconexo, imprevisível,
risível, até.
Tô amor por um,
por outro,
por todos.
Olhinhos brilham
de tanto amor.
Amor é tantas outras coisas,
menos amor nesse meu peito.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

#011014

Um dia, eu acordei do pesadelo. Meu corpo que antes pairava sobre algum avulso universo, abaixou-se, pesou e respirou. O medo que antes assolava meus pensamentos, impedindo as ações, sumiu, diminuiu. Virou pó de estrela. 
A coragem que agora me empurra, assusta até os mais espertos e observadores. Não sabem como lidar com a força alheia, que confunde, movimenta, questiona. 
Experimentações visuais viram sensações palpáveis, a saudade vira companheira inseparável por opção, a pele sente o sol e o calor dos lugares, observa e absorve. A vibração do corpo se eleva, nas cores e sons que surgem de onde os olhos vêem. 
Ao mesmo tempo, sinto-me acuado, feito cachorro tímido. Cansado. Ou vai ou raxa é o que mais me representa. Os medrosos que me perdoem, mas eu vou nessa, pronto para estar errado no final, afinal.

domingo, 28 de setembro de 2014

Erê mim!

Idu Ará,
a pedra de raio,
que veio pra olhar e adoçar
o caminho do menino.
Filho do rei,
mora num castelo de búzios e fogo.
Seu brado é um arroto.
Arrota porquê não é obrigado.
Criança
que gosta de doce,
que nem todas as outras.
Cabelo enrolado,
Laranjado de cócoras.
Ibeji ôôôô!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Filhos do caçador

Uma cabeça, um turbilhão.
Grande é a mente
do filho da grande mata.
Caçador não perde o foco.
O filho que carrega o arco
tenta botar flecha no alvo.
Erra uma,
erra duas,
mas na terceira tentativa
acerta até a morte.
Ponta aguda,
Mata quem mata.
Filho  do caçador
tem o olhar clínico,
afiado que nem o ofá de seu pai.
Ti!
Energia da coletividade,
por breves momentos
foge da generalização.
Esconde dentre os arbustos.
Filho de Oxóssi se perde na mata,
mas encontra saída
e volta pra casa
trazendo a caça
e a festa dos seus.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014


Esqueceram de mim - O Jogo

Quando me inventaram, devem ter esquecido a sanidade. Ou nos golpes dados sofridos em combate, quem jogava comigo perdeu e feio. Se perdeu na estratégia e no próprio jogo. Enjoou, como se enjoa desses joguinhos sem graça das redes sociais modernas. Mas não excluiu o jogo, deixou lá, a máquina ligada e o cronômetro rodando. Às vezes tenho a impressão de ter sido trocado, mas quem me deixou, esqueceu de resetar o jogo. Me deixou lá, sendo rodado aleatório, pela máquina, naquela lógica de acerto e erros, me forçando a continuar meio a meio, na linha, sem grandes ganhos nem grandes perdas. 

Da arte de não se conhecer e viver bem com isso

Desconfiava,
pela boa moral,
que não carregava expectativa,
nem sonho geral.
Acreditava,
de verdade,
que era leve feito tal
menino pequeno,
sem grandes feitos nem mal.
Desconfiei e acreditei errado.
Era o contrário.
Sou do tipo só expectativa,
alimentando sonhos,
regando possibilidades e
tentando colher fatos.
Acabou.
A realidade me pegou
de um jeito
tão estranho
que a única forma que encontrei
foi esperando mais
daquilo que me pegava
e sonhando
com aquilo que me liberta.
Sou só sonhos e expectativas.

Paô

Trovejou no meu coração.
As vestes vermelhas da realeza que me aquecem.
O duplo corte de seu machado abre com força
os caminhos que percorro.
As lâminas afiadas do oxê de Xangô arrebentam
os maus desejos que vem ao meu encontro.
É na justiça real que espero e repouso.
O fogo que sai de suas narinas e boca
ilumina meus passos e queima todo quebranto,
mau olhado,
demanda que me mandam.
E seu brado anuncia a bonança e a esperança
da vida nova que germina e cresce com a chuva.
Trovejou no meu coração.
 Kawô Kabiecile!

domingo, 7 de setembro de 2014

Você não sabe de nada

-Eu conheço a cultura.
-Conhece nada.
-Meu filho, quem você tá achando que é?
-Cala a boca!
-Cala a boca você!
-Nossa, cala a boca, você não sabe nem o que é trâmite.
-Claro que eu sei.
-Nem sabe, nem sabe o que é trâmite.

-Claro que eu sei o que é trâmis!

A menina, o menino e o outro

A menina balança e sabe que seu encanto ultrapassa a rua mal tratada pelo tempo e descuido permanente. Enquanto seus cabelos voam, em pé no balanço, ela sorri, jogando a cabeça pra trás, deixando sair pela boca uma música tocada por seu encanto.
O menino observa, completamente entorpecido pelo cheiro imaginário da beleza dela. O encanto carregou-o para um filme, coloração cansada, tempo que arrasta, poesia pura.

O outro observa.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A religião, o amor pelo próximo e a auto consciência

Olá, meu nome é Abgail dos Santos. Sou evangélico da Igreja dos Santos Principais Celestes, creio em Jesus Cristo filho de Deus e não creio na mãe dele porquê santo somos nós, filhos de Jesus da minha igreja. Estudo em um colégio público onde muitas pessoas não são da minha igreja, mas todos são cristãos porquê fizemos uma campanha de evangelização onde toda a escola precisava rezar a oração que o Pai nos ensinou todos os dias antes das aulas. E quem levava a Bíblia, o único livro que dá a vida, pra escola, ganhava um ponto na nota em matemática, português e história. Conseguimos também que a professora de ciências/biologia fosse transferida por se recusar a falar que o mundo se formou pelas mãos de Deus e que a mulher veio da costela de Adão.
Conseguimos também, depois de muita luta do povo de Deus, que as religiões do demônio não tivessem vez na escola e nem no meu bairro. Fizemos a guerra santa atual, derrotando o demônio que queria ganhar espaço na rua e na escola. Ninguém mais usa branco nesses lugares porquê assim disse Jesus, o povo de Deus vai ganhar as guerras. Foi preciso que quebrássemos algumas imagens dos demônios que eles chamam de Exu, Oxalá e outros nomes que os negros africanos usavam para denegrir a imagem de Deus Pai Jesus Cristo. 
Agora, quando alguém vê uma imagem que se pareça com os demônios africanos trazidos nos navios na época da colonização (foi por isso que Jesus permitiu que eles fossem escravizados e mortos), formamos um grupo e vamos lá e quebramos em nome do Senhor Jesus. 
Ouço meu pastor em tudo o que ele diz, porquê ele é o enviado de Deus na terra e na minha vida. Não converso com minha irmã de sangue porquê ela foi endemoniada pelo capiroto gay, e nem com minha mãe porquê ela se recusou a obedecer as ordens que meu pai dava pra ela, desobedecendo também a vontade de Deus Jesus Cristo. Não me sinto mal por isso porquê vou me casar no ano que vem com uma mulher de Deus, que ouve tudo o que eu digo e não gosta de sair de casa, fica só pra cuidar de mim e dos filhos que vou fazer nela.
Quando viajo, na fé de meu pai Jesus Cristo Senhor e Salvador, não converso com qualquer pessoa porquê alguém pode ser demonizado e eu não sei. Falo somente com quem tem a bíblia na mão. 
As pessoas pensam que eu forço as outras a serem de Jesus. Não é verdade. A natureza já fez o homem a semelhança de Jesus Cristo, o demônio que confunde a cabeça dos homens (e principalmente das mulheres por serem um sexo mais frágil) e os leva para outras religiões e seitas. O que eu e minha igreja fazemos é resgatar, de volta, almas para Jesus. 
A VERDADE É A BÍBLIA e tudo o que não está nela, tudo o que não for do Cristo Jesus, vai ser excluído e destruído da face da terra. Aleluia!

* esse é um texto de ficção.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Vida

Viver é cagar. E a vida é uma merda. É um saco ter que abaixar as calças, às vezes forçar, limpar depois. Mas o prazer e a necessidade da coisa superam. É a vida.

sábado, 16 de agosto de 2014

Morte

Quando alguém morre vai pra outro lugar. Não acredito que se acabe, mas de uma forma ou de outra, foi embora mesmo, pra um dia, quem sabe, voltar. Minha relação com a morte é bem básica: morreu, foi embora, como alguém ou alguma coisa que sai por aí e não volta mais, como um amor que foi embora e se transformou na capacidade de amar de novo. São tantas mortes diferentes e todas iguais. Quando um relacionamento amoroso acaba, morre ali alguma coisa, alguma parte do coração. Quando a vida acaba, morre ali alguma coisa, alguma parte do coração da gente que fica. Quando alguém vai embora, morre ali alguma coisa, alguma parte da gente. Mas a outra parte, e essa é a maior beleza da morte, que fica, tem sempre a capacidade de reerguer, de aguentar o baque dos sentimentos que sufocam. Quando parte em nós morre, outra vive. Isso é o Deus em nós. Deus está na morte por isso, na contradição que ela cria.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

De repente,
como num repente,
cantou-se rimado.
Desconfigurou moderadamente
o moderno.
Repensa.
Observa a dinâmica,
não entra.
E de fora,
além dos olhares,
reconstitui o Novo Mundo.
A paz que busca, não encontra.
A luz que tem,
guarda.
Não quer mais a vida assim
assim
assim sendo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Pagamento atrasado

Se tem uma coisa que o povo diz e é verdade pura, é que um dia a gente paga por tudo quanto é merda que a gente faz. Um dia é do chute dado, noutro é do chute tomado. Se fez sofrer, vai sofrer depois. Incrível! E às vezes nem demora muito e a vida te dá uma rasteira daquelas de tirar o fôlego, de perder o rumo, de embaçar a vista e amargar a língua. Língua essa que cobra toda e qualquer bobagem, que seja, dita em momentos de raiva ou de sobriedade. Não importa. Se tem outra coisa que o povo diz e é verdade, é que se paga língua. E não é na mesma moeda. Às vezes é mais tranquilo, às vezes é mais doloroso. Mas que se paga, paga. E quando a língua cobra e o mal retorna, o que mais dói é o orgulho, aquele que te fez dizer e fazer tudo que tá voltando. É nele que bate... e o exercício, depois de tudo, é de manter-se no caminho, mesmo sem que dê pra saber onde está. E torcer pra que a praga mal jogada mirre até virar esperança novamente. 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Simplicista

Eu não espero nada demais da vida. E esse é meu problema. Se eu tivesse a ambição dos grandes, talvez fosse aceito. Se eu tivesse a violência dos maiores, talvez eu fosse compreendido. É mais fácil entender os complexos aos simples de espírito.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Até, Suassuna!

Se um dia tive a oportunidade de ler algo maravilhoso, foi da obra de Suassuna. Primeira peça de teatro que eu li na vida, Suassuna. Primeiro sonho de interpretar algo, Suassuna. Primeiro texto que li do vestibular, Suassuna. Primeira peça montada comigo no Guará, Suassuna. Suassuna é meu grande ídolo e, como já imaginava, esse nó que fecha minha garganta não é de despedida, mas de agradecimento. Guardei o desespero até o último momento e agora, que o "único mal irremediável" chegou pra ele, o arrepio é a única coisa que me amedronta. Não é vontade de chorar, se é que me entendem. É uma mistura de arrependimento e de felicidade por tê-lo encontrado há uns meses atrás, pessoalmente. Arrependo de não tê-lo abraçado mais forte. Se bem que com aquela magreza toda, tive medo de quebrá-lo ao meio. Rio. Rio porquê se tem uma coisa que eu acho que Ariano queria que o mundo fizesse era sorrir. Sorrir da desgraça pra vivê-la e vê-la de perto. Árido que só Suassuna, fez em mim sobreviver sonhos irreparáveis, como quando ele, perguntando qual meu personagem da peça e eu dando a resposta, olhando nos meus olhos disse: "O próprio". O sorriso arrastado que ele continuou arrastou o brilho dos meus oculares até hoje. Agora, que o Brasil te agradeça. Que o mundo te agradeça. Eu vou deitar no banco, me cobrir com o lençol e deixar no meu peito o meu eterno obrigado! 
Um beijo e um abraço, Ariano. 

domingo, 20 de julho de 2014

Um ano

Um ano pra reencontrar Oxum,
rever Oxóssi de perto,
sentar no trono de Xangô.
Mas são eles, no meu Ori,
que me ajudam a suportar a saudade.

Dia vinte de julho é dia do amigo


Eu tenho a impressão de que já teve outro dia do amigo esse ano. Ou é o tempo que tá passando rápido demais? Independente se sim, ou não, da outra vez que me disseram (meu calendário não acompanha datas comemorativas, hão de concordar que são muitas pra se lembrar, e minha memória não colabora) não escrevi nada com relação às lembranças passadas com amigos de longe nem com os de perto. Escrevi nada porquê, não sei.
Agora deu vontade, já nos quarenta e cinco do segundo tempo, de falar pra vocês, meus amigos (os mesmos se reconhecerão, com certeza), que os amo e que, mesmo com esse jeito meio sei lá que carrego, levo também um sentimento de gratidão por tê-los conhecido. De uns levo mais que de outros, mas não é do tanto que levo em consideração, mas só do fato de tê-los encontrado.
A pressa de chegar nalgum lugar às vezes cega, embaça a vista e alarga a estrada, muda os caminhos que eu levaria pra reencontrá-los. Aprendi, com a andança, que é assim mesmo. E tem que ser. Um correndo pra um lado, outro parado do outro e um dia, quem sabe a gente se encontra de novo. Quem sabe não, ficamos só ali, no instante eterno do sentimento.
Quero aproveitar e já agradecer também àqueles amigos que acabei de fazer e que, pela insegurança do sentimento ou desacostume de dizer, acabamos ficando só nos olhares mesmo. No entanto, a confiança que carrego é possível ver nos olhos e os insultos que às vezes surgem de um lado ou de outro, significam que sei que poderemos, como os antigos amigos, nos xingarmos e na mesma hora sorrirmos e continuarmos o papo sobre o café que ficou doce demais -tenho a sorte de encontrar amigos que compartilham comigo o gosto por café forte.
Devo agradecer também, pela incerteza do amanhã, aos amigos que o acaso há de colocar no meu caminho (ou vice e versa). Não sei se ano que vem terei a mesma disponibilidade ou vontade de escrever sobre amizade (às vezes, amizade é isso mesmo, é a não vontade de fazer nada e a outra pessoa te entender), aproveito então agora: obrigado você que vai me deixar entrar na sua vida, fazer parte da sua história, comer da sua comida e rir da sua piada.
Nesse dia vinte, um obrigado a você, meu amigo. Obrigado, minha amiga. Tamo junto, mesmo quando separados. Amo você!

sábado, 19 de julho de 2014

Clareou...

Agora, quando as cores estão mais fortes, claridade uniforme, devo concluir que a concentração estava no desfoque do olhar e consequentemente da mente cheia. Agora, que pareço conseguir enxergar alguma coisa, o caminho é longo e o tempo escasso. Quantas voltas deram os ponteiros do relógio enquanto eu me perdia na falta de alguma coisa? Organização é a palavra de ordem para o momento seguinte, próximo d'agora. Há muito o que fazer, muita energia para realizar e um tempo, estipulado por meus desejos. Vamos!

sábado, 28 de junho de 2014

Lis

Antes eu lia.
Se deixassem, lia até pensamento.
Te lia no cheiro diferente,
No nervosismo cabulosamente
Disfarçado.
Agora leio lembranças,
Sossegado no caos.
Tudo pede leitura,
Peço licença pra não ler.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Pra que serve
A arma
Depois
Do tiro
Me acertado?

Protegido está

É Zé Pelintra. É Padilha. É Xangô.
Pai da casa é Oxóssi.
Exu da casa é Balança. É Balança Caixão.
Dama da Noite acompanha
cheia de charme e paixão.
Isso sim é proteção!
Axé!

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Poeminha pra um não poeta

Definitivamente não sou poeta.
Sou aquele que escreve, apenas.
E organiza as palavras como um poema.
Às vezes rima.
Às vezes não.

Saudade

Tenho sentido saudade. Saudade de tudo. Se volto na cabeça a lembrança de um amor, saudade. De outro amor, saudade. De amigos, saudade. Comida, saudade. Sinto saudade até do que estou cheio. Sinto saudade de alguns cheiros. Saudade de ficar quieto. Saudade de não sentir saudade. Saudade descabriada, desorganizada. Sinto saudade de viagens, de gente que veio e foi embora, de gente que veio e ficou. Se fico uma hora sem te ver, saudade. Se estou sozinho no ponto, sinto saudade do ônibus. Falto sentir saudade do motorista. Quando vejo que o motorista não é aquele que estava na linha ontem, saudade. Sei não. Nem entendo. Sinto saudade e esse frio na barriga que ela traz. Saudade das vezes em que as merdas que nos separaram pudessem ter sido repensadas, com paciência. Saudade de não quebrar a cara. Saudade da paciência que eu sentia antes de não sentir tanta saudade. 
Não sei se isso é um pressentimento, uma forma do meu coração se acostumar com o que preparam pra meus pés. Não sei se isso é arrependimento de ter deixado tanta gente ir embora assim, no piscar de olhos. Não sei. Só sei que sentir tanta saudade tem me deixado meio assim assim, mais atencioso, mais curioso, com mais desejo de sentir mais saudade. Sentir tanta saudade tem me instigado a pegar a estrada, fugir pro mundo, experimentar e sentir mais saudade. 
Ê saudade.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Bem que me quis

Eu quis te chamar de Pepe,
um apelidinho carinhoso,
como o faço com quem eu amo,
antes de descobrir que sua tia o fazia há anos.
Quis descobrir nossa ligação,
nossa atenção um com o outro,
essa perdição que sinto nos seus olhos
e nesses lábios de história.
Quis ser feliz contigo,
quis acreditar na possibilidade,
quis o mundo contigo e
quis sumir quando vi a impossibilidade.
Eu quis falar contigo
e te beijar até o próximo por do sol.
Quis te ver,
te escrever poemas.
Quis te dar minha inspiração,
todos os meus sorrisos.
Quis te dar o que nem era meu,
o que os outros tinham me dado e eu esquecido
porquê o querer você era grande.
Te querer.
Quis tanto você que esqueci o que mim queria.
Mim queria se querer.
Parei que te quiser,
mim me quis.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Seus lindos olhos

Você tem um perigo nos olhos
E uma doçura que desconcertam.
Se olho neles, me perco
E me encontro nas suas retinas.
O verde caramelizado me remete ao tempo que não lembro
Doutros lugares que te conheci.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sussurro #1

Eu tenho vontade de falar que sou apaixonado por você toda hora. Acordo com você já acordado em mim... e quando durmo você não dorme na minha cachola.

Entre segundas

Na distância,  a falta surge como vulto. E na saudade, a lembrança diminui o caminho.
São semanas escritas dia a dia. Dias de vontade do carinho. Dias de se perder, pra encontrar no início do final o desejo do perpétuo.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Conselho

Cuide de você, entenda suas capacidades e aperfeiçoe-as. Entenda seus limites e alargue-os. Mas nunca, NUNCA!, meça por suas barreiras os limites e capacidades dos outros. Você não sabe onde o outro pode ir. Seus problemas são seus. O que te incomoda, o que te move, o que te amedronta não incomoda/move/amedronta o outro, supere isso. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

D'onde estou

Nem uma nem outra geração me representa.
Sou o meio termo entre o transgressor e o conservador.
Estou na metade.
Metá metá. Em cima do muro.
De cima do muro vejo as autoafirmações.
Não desejo estar entre tantas pessoas de algum lugar.
Procuro, incessantemente, os sem lugar.
Não enxergo como os outros e não pretendo fazê-lo.
O que sou eu não sei.
A diferença é que não pretendo saber,
não quero saber,
não espero saber.
Em cima do muro venta!
Sou desencontrado de nascença, por natureza.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sagrado #antes de entrar

A sensação é de descompasso.
Mesmo tranquilo,
os passos assumem outros ritmos.
A impressão é em papel sulfite,
colorido mas embaçado.
Como se centenas de pessoas falassem,
gritassem e interferissem,
como pedras no caminho.
Olho pro lado e a estrada também dança.
Profundamente, na tênue memória que me resta
satisfação e ansiedade se revezam,
criando no inconsciente algo muito claro.
Acordando dentro,
mesmo dormindo por parte do caminho,
afinal descansar é preciso.
Aproveito a música e danço.
Me incomodo com muita coisa,
gente que fala,
gente sem confiança,
gente em quem não posso confiar.
Entregar também é preciso e,
de corpo, me encho de espírito.

sábado, 29 de março de 2014

Família de axé

A gente olha pro lado e se encontra nos olhares dos outros,
nos abraços dos outros,
nos sorrisos que os outros dão
só de ver o outro.
A família de axé,
de zambelê.
A crença às vezes não é a mesma,
a fé é!

quinta-feira, 20 de março de 2014

Coisa doida

Cara, que coisa doida.
Frio na barriga é doido demais.
Cabeça doida é frio demais.
Cabeça demais é quente.
Abraço demais é doido.
Doido é abraçar demais.
Doido é ser doido demais.
Frio é não ser doido
ou ser e não manter doido.
Ai ai.

Doido é suspiro.
Doido é grito.
Doido sim. Doído não.

quarta-feira, 19 de março de 2014

A máquina

Mariô.
Nus sonhu du trem
Acontece que ninguém
Tem coráge de falá
Acha jeito de pará
A máquina.
Carona na coisa
Se não a coisa mia.
Bota pra fudê!

terça-feira, 18 de março de 2014

Sonho de cor

Essa noite estive no Afeganistão.
Fazendo o quê?
Sei não.
Tinha dois amigos afegãos,
a irmã de um pai
e as famílias.
Uma paisagem lindíssima
e uma câmera na minha mão.
Acordei sem guardar imagem
além das montanhas,
do pôr do sol
e da vontade.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Estreia no nome

Engraçado demais.
Quando cheguei aqui, esperava coisas. Foi do jeito que esperei. São etapas que eu sabia que exisistiam, mas nem preocupei com quais seriam. Estados não são permanentes e me enxergar nunca foi tão gostoso. Esperava conseguir respeitar e tenho conseguido.
Existem os caminhos. E em sua pluralide, abrem-se.
Desejo o aberto. Quero estar aberto naquele palco. E a insegurança não ajuda. Fingir que tá tudo bem até agora deu certo. Amanhã, quando acordar, depois dos agradecimentos, serei mais ator, por ter tido a oportunidade de estrear no nome da cidade. Goiânia, o teatro.
Merdaaaa!!!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Como está?

Se alguém me pergunta como estou, demoro responder porque nem tudo precisa ser dito. Às vezes (maioria delas, aliás) é melhor deixar como está. Abro um sorriso que não convence os mais atentos e digo o que querem ouvir: "Estou bem!".

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sintomas

Fica um cheiro de falta
Até no nome do bairro
Até nos números da rua
Até nas cores das bermudas simples
Até dos anônimos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Não tenho

Não tenho medo de carro,
Não tenho medo do ridículo,
Não tenho medo de água,
Não tenho medo de abraço,
Nem de beijo,
Nem de afeto.
O que me amedronta é a falta.
A falta de paciência,
A falta de desestrutura,
A falta de sonho,
De ilusões.
O que me treme de medo é
essa história pré contada,
Imaginada por quem sequer vive
e usa palavras difíceis
para falar de saudade,
de amor,
de simplicidade.
Tenho medo de desaparecerem
Os desencontros,
Os platônicos
E as efemeridades reais.
Mais que o ar,
Me sufoca a falta de amar.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Tipos de nós

É engraçado. A garganta tem dois tipos de nós:
1. o nó da tristeza, que vai apertando e sufocando. às vezes, nem abrir o berreiro resolve.
2. nós de expectativa. é o contrário do 1. é quando a felicidade aparece vívida e nem a garganta responde. deu nó de riso!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

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Tem fotografia, tem saudade, tem medo, tem arrependimento, tem desejo, tem tesão. Mantém.
Falta coragem, falta sorriso, falta pele, falta vontade. Retém.
Sobra conselhos, sobra sobras, sobra lembrança. Tem sobra de falta.

Despedida

Nunca fui bom com despedidas.
Falar tchau pesa.
Sempre preferi prolongar o tempo da saudade
e da falta.
Deixar pro tempo aquilo que é dele
e ao homem aquilo que lhe compete.
Tempo, leve logo o fardo da distância.

Fim

Lá no fundo tem uma dor.
Não sei se é saudade adiantada,
se é saudade alongada,
se é falta premeditada.
Ou não sei se é medo de não conseguir ver o final feliz que eu sonhava.
E acreditava.

domingo, 26 de janeiro de 2014

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Um trago.
Na ânsia, não olhou o relógio.
Abriu o guarda-roupa e se vestiu rapidamente com o que estava frente os olhos. Sem escolher cor nem nada.
Abriu a mochila, jogou o que tinha dentro fora, de qualquer jeito e pegou algumas camisetas, uma calça, uma foto e o resto foi lembrança. Na carteira, checou o pouco dinheiro que tinha enquanto trancava a porta e descia a escada. Num rápido "Até mais, 'seu' Barbabé", despediu-se do porteiro.
No celular uma música. No ouvido um fone. Pega um ônibus e na Br-153 pede para parar.
Um carro passa, ele estica as mãos mas o carro não pára. Um caminhão, não pára. Um carro pára. Ele entra.
ELE: Obrigado!
HOMEM: Nada! Vai pra onde?
ELE: Até onde cê puder me levar.
HOMEM: Goiás?
ELE: Velho?
HOMEM: É, pra velha Goiás.
ELE: Ótimo.
Silêncio. A paisagem passa e muda.
HOMEM: Tá sozinho?
ELE: Sou.
HOMEM: Hein?
ELE: Eu SOU sozinho.
HOMEM: Não entendo. É muita gente sozinha. Já é o terceiro que eu dou carona e todos dizem que estão sozinhos, vivem sozinhos...
ELE: Você não é sozinho?
HOMEM: Não.
ELE: Então porquê dá caronas?
HOMEM: Viajar sozinho é chato.
ELE: Ah, você é daqueles que tem medo de ficar só, que tem medo de morrer só. Cara, todo mundo morre só.
HOMEM: Nosso papo terminou aqui.
ELE: Vai me deixar aqui?
HOMEM: Não. Não quero ficar só. Só o papo que termina aqui.
Ele dorme. Acorda com um empurrão.
HOMEM: Chegamos.
ELE: Valeu!
HOMEM: Daqui vai pra onde?
ELE: Não sei. Bora ver.
HOMEM: Boa sorte!
ELE: Boas companhias!
Vira as costas e sai, pelas ruas de pedra da cidade velha. Entra em um boteco e sai com uma água e dois pães de queijo. Pára e pergunta alguma coisa pra alguém, que indica com a mão para uma direção. Ele segue. Rua de pedra, rua de terra, ponte, barulho de água. Num rio, ele chega, senta, bola um, fuma e sai para o mato. Imagens!
Volta e entra no rio. Viaja!
O celular toca.
ELE: Alô! No paraíso. Não, eu quero continuar só!
Escurece.
Fim.
Medo é doença contagiosa.

Aflição

Em tempos de não olhares,
te vejo correndo na rua.
Nem os carros te iluminam, menino.
O reflexo molhado no asfalto
me mostra que choveu.
Choveu, inclusive, pétalas vermelhas
dentro da cabeça incomum do menino.
Pra onde e quê corre,
criatura colocada no mundo
para sentir desejo e só.
Não realiza seus sonhos.
Só realiza seus medos.
Trancafiado em casa,
sabe que não deve sair para a vida.
Qual vida?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Existência

Pensar, pensar, pensar. No movimento repetitivo da vida e na mesmice e percepção rotativa do tempo, nos encontramos na realidade paralela do ser. Todas as semanas têm os mesmos nomes, todos os anos. Todas a horas, de zero a doze, têm o mesmo nome todos os dias da semana, de segunda a sexta. E assim vamos seguindo, sendo enganados de que o tempo existe de fato. A farsa da contemporaneidade não está nas mentiras que nos contam, mas naquelas em que acreditamos. 
Ultimamente, peço a mim mesmo que negue tantas analogias e observações falsas. O verdadeiro que fique, o falso que se revele e que seja transformável. Não tenho necessidade de ser nada, afinal, sei que não sou pouca coisa. Minha necessidade está em poder ser o que já sou e me tornar o que quero ser, não no que querem que eu me torne. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Carnação

Nossa ligação foi escrita no orun,
e no aiyê, os cachos e a cor dos corações
continuam no ritmo dos batuques
celestes.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Goteiras de um ano velho

Até o ano, que mal começou de começar, já disse a que veio.
E eu aqui, nesse receio de lutar.
Medo.
Enquanto todos os sorrisos se aquetam esperando o novo sol sair,
deixo que vazem as águas que antes gotejavam no meu teto emocional.
Ou não deixo.
Medo.