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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

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Tem fotografia, tem saudade, tem medo, tem arrependimento, tem desejo, tem tesão. Mantém.
Falta coragem, falta sorriso, falta pele, falta vontade. Retém.
Sobra conselhos, sobra sobras, sobra lembrança. Tem sobra de falta.

Despedida

Nunca fui bom com despedidas.
Falar tchau pesa.
Sempre preferi prolongar o tempo da saudade
e da falta.
Deixar pro tempo aquilo que é dele
e ao homem aquilo que lhe compete.
Tempo, leve logo o fardo da distância.

Fim

Lá no fundo tem uma dor.
Não sei se é saudade adiantada,
se é saudade alongada,
se é falta premeditada.
Ou não sei se é medo de não conseguir ver o final feliz que eu sonhava.
E acreditava.

domingo, 26 de janeiro de 2014

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Um trago.
Na ânsia, não olhou o relógio.
Abriu o guarda-roupa e se vestiu rapidamente com o que estava frente os olhos. Sem escolher cor nem nada.
Abriu a mochila, jogou o que tinha dentro fora, de qualquer jeito e pegou algumas camisetas, uma calça, uma foto e o resto foi lembrança. Na carteira, checou o pouco dinheiro que tinha enquanto trancava a porta e descia a escada. Num rápido "Até mais, 'seu' Barbabé", despediu-se do porteiro.
No celular uma música. No ouvido um fone. Pega um ônibus e na Br-153 pede para parar.
Um carro passa, ele estica as mãos mas o carro não pára. Um caminhão, não pára. Um carro pára. Ele entra.
ELE: Obrigado!
HOMEM: Nada! Vai pra onde?
ELE: Até onde cê puder me levar.
HOMEM: Goiás?
ELE: Velho?
HOMEM: É, pra velha Goiás.
ELE: Ótimo.
Silêncio. A paisagem passa e muda.
HOMEM: Tá sozinho?
ELE: Sou.
HOMEM: Hein?
ELE: Eu SOU sozinho.
HOMEM: Não entendo. É muita gente sozinha. Já é o terceiro que eu dou carona e todos dizem que estão sozinhos, vivem sozinhos...
ELE: Você não é sozinho?
HOMEM: Não.
ELE: Então porquê dá caronas?
HOMEM: Viajar sozinho é chato.
ELE: Ah, você é daqueles que tem medo de ficar só, que tem medo de morrer só. Cara, todo mundo morre só.
HOMEM: Nosso papo terminou aqui.
ELE: Vai me deixar aqui?
HOMEM: Não. Não quero ficar só. Só o papo que termina aqui.
Ele dorme. Acorda com um empurrão.
HOMEM: Chegamos.
ELE: Valeu!
HOMEM: Daqui vai pra onde?
ELE: Não sei. Bora ver.
HOMEM: Boa sorte!
ELE: Boas companhias!
Vira as costas e sai, pelas ruas de pedra da cidade velha. Entra em um boteco e sai com uma água e dois pães de queijo. Pára e pergunta alguma coisa pra alguém, que indica com a mão para uma direção. Ele segue. Rua de pedra, rua de terra, ponte, barulho de água. Num rio, ele chega, senta, bola um, fuma e sai para o mato. Imagens!
Volta e entra no rio. Viaja!
O celular toca.
ELE: Alô! No paraíso. Não, eu quero continuar só!
Escurece.
Fim.
Medo é doença contagiosa.

Aflição

Em tempos de não olhares,
te vejo correndo na rua.
Nem os carros te iluminam, menino.
O reflexo molhado no asfalto
me mostra que choveu.
Choveu, inclusive, pétalas vermelhas
dentro da cabeça incomum do menino.
Pra onde e quê corre,
criatura colocada no mundo
para sentir desejo e só.
Não realiza seus sonhos.
Só realiza seus medos.
Trancafiado em casa,
sabe que não deve sair para a vida.
Qual vida?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Existência

Pensar, pensar, pensar. No movimento repetitivo da vida e na mesmice e percepção rotativa do tempo, nos encontramos na realidade paralela do ser. Todas as semanas têm os mesmos nomes, todos os anos. Todas a horas, de zero a doze, têm o mesmo nome todos os dias da semana, de segunda a sexta. E assim vamos seguindo, sendo enganados de que o tempo existe de fato. A farsa da contemporaneidade não está nas mentiras que nos contam, mas naquelas em que acreditamos. 
Ultimamente, peço a mim mesmo que negue tantas analogias e observações falsas. O verdadeiro que fique, o falso que se revele e que seja transformável. Não tenho necessidade de ser nada, afinal, sei que não sou pouca coisa. Minha necessidade está em poder ser o que já sou e me tornar o que quero ser, não no que querem que eu me torne. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Carnação

Nossa ligação foi escrita no orun,
e no aiyê, os cachos e a cor dos corações
continuam no ritmo dos batuques
celestes.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Goteiras de um ano velho

Até o ano, que mal começou de começar, já disse a que veio.
E eu aqui, nesse receio de lutar.
Medo.
Enquanto todos os sorrisos se aquetam esperando o novo sol sair,
deixo que vazem as águas que antes gotejavam no meu teto emocional.
Ou não deixo.
Medo.