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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A penteadeira

Acordei e pensei: eu preciso de uma penteadeira. Andando por aquela rua movimentada, à noitinha, quando as luzes amareladas dos postes ainda disputam brilho com a luz quase finda do sol poente e as luzes vermelhas dos carros fazem fila no sinaleiro, desenhando e colorindo o asfalto molhado da chuva de mais cedo, a vi, ali, na calçada em frente  daquele muquifo. Estava sozinha, como a última a ser lembrada ou a mais difícil de ser carregada: a penteadeira, que, arrebatado pelo amor à primeira vista, já dei logo a característica de "minha". A minha penteadeira foi deixada por último pra que eu a pudesse ver e ter, acreditei. Esperei e logo vi as pernas de um senhor que, ao abaixar pude constatar que era alguém com mais idade (mas que eu já  tinha percebido pelo andar), passou a porta de metal meio-aberta ou meio-fechada, dependendo do ponto de vista. Me apressei logo a dizer que queria aquele móvel. Sem entender muito minha empolgação e olhando nos meus olhos brilhantes, o senhor me perguntou qual o motivo de tanto furor. Respondi: "Eu quero uma penteadeira, pra colocar os potinhos que vieram com felicidade. Aquelas que eu joguei pro alto e abri a boca pra beber, que nem chuva".

Um comentário:

  1. O bom de ler os textos que você escreve e que sempre consigo escutar sua voz, como nos filmes e novelas, como se você estivesse contando a historia ao meu lado!

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