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sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal e Ano Novo

Clareou. Está acabando mais um ano e chegamos no Natal. Eu vejo o Natal como uma época onde os medos que rondaram o ano que passou se esvaem na euforia do feriado. E do Natal para o Ano Novo é um pulo, um tropeço, passamos quase que sem ver essa semana, numa espera absurda pra passarmos logo de ano, pra mudarmos logo de vida (e pra bebermos, ouvirmos música alta até mais tarde e nenhum vizinho reclamar porque eles estão fazendo o mesmo etc.)! É assim, Natal e Ano Novo, mais do que qualquer outra época, são parceiros da esperança, aquela que de tão desgastada só ficou a sombra. E nesse fim de ano desejo a todos os meus amigos uma felicidade enorme, mesmo que a felicidade seja um sentimento tão relativo, e que as nossas esperanças se renovem completamente! 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A penteadeira

Acordei e pensei: eu preciso de uma penteadeira. Andando por aquela rua movimentada, à noitinha, quando as luzes amareladas dos postes ainda disputam brilho com a luz quase finda do sol poente e as luzes vermelhas dos carros fazem fila no sinaleiro, desenhando e colorindo o asfalto molhado da chuva de mais cedo, a vi, ali, na calçada em frente  daquele muquifo. Estava sozinha, como a última a ser lembrada ou a mais difícil de ser carregada: a penteadeira, que, arrebatado pelo amor à primeira vista, já dei logo a característica de "minha". A minha penteadeira foi deixada por último pra que eu a pudesse ver e ter, acreditei. Esperei e logo vi as pernas de um senhor que, ao abaixar pude constatar que era alguém com mais idade (mas que eu já  tinha percebido pelo andar), passou a porta de metal meio-aberta ou meio-fechada, dependendo do ponto de vista. Me apressei logo a dizer que queria aquele móvel. Sem entender muito minha empolgação e olhando nos meus olhos brilhantes, o senhor me perguntou qual o motivo de tanto furor. Respondi: "Eu quero uma penteadeira, pra colocar os potinhos que vieram com felicidade. Aquelas que eu joguei pro alto e abri a boca pra beber, que nem chuva".

domingo, 6 de novembro de 2011

Diga ao Fernando Pessoa que não tenha razão

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Trecho de “Tabacaria”, de Fernando Pessoa.

sábado, 5 de novembro de 2011

Se o menino conseguisse escrever qualquer coisa sobre ele que mudasse o curso da água do rio da sua vida, talvez ele tentasse mais um pouco. Talvez ele mergulhasse ali mesmo, tendo a liberdade de estar consigo mesmo, mesmo que somente num instante dum suspiro, no tempo da falta de respiração agradável. Dentro do menino sufoca. Quem entra tem dificuldade de sair, mesmo que ele queira que não estivesse ali. E o pior, as pessoas tem entrado na vida do menino sem pedir licença, sem nenhuma consideração com aquelas águas, e o menino não quer isso, não quer que sujem suas águas, que marquem suas margens com pegadas... essas pegadas não são apagadas pelo vai-vem das ondas.

Conselho básico

Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar que me faça dormir. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Acordo pela manhã com ótimo humor e não precisa escovar os dentes primeiro. Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza. Tenho vida própria, me faça sentir saudades, conte algumas coisas que me façam rir, mas não conte piadas e nem seja preconceituoso, não perca tempo cultivando este tipo de herança de seus pais. Viaje antes de me conhecer, sofra antes de mim para reconhecer-me um porto, um albergue da juventude. Eu saio em conta, você não gastará muito comigo. Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras, elas serão raras e sempre por uma boa causa. Respeite meu choro, me deixe sozinho, só volte quando eu chamar e, não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariado. (Então fique comigo quando eu chorar, combinado?). Seja mais forte que eu e menos altruísta! Não se vista tão bem… gosto de camisa para fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto: boca, cabelos, a falta de pelos do peito e um joelho esfolado, você tem que se esfolar às vezes, mesmo na sua idade. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a vida doméstica e os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida, não de boate que isto é coisa de gente triste. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça um louco bom, um louco que ache graça em tudo que rime com louco: lobo, bobo, rouco, môco… Goste de música e de nuvem. Goste de um esporte não muito banal. Invente de querer alguns filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua família… isso a gente vê depois… se calhar… Deixa eu dirigir o seu carro, que você adora. Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outros caras, tenha amigos e digam muitas bobagens juntos. NÃO me conte seus segredos… me faça massagem nos pés. Fume, não beba, chore, eleja algumas contravenções. Me rapte! Se nada disso funcionar… experimente me amar!
— adaptação de texto de Martha Medeiros

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Se eu não visse e não ligasse e não estivesse nem aí eu não me entregaria à breguitude do amor, e não seria quem eu sou.

Sinopse

in www.entreversos.tumblr.br, acessado em 01/11/2011



Só uma xícara de café, um masso de cigarros e no som uma baladinha romântica, que combina com a chuva que cai do lado da janela em que ela está sentada.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Vinte minutos depois, ainda aqui, olhando pro teclado pensando: "Por onde começar?" Será que devo começar fechando a aba do YouTube tocando "Farra da Ana", da Banda Tarraxinha?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Como dedicar um livro

Não necessariamente dedica-se um livro com sutileza. Dedica-se um livro com o peso que ele representa pra quem dá... que é, consequentemente o ponto de início do peso que representará pra quem ganhou!

De feliz aniversário!

O que desejar pra alguém que vc só quer o bem? O bem? Pode soar meio falso, preguiçoso e superficial, mas é isso que eu te desejo daqui pra frente: o bem! Beijo, bem.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Do amor em que chegou o menino.

Achei que não seria possível ultrapassar aquilo que sentia. Achei errado e agora estou com um medo desconhecido, anormal. Vontade de voltar e ficar ali, no cantinho até então conhecido e seguro. Segurança é qualquer coisa que vento por essas bandas de cá.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Metáfora das duas portas e considerações sobre

Sem dúvida, pros apaixonados conscientes de primeira viagem, um livro ou um texto sequer com informações básicas de "como manter seu relacionamento mais de quatro meses" -situação até então desconhecida por essa  pessoa que vos escreve- é um pouco necessário. Então, agora que ultrapassei dos quatro, acho que já tenho algumas considerações para passar para aqueles que têm vontade -têm que desejar, que saber, que brigar com a razão, com o orgulho, consigo mesmo- de um relacionamento sério-amoroso.
Tem que fazer como Mart'nália canta em "Pretinhosidade": "Vamos lavar toda a roupa suja e mergulhar de cabeça nos armários da ilusão." Tem que sentar, que conversar, que saber, que falar... que gritar, se necessário, que saber ouvir, que ceder. A partir da minha práxis amorosa, resolvi escrever a parábola das duas portas, que surgiu numa dessas discussões de relação. 'Dê erres' são pra isso, pra tirar as coisas boas e mandar esgoto abaixo aquilo que menos se queria, que mais espinhava. E essas discussões só existem porquê os dois estão dispostos e desejosos de que tudo melhore. Quando não se quer não existe 'dê erre', existe ponto final. 
Enfim, vamos à metáfora...

Duas Portas
Numa rua existiam duas casas onde suas portas, pelo destino, foram colocadas uma bem de frente pra outra. (Imagine, já que daqui por diante trataremos de metáforas e imaginação é uma ferramenta fundamental pra leitura e assimilação da ideia). Seus moradores começaram a perceber o quanto aquilo estava estranho. Quando foram construídas, as duas portas eram deixadas abertas e depois de cinco meses, faltava somente que girassem a chave pra que se trancassem de vez, cada um dentro de sua casa. Assim perceberam:
As portas podem ser fechadas por motivos e situações diversas, desde o vento na rua à vontade própria de fechar-se; e anglos de fechamentos diferentes: às vezes muito, de pouco a pouco, um pouquinho e enfim. A partir daí, entraram num acordo onde, quando uma das portas estivesse se fechando, um iria sair de sua casa e iria na porta do outro, chamaria-o e o avisaria que a porta estava se fechando. Decidiram também que se fosse necessário, se ajudariam para abrirem a porta um do outro. E mesmo que a porta de um deles fosse mais pesada  ou o vento estivesse mais forte que o normal, fariam força e juntos abririam a porta. O segredo, pros dois, foi não deixar as portas fechadas, pra que se vissem sempre, mesmo em tempos de chuva onde não era agradável ir na rua ou pra que a qualquer hora eles pudessem entrar na casa um do outro pra tomar um café, fumar um cigarro e conversarem.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu quero outro FICA, outro reino, outra tarefa que me tire das costas o peso de ter que ser gente grande. Ser menino sempre foi bom demais!

domingo, 21 de agosto de 2011

Um bar, três adultos, um bêbado e um menino de vinte anos.

Sair pra fumar um cigarro nunca representou tanta aventura como ontem. Num boteco que não é de esquina, mas que tem aparência, sentei. Não saí com amigos. Comecei a socializar. No fim da noite, de madrugada, lá estava eu, com uma mulher viajada, um advogado frustrado e um bêbado. Recebíamos, de vez em quando, a visita ilustre do dono do recinto, que se sentava na nossa mesa e comentava com humor os assuntos loucos que os quatro comentavam. Pronto.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sugestões Para Atravessar Agosto

Eu gosto de agosto, meu aniversário é em agosto. Mas concordo que não é um mês fácil para a maioria mortal. 

Sugestões Para Atravessar Agosto


Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade… Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.
(ABREU, CAIO FERNANDO --- O Estado de São Paulo, 06/08/95)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Lista de coisas que preciso fazer antes de morrer.

Eu decidi fazer uma lista minha, depois de ler várias listas por aí de conselhos de coisas que devemos fazer antes de morrer. Pensei, pensei, pensei na primeira coisa da minha lista e cheguei a uma conclusão:
1. Tentar fazer uma lista.
2. Desistir de seguir listas.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fragmentos

Somos personalidades diferentes, com a superfície enganada pela coincidência de sermos do mesmo signo.

Não posso devolver seu coração porque estamos de corações trocados.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pode nomear.

Uma pessoa fala, a outra concorda, balança a cabeça, como se já tivesse sentido essa coisa difícil até de saber se existe que é o amor. Ah, o amor... se existe eu não sei, e eu deixo pra você que está lendo aqui nomear meus sintomas: sem chão, sem ar, ser hora, sem outras vontades, frio na barriga, suspiros lentos e suspirados, vontade, vontade, vontade.

sábado, 25 de junho de 2011

No beco eu chorei


Em vez de sentar e chorar pelas pedras do caminho, coloquei outras pedras e ali, no beco, ao me forçar não dizer a maioria das coisas que eu sentia de verdade e que já estavam preparadas para serem externalizadas... chorei. No beco eu chorei por me juntar ao núcleo dos covardes, por não dizer que amava, por não pedir desculpas, por não pedir paciência e por não aceitar que eu realmente queria mudar. 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pseudo-intelectual

Eu não li nem dez dos grandes clássicos, não assisto todos os filmes que os cultos falam para eu assistir. Para falar a verdade, não assisto nem a metade dos filmes que tenho para ver. Eu repito. Repito os livros, repito os filmes. Só não tenho repetido algumas coisas que eu fazia mas que eu vi que não compensam.  Então, eu não posso ser chamado de culto, de inteligente, de esperto, de interessante. Normal, sou eu. Sei um pouco de arquitetura, sei um pouco de teatro, sei um pouco de música (menos que o resto), sei um pouco de artes plásticas, política, sociologia, filosofia... e não sei separar uma coisa da outra. Sou um pseudo-intelectual, na verdade. Acho que é esse mesmo o termo que usam para pessoas como eu.
Se eu acho bonito ser assim? Parece que eu escrevi a fim de julgar se é legal, bonito, fácil, difícil? Não. Eu não escrevi para isso. Mas quer saber? Quer mesmo saber? Meu discurso não pode ser, nem de longe, algo fechado que te faz mudar de ideia, que te convença... desde que eu não queira, claro. 

terça-feira, 31 de maio de 2011

Entre livros, filmes e ações pela metade

Chega de baixar filmes e não ver, pegar livros e não ler, começar e não fazer... no entanto, o menino não pensa em deixar de olhar algumas cenas aleatórias, folhear as páginas e parar nas que tem imagens e pensar até desistir. São nos meios que os processos do menino se processam. São nos meios das cenas, das páginas dos livros, dos atos infindos. 

Adoros

Eu adoro ficar olhando você e ver que você insisti em tentar não olhar e você olhar e ficar sem graça e quando você troca sem graça por constrangido ("eu fico constrangido com você me olhando"). Eu adoro quando você encaixa minha mão na sua e eu fico sempre mais confiante em você. E eu adoro sentir um frio na barriga sempre que recebo um beijo e adoro todas as vezes que nos tocamos, beijamos e acarinhamos serem como se fossem a primeira vez. Adoro alimentar todos os dias as minhas borboletas no estômago e adoro criá-las e cuidar delas porquê eu sempre lembro de você quando eu as sinto. Adoro sentir saudade e um apertinho no peito todas as vezes que ficamos algumas horas separados. Adoro sonhar com você sempre que ficamos juntos ou separados e adoro ter você em todo e qualquer sonho meu. Adoro te ver chegando e ouvir o interfone tocar e atender e ser você. Adoro quando eu ouço sua voz no telefone, meio apreensiva meio doce. Adoro ouvir você falar da sua mãe com tanto carinho e amor. Adoro quando você deixa eu cuidar de você e quando eu faço chá pra você beber. Adoro sentir preguiça quando você quer sair mas sempre sair com você. Eu adoro sair com você e ver que você está se divertido. Eu adoro me divertir com você e adoro pegar ônibus na mesma hora que você e adoro o modo como os nossos ônibus saem na mesma hora do terminal. Eu adoro estar com você e adoro a maneira que você demonstra não querendo demonstrar o que você sente. E adoro me esforçar mais um pouco e descobrir que você gosta de mim porquê você falou que gostava de mim. Adoro quando eu estou quieto no meu canto e você vem me dar um beijo e me olha com aquela cara amarrada que você tem. Eu adoro sua cara amarrada. Adoro quando você me manda um vídeo do youtube pelo MSN e não diz mais nada e eu ouço duas vezes pra ver se tem qualquer mensagem que possa ser pra mim. Eu adoro quando você fica sem graça quando temos que nos despedir no meio da rua e adoro ficar sem graça junto contigo nessa situação. Eu adoro pensar que minha lista de coisas que eu adoro entre nós vai crescer. E eu adoro já ter um final escrito, independente do tanto de eus adoros anteriores: Eu adoro você.

Coisas que o menino vê

Caminhando entre a vontade de ter sempre nas mãos uma câmera que conseguisse capturar qualquer imagem da mesma maneira que seus olhos vêem. Uma máquina de reproduzir carinho. E uma máquina, enfim, que fizesse entregas a domicílio, em todos os países existentes, em tocas, casas, cavernas, fossas e em qualquer lugar que qualquer pessoa possa receber. O menino não vê as coisas mais lindas do mundo e nem a solução para toda e qualquer coisa... mas promete, quando alguém criar essas coisas e se não for muito caro,  mandar todas as melhores imagens dele. Ele vê coisas boas e por isso encontra pessoas pra chamá-lo de sonhador. "Sonhador o cacete! Eu sou é realista. Eu estou vendo!", diz o menino.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cérebro x Coração

Há um tempo eu poderia vestir minha armadura e ir à guerra contra alguém que tentasse desafiar e/ou colocar em cheque a minha visão de mundo e, principalmente, a minha visão de mim mesmo. Brigaria com espadas, se preciso. Perfuraria o coração alheio sem dó nem piedade. Perfuraria até meu coração na tentativa de manter ilesa a minha dignidade de realmente saber de alguma coisa, de ter certeza de qualquer coisa que no fim, não contribuía tanto quanto eu precisava.
Hoje os tempos são outros e junto com o outono posterior veio a incerteza de tudo. As bases do meu castelo se esfarelaram como pão velho e lá se foram todos os troféis ganhos nas guerras anteriores. Hei de lembrar algum dia daqueles momentos... e não sei, mas penso que hei de me arrepender profundamente de não ter tentado nem mais um pouco. De não ter aberto mão de uma quase-certeza (vejo o que eram hoje. Na época, lembro-me: não haviam certezas mais certas que aquelas) pras coisas que aqueles outros corações tinham pra me dizer. Nas últimas guerras assumo que fui responsável por várias vítimas. Mas assumo, aqui, que a maior vítima foi esta que vos fala.
Não sei. Só sei que depois desse outono há de vir um inverno, outro inverno. Um verão. Outro verão! E assim, o tempo há de passar e eu hei de passar com ele, sem mais certezas, sem mais guerras comigo mesmo e contra corações alheios. O que eu mais tenho quisto são cafunés na cabeça que ajudam a aquecer o coração. E tenho quisto poder aquecer o coração alheio com o que mais tenho a oferecer: amor!
Ah, o amor... neste tempo atual descobri que ceder à vontade do meu coração é o que mais me deixa feliz. E nem me sobra tempo para medir se é certo ou errado. Descobrir? Espero morrer sem saber dessa!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Meninopassarinho

O menino olhou pela janela 
esperando ver mais que pessoas. 
Como esperou, 
viu um passarinho.

terça-feira, 19 de abril de 2011

sábado, 2 de abril de 2011

Lembrança da fazenda do meu avô

Saudade da fazenda do meu avô e das coisas que eu fazia por lá.
Da "rodoviária".
Dos pés de goiaba.
Das quedas de pés de manga.
Das mangas.
Bananas. Caju.
Das vacas.
Do curral.
Das cavalgadas.
Das pedrinhas, cachoeirinha.
Das coisas que eu fazia por lá.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Des(organizando) as linhas da memória

A vida passa por caminhos que nem sempre são seguidos pelas pernas da emoção. Ou são e não consigo perceber o quão são necessários e sensíveis. Tento, de um jeito ou de outro, reviver o passado, viver o presente e construir um futuro que não ignore que meu corpo é um contador de histórias por natureza, uma esponja que guarda coisas que nem eu, morador dele, sei AINDA!

Ato Criação

Começa sempre com uma ideia, que crescendo vai, na linha do tempo e do desenvolvimento das ações que, ao mesmo tempo que a formam, a transformam, reconstruindo outra imagem, outro movimento no tempo e no espaço que de presentes já viraram passado e são buscados num futuro mais próximo ou mais distante, sempre reconquistados por outras ações.
De ação em ação, a rede de relacionamentos íntimos, entre células e sentimentos, vai sendo formada, de maneira que são construídas várias possibilidades. Adrenalina e memória.
O redescobrir do ser, o rasgar das couraças, a abertura plena da emoção, o amor que rola pelo maior órgão do ser humano, afetando o que tem dentro e fora, temperando quem se atreve a dividir corações.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CONSELHO sobre MIM

Nunca confie em mim. Sou demais pra eu mesmo. E quem é demais pra si normalmente é POUCO demais pros outros. Ou não.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Três atores e seus objetos mágicos

A conheceu B na faculdade. Antes de começarem as aulas, numa das provas de ingresso. Sem saber se entrariam ou não, com as esperanças um tanto quanto abaladas, fizeram um vínculo sincero, sem qualquer tipo de certeza oral. Passou-se o tempo e passaram no vestibular. Passou-se mais um tempo e esse vínculo foi ficando cadavez mais forte e, profissionalmente, o respeito crescera a tal ponto que um se tornou fã do outro. Os segredos começaram a surgir, a vida pessoal e profissional começou a se juntar de tal maneira que, quando começavam a falar das coisas de família já entrava o assunto da profissão que tinham escolhido.
Falavam de medo, angústia, alegrias, medo de novo. O medo sempre foi um sentimento presente na vida dos dois indivíduos. Outro sentimento que não faltava era o amor. A aprendeu, nesse tempo de convivência e troca de experiências que somente o amor é capaz de anular o medo, de tornar qualquer sentimento tão pequeno a ponto de torná-lo insensível. E assim, continuaram na caminhada de formação...
Sempre gostaram de alguns objetos, de alguns brinquedos. Em primeiro lugar os livros. Sempre guardavam livros na cabeceira, na mochila, debaixo do braço, nas mãos. Às vezes nem os liam, mas os guardavam. A aprendeu outra coisa: que todas as pessoas precisam andar com um livro, eles conseguem ensinar muitas coisas mesmo sem serem abertos, principalmente o fato de você poder abrí-lo a qualquer momento e aprender mais um pouco.
Tem também os cigarros, que dispensam comentários. Talvez sejam os melhores amigos da dupla A e B. Onde vão, carregam consigo aquele objetozinho pequeno e tão fodidamente maléfico à saúde. A e B ainda não se preocupavam com isso. E talvez demore um grande tempo até que se preocupem e cessem por ali mesmo a relação íntima e amorosa com o Marlboro Light e Dunhil.
Outro objeto, este o mais mágico de todos para a dupla, é o palco. A pede licença para subir e B gosta de estar nele. Nenhum dos dois, ou A, principalmente, não consegue nem explicar o que sente quando está, mesmo de passagem, sobre um palco. Vazio ou não, o palco é a coisa mais impressionante, mais apaixonante, mais amada pela dupla A e B.
A garrafa de café, presente nas casas dos dois, é, quando se juntam (principalmente quando C está presente), o objeto mais usado pelos três. C está nesta história desde o começo dela, mas nas férias das aulas ele fica meio que ausente, por isso não está mais presente. Contudo, posso afirmar que o único objeto que não faz mais parte da vida de C é o cigarro, de nenhum tipo, o resto, os três se parecem muito. E se não fossem tão diferentes, não seriam o trio A, B e C.
A gosta de escrever, B gosta de falar. A ainda tem uma paciência, B vive sem paciência. A ri muito, B prefere sorrir somente quando não consegue segurar o riso. A faz questão de ser legal, B faz questão de que pensem que não é tão legal assim. E C fica no meio dos dois, fazendo o balanceamento e tantando mostrar que as coisas são muito bonitas, além de reclamar um pouco, gongar as coleguinhas. Os três gostam de soltar veneno, de vez em quando, pra se vingarem de quem também faz isso sem dó nem piedade!
A ama B e C. E ele sabe que é recíproco!