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terça-feira, 1 de maio de 2012

Carta desabafo após uma apresentação frustrante


Goiânia, 14 de julho de 2011.

Já tinha que ter esperado por esse momento e, mais que esperado, me preparado para o fracasso. Como isso nunca havia passado pela minha cabeça? O Teatro é mesmo uma arte de compensação, no entanto, hoje me pareceu mais uma sacudida. Subir no palco nunca tinha sido tão difícil. Nunca, na minha vida, estive tão deslocado em cima do lugar sagrado, do presbitério da minha alma, da cozinha da minha existência. Como eu não olhei para o público? Como eu não consegui encontrar o canal de energia da platéia com o espetáculo. Espetáculo? Se tiver alguma coisa que não posso chamar aquilo que hoje tive a infelicidade de apresentar é de espetáculo.
Que bom! Já estava quase acreditando que o teatro é a arte da repetição. Não, de longe não é. No teatro, no palco, não nos é permitido o retorno, a repetição. Definitivamente, no teatro não nos cabe o fracasso... Ou tem-se glória ou tem-se preparação para ela. Fracasso não. Nunca. Se ficar ruim, a única coisa que devo fazer é pedir mil perdões a aqueles que compartilharam do meu infeliz momento, da minha falta de capacidade de fazer bem feito aquilo que fiquei tempos ensaiando. Como pude? Como pude? Não sei. Definitivamente não tenho idéia. Não tenho. Deveria ter perguntado se eu podia fazer de novo e tentar dar o meu máximo. Aquele, definitivamente não foi meu máximo. Brincando? Eu estava brincando de ser ator? Cadê meu frio na barriga, meu desejo de estar ali? Não sei onde foi parar minha escolha por essa vida. Naquele momento, o ritmo da minha vida estava descontrolado. E eu? O que eu fiz para perceber isso? De novo o Teatro me ensinou uma coisa; com um cochicho que entrava pela minha garganta abaixo e parava nas minhas entranhas, ele dizia: “Meu filho, isso aqui não é brincadeira, não é guerra de ego, não é tudo aquilo que você pensava. Eu sou coisa séria e, se eu te escolhi, é por que pensei que você tivesse a coragem de se jogar, de não ter medo do ridículo, de se despir da sua vida por completa”. E por fim, o pai Teatro me perguntou: “Onde esteve toda aquela força que há alguns dias atrás te acompanhava?”. Ah, como pude fazer isso com a coisa mais importante na minha vida? Como eu, criança, até então, nascida para estar lá, consegui fazer aquilo? Coisa estranha, sem energia, sem crescimento, sem noção. Este fui eu no palco hoje. Sinto por quem foi me ver no pior dos meus piores dias em cena. Juro que se eu pudesse teria mudado, teria crescido e feito o maior de todos os espetáculos. Mas não consegui e não poderia repetir. Guardo comigo os ensinamentos que o palco de hoje me trouxe e prometo, público, que farei o impossível para nunca mais ser tão medíocre diante de vocês.

Obrigado e perdões, Allan.

Carta de feliz aniversário


Goiânia, 16 de setembro de 2011.

Peão,

eu poderia começar justificando algumas muitas coisas que ficaram subentendidas nas minhas falas e/ou intenções nestes últimos cinco meses, tipo: o porquê d'eu não gostar mais de escrever cartas. No entanto, pensando com meu fone de ouvido (não uso camisa e pensar com botões é monótono), cheguei à conclusão de que a justificativa deveria aparecer nas pequenas coisas, como essa aqui, eu escrevendo uma carta para você. São tantas coisas que me falta assunto e organização mental, mas vamos lá, acho que essa é uma oportunidade única de te mostrar algumas coisas e enfim. 
Para começar mesmo, vamos direto na lição #1: Eu não minto em cartas como não juro por Deus para mentiras e sobre os conteúdos da carta, a primeira resposta tem que ser n'outra carta!  
As próximas lições não estarão numeradas e muito menos definidas, afinal, que graça teria se você não precisasse de mais de uma carta pra me conhecer por completo? Ou me conhecer, somente?
Então... uma das coisas que me faziam não escrever mais cartas é que me fazem pensar muito para o fazer. Comigo isso de sentar e escrever, ultimamente, tem funcionado somente no Twitter. Só entrar lá e ver a qualidade do conteúdo. #Fail, como dizemos por lá. Até que decidi que iria me esforçar um pouco para te escrever uma carta de aniversário. Agora, depois de começar, vi que o esforçar um pouco aconteceu quando eu escrevi a primeira linha da página, a data. Agora já estou no muito esforço. Muito esforço esse que me traz algumas lembranças que se perderam nas brigas que tivemos ou nos caminhos que passamos separados e precisávamos descarregar um pouco pra caminhada se tornar mais leve. Que bobeira, hein!? Que bobeira! Ilusão de ótica, o nome disso. Acha-se que perde, o peso diminui e depois lembra-se de novo. Como nosso cérebro funciona direitinho, não é? Agora, quando relembrei, não são mais lembranças pesadas. As mesmas lembranças que me atrapalhavam caminhar levemente, hoje me empurram para frente. 
Sabe aquele dia em que você estava dopado de ritalina, maconha e cerveja? Foi o dia em que eu estava dopado de cerveja e maconha (infelizmente ainda não conhecia a Ritalina). E mesmo assim, naquele meio tempo a gente se viu, ou melhor, conseguiu se ver. Isso deixou de ser pouco pra mim há muito. Há muito. Outra coisa parece o tempo: é muito e só aumenta, que é meu sentimento por você. Sentimento esse que não precisa de nome, de idade nem de telefone. Ele já tem tudo o que ele precisa, que é um receptor. Então, nem nos preocupemos em tentar encontrar um nome pra esse bebê.
E como essa é uma carta de aniversário, para ela não se tornar tão extensa, escreverei mais dois parágrafos. O início do fim e o fim do começo, se é que compreende minha metáfora pra "começo".
Uma rampa, dois olhares, uma insistência, duas insistências, três insistências, uma ligação, um abraço, algumas contradições, um sentimento. Daí começou a decadência de uma vida, que até então vivia sozinha. Começou-se junto da decadência, a construção, difícil e árdua, de duas vidas, juntinhas. Aí vieram uns amigos, pais e por fim, uma coisa que não sai da minha cabeça: A frase: "Olha lá. Quem são?" A simples e óbvia resposta não conseguiu expressar o que eu senti e o que eu estou sentindo até agora. Não consegui responder pra mim mesmo, e nem preciso, porque quando paro de procurar respostas eu encontro uma fotografia de mim, meu amor e um espelho. 
Enfim. Feliz aniversário, hoje e sempre. Que você encontre toda a importância desta data. Que você reconheça suas fraquezas e escolha se fortalecer. Que saúde seja sinônimo de felicidade e que doença seja sinônimo de força. Que você possa ser o mais feliz possível. E se esse último não for possível mesmo, que você seja o menos triste dos tristes. Um grande beijo e um forte abraço,

Allan