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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Já sem conseguir suportar. Grande demais o sentimento de homem!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ao lugar d'onde sou sem ter nascido nele

Fica-te Goiânia,
prenda-me em teus braços quentes,
e não deixa-me por outros lugares.
Guarda-me em teu coração e em tua memória
onde nada me apague de ser seu filhoamante.
O faça, pois não conseguirei,
mesmo nas demasiadas estradas latinas,
perdido me lembrarei de ti, Goiânia!

Entre rios e janeiros existe você

Perdi.
Se foi pra sempre eu não sei.
Até agora tem sido.
O mar que te acompanhe e te guarde,
enquanto no sertão me viro entre os sóis
...e os erres puxados.
Quem sabe um dia o sertão vire mar
e nas ondas você seja trazido de volta?
Quem sabe tudo se falicite
e eu te reencontre pelas minas
que um dia nos achamos?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Passei um bom tempo sem passar por aqui. As coisas andavam um tanto quanto corridas, bagunçadas: a cama, o guarda-roupa, a casa, a vida... Tudo foi acontecendo e eu decidi segurar-me pra não ir junto. Queria mesmo era ficar por aqui, aproveitando o tempo seco, as chuvas repentinas avisadas por trovões que soavam longe e a minha cama, colinho. Quando vi já tava em crise. De novo em crise. Criiiseeeeees de identidade, CPF e tudo quanto há documentos que comprovem que eu sou eu mesmo. Será que sou? Enfim, sem perguntas que me comprometam ou que me façam pensar demais na vida, que de prática já tem a prática de vivê-la.
Agora é diferente: feliz pra caralho! E numa vontade de botar esse sentimento todo em saquinhos e distribuir pras pessoas, como em festa de Cosme e Damião. Ainda não consigo fazer isso. Talvez daqui alguns vários anos, consigam colocar a felicidade dentro de qualquer chocolate desses que existem, e assim, poderemos comê-los sem o peso na consciência de que aquela fuga será passageira.

sábado, 25 de setembro de 2010

Avohai na cabeça do menino

Eu via o velho, de longe, correndo debaixo do sol e em cima do sal. Com tudo longo, botas, barbas. Onde suas armas ficavam... Indiscritivelmente meu pai.
Hoje ele permanece na minha cabeça, na minha memória. Algo às vezes o neblina, como cortina.
O melhor, sabido. Que nem o terço brilhando entre os dedos de minha vó. Junto de pai. Nunca durmi só. Deus sempre estava comigo.
Pai era assim, de jeito calado, parecia emburrado com qualquer coisa que a gente nunca sabia. Um dia sempre tive a vontade de perguntar pra ele. Difícil, era fechado. Uma mémoria que ninguém discutia, parecia elefante. Me falaram que elefante que é assim, não esquece. Pai não esquecia nunca. Passava a Quaresma esperando, moleque mulinando, mechendo, trocando de trás da casa. E pai ali, calado como sempre. Em dia de aleluia ia batendo com um galho de tamarindo e dizendo: “Subiu na vaca... matou a rolinha... comeu carne... xingou a mãe de Pião”. Eu nunca gostei dos peões que trabalhavam em casa. De vez em quando os via de graça pra cima de minha irmã e eu sempre fui ciumento. Já vi que ciume é pecado e doença. Vou fazer o quê? Deixa a menina sair com um e com outro? Deixo não. Não deixo mesmo!
Já ouvi histórias daqui que ninguém sabe se é verdade. Personagens que vem e vão na cabeça desse povo que não tem onde cair morto. Uns até cantam enquanto os meninos dançam. Eu lembro, quando pequeno, de uns causos que contavam na porta da igreja, quando aqui ainda tinha padre. E hoje não tem padre, não tem freira, não tem tia, tio. Nem avô aqui tem. Só eu fiquei por aqui, esperando que pai volte pra me buscar. Mas sei que pai não vem, que nunca vem me buscar. E eu? Eu fico por aqui e calado, que essa história já me cansei de entristecer de contar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O poder da bermuda

Tenho alguns amigos que fazem moda, entre meninos e meninas despojadas e que aceitam as diferenças, que me mostraram teoricamente o quanto a roupa que usamos é cultural e enfim. Mas eu ainda não tinha pensado sobre isso com tanto afinco, uma vez que nunca me fora exigido nada do tipo, principalmente por estudar numa universidade federal no curso de Teatro, onde nunca tenha sofrido nenhum tipo de preconceito com o tipo de roupa que uso. Mesmo porque não uso nada estranho ou extravagante a ponto de, numa faculdade de artes, estranharem o que uso. 
Mas fora de lá as coisas são diferentes - e muito -. Não me lembro de ter comentado aqui, mas ultimamente nas minhas horas vagas sou funcionário público. Na minha repartição, de pessoas sérias e gente-boas, trabalham, entre homens e mulheres, cerca de 15 pessoas. É legal trabalhar aqui (estou no trabalho agora), lidar com todo tipo de gente (contribuintes) e tal. Mas é complicado pensar nisso tudo com liberdade, tem-se um sistema a ser seguido e uma forma de trabalho tradicional, quase que passados de geração em geração, em cima daquela tradição esquematizada (não dizendo carteziana, para não contrariar meu amigo Marcos Pantaleão).
Não há o respeito pelo corpo, pela pessoa. Não há a consciência de que as coisas tem mudado e principalmente na forma de vermos a nossa cultura. Goiás é um estado quente, extremamente seco nesse tempo e ainda vejo pessoas com terno e gravata no meio da rua (e aqui no serviço também), como se vivessem em um lugar que fosse, pelo menos, úmido. Mas não, ficam como geléias derretendo debaixo do sol por conta de uma coisinha que chamam: status roupal (eu inventei isso agora, confesso).
Hoje criei coragem e vim de bermuda pro serviço. Uma bermuda jeans até o joelho, clássica, sem nada, sem nenhum bolso fora do lugar e que me custou um tanto bom do meu salário. Comentários surgiram mas nenhum maldoso. Mas ainda é interessante ver como preferem derreter ou sofrer com calor (pra ser menos dramático) a abrir mão de uma recepção desnecessária sobre aquilo que chamamos bons modos. Bons modos é me respeitar.
Eu nem fiz isso conscientemente, esse negócio de usar bermuda pra vir trabalhar. Eu vesti e vim, sabendo que é um estilo de bermuda que não agride nenhum pudor ou nada nas outras pessoas. E faço um apelo aqui: pelo amor de meu Jesus Cristim, observe esse sol, esse calor, esse clima e pense comigo: não dá pra entrar numa calça e fingir que minhas pernas não estão suando como tampa de marmita, me causando coceira e carocinhos pela perna toda.
Aliás, que poder é esse que tem uma bermuda? Que mal tem usar uma bermuda, num tempo quente e seco, que não agride nem o gosto pessoal de cada um? O que isso muda na minha forma de trabalho ou em quem eu sou? Não estou mostrando nada mais que minhas canelas e, algumas vezes, dependendo de como me sento, meus joelhos surrados? Desculpa quem devo desculpar, mas não dá pra fingir que o mundo lá fora está acabando em fogo e sair coberto de casa...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Humano, demasiado humano

Esses tempos tenho pensado mais em mim que nas outras coisas e pessoas. Mas é inevitável o quanto as coisas e as pessoas interferem na minha pessoa. Impossível fazer uma avaliação de mim sem considerar quem faz parte da minha vida, quem passou pelos meus caminhos, as coisas que tenho e que quero ter. Definitivamente é impossível, IMPOSSÍVEL querer estar só no mundo. Tudo interfere e está conosco, fisicamente ou não.
Essas interferências que me preocupam, porque sinto e vejo que estou mudando pra uma forma que me preocupa. Estou tendo claras evidências de que os sonhos são tão distantes que normalmente somente serão realizados por pouquíssimos. Ah! os sonhos. Que são os sonhos senão uma interferência externa e cultural a partir de um sentimento que, provavelmete, foi induzido a você? 
Vai entender. Vai entender essa cultura generalizada, que não observa o indivíduo - e quem o faz corre sérios riscos em conviver com a exclusão - e que reforça as relações por interesse, razas e vazias de afetividade. Na verdade a afetividade já é um sentimento que não se deve sentir nesses tempos e, quando se tem, é necessária a discrição, a forma menor de declaração pública. Isso tudo porque tem-se tanto medo de ficar para trás que começa-se uma cruzada contra quem gosta, confundido com os famosos puxas-saco. Portanto, sentir carinho por alguém é puxar-saco. Não pode!
A única coisa que me incomoda profundamente nessa porra toda é essa situação até constrangedora de não podermos ser amigos ou sentir afeto por alguém que, por exemplo, tenha mais grana e/ou status que eu. Que porra é essa?
E eu ainda arrisco a dizer que os fatos que chegaram a esse ponto de reconhecimento foram solidificados pelas pessoas que são invejosas e precisam de um álibi, de uma desculpa (essa é esfarrapada,diga-se de passagem) para serem lembradas e esquecidas ao mesmo tempo. Lembradas de lembradas mesmo e esquecidas no sentido de não serem reconhecidas como os "puxas". Vááá!
Na verdade tem coisa demais me enchendo o saco nessa sociedade de merda. Mas o problema é que eu sou a sociedade. kkkkkkkkk Aiai, humano, demasiado humano.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aniversário

Hoje, no dia do meu aniversário, resolvi escrever sobre o poder que tem esse diazinho. Tudo bem, pode ter sido convencionalizado pelos capitalistas que queriam vender mais presentes, pode ser uma coisa ou outra, mas isso já ultrapassou os limites sociais e capitalistas, eu acho. Todas as pessoas esperam mais do dia e época após o aniversário que do ano novo ou das eleições. As coisas melhoram, pelo menos em parte. É um tempo em que as esperanças se renovam, muito, a ponto de nos fazerem ser sem nunca ter sido.
Nunca fui uma pessoa que gostasse muito de aniversário, essas coisas. São datas comemorativas que implicam uma certa efusividade, forçam um tratamento especial por parte de algumas pessoas com relação ao aniversariante. Portanto, tenho reconhecido que no dia do seu aniversário saem "te amo"s de pessoas que você sabe que sentem mas que nunca tinham tido oportunidade pra isso. É quando pessoas de longe te ligam ou lembram de você (depois do Orkut então, fica bem mais fácil lembrar).
Ser aniversariante demanda de você uma energia extra. São tantas perguntas, desejos, recados, e-mails, abraços e beijos que, mesmo cansado, no final do dia as coisas se reorganizam e você diz: "hoje sim, eu fui uma celebridade"!
Contudo, há pessoas que não tem dia de aniversário. Se isso não acontecer por causa da cultura a que o implica, hoje, no dia do meu aniversário, faço uma prece, um desejo: Senhor, que todas as pessoas da Terra possam ser felizes, possam ser amadas fisicamente, que tenham força pra lutar por seus sonhos, que não precisem ficar correndo atrás de coisas fúteis e que busquem o amor incondicional por seu próximo sempre. E, mais ainda, que um dia o encontrem! Amém!

domingo, 22 de agosto de 2010

Desabafo de um meio banguela

Sabe quando você sai pra dançar, rever os amigos, conversar e quebra um dente? Pois é, não né!? Essas coisas só acontecem comigo mesmo, eu acho. Ontem resolvi sair do casulo, arrumei e fui prum barzinho que é mais boate, sei lá, chamam isso de pub, né!? Um amigo desajeitado me meteu o relógio na boca, pronto, metade de um dos meus dentes da frente foi pro chão. Ou melhor, foi parar na minha língua. Cuspi e aceitei o fato de que isso não acontece sempre e um dia eu poderei contar pros meus netos: Olha, filhinho, não dance perto de quem é louco. Bom conselho, bom conselho!
Ando meio desligado mesmo. As coisas não estão muito organizadas por aqui não. Ando caindo demais, batendo a cabeça em lugares impensáveis, demais. Só pra você entender do que eu tô falando: ontem fui arrumar um edredom no meu guarda-roupa na parte baixa do monstro (o guarda-roupa). Fui levantar e meti a cabeça num lugar que eu nem sei explicar, não era maior que nada, não tava fora do lugar, eu só sei que doeu pra caraalho. E essas coisas acontecem e eu rio, vou fazer o que? É divertido ser desastrado. Mas o Hudson conseguiu ser mais que eu: quebrou meu dente!
Hoje eu amanheci meio banguela e com uma vontade de gritar o que eu tenho quisto há um tempo. Acordei meio manhoso e mimado, querendo as coisas na hora. Eu acho até saudável, de vez em quando, querer as coisas na hora. Não entendo porque a gente precisa de tempo pra casar, pra ter filhos, pra viajar, pra morar no exterior. Ok, eu entendo! Mas eu quero e quero AGORAAAA!
Eu quero AGORA pegar um avião e chegar AGORA em NY, passear pela Broadway, AGORA! Quero ter um filho AGORA (pra que esperar 9 meses de gestação, meu pai? Sofre quem espera e o pobrezinho lá dentro). Eu quero tudo. E quero AGORA!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vida Moderna

Essa vida de pedir tempo pro tempo chama-se vida moderna. Tenho separado alguns sintomas do tempo moderno. Alguns deles são: olheira e cegueira. Os dois afetam os olhos, as "janelas da alma". Nossa alma fica perdida no corrido tempo, paramos de ver, somente olhamos.

"Amigo

Aqui tá tão corrido
Mas fazer o quê?
Parece que a gente gosta de correr
Correr atrás do prejuízo
Correr perigo
Correr do inimigo

Correr da chuva
Correr no sol
Correr do tempo que não pára de correr
Na São Silvestre, no Ibirapuera
No Villa Lobos
Na passeata pela PAZ
Correr demais
Pra ver se uma hora ou agora
A PAZ repara e para tudo que não cessa
Que não cansa de correr"
(Parque da Paz, de Ceumar)

sábado, 14 de agosto de 2010

Desejo e caminhada

Eu sempre tive a certeza de que as coisas que acreditamos firmemente são a força motora pra nossa sobrevivência na terra. Talvez sim, talvez não. As coisas, definitivamente, não são tão fáceis como eu imagino. Não mesmo!
Mas continuo acreditando que a auto-confiança humilde está a frente de qualquer passo que possamos dar. Às vezes só nos é necessário acreditar que tudo vai dar certo e com muito estudo e perseverança as coisas vão tomando seus rumos e se organizando. São Francisco se não me engano disse: "Faça primeiro o possível e quando ver estará fazendo o impossível". É algo como isso. Portanto, o segredo é nunca parar de caminhar e de acreditar. Como eu, todos da galáxia temos o poder de mudar o mundo, o nosso mundo. Nada é estático e não podemos ser também!
Nesse ano de política acredito que a coisa certa será feita. Estou estudando os fatos, sendo realista e acreditando que, mesmo sofrendo agora, mais na frente terei força e motivos pra dizer: EU FIZ A DIFERENÇA.
Quando eu morrer posso até não estar apto para dizer que mudei o mundo. Mas também não poderei falar que não desejei isso e nem tentei. Porque eu tento, todos os dias, ter o mundo comigo!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sábias Palavras

"Allan, você precisa firmar. A gente apega com as pessoas! Você tá que nem com os peixes (relacionando com o fato de eles sempre morrerem rápido). Você só vai firmar um relacionamento com uma pessoa quando seus peixinhos durarem muito tempo".

Yullia

O que fazer, agora? Rir! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um retorno sem nunca ter ido antes

Só agradeço pela maravilha de passeio. Pirenópolis-GO!

rock street
Sara Joplin

Ioga

Um resumo de Shakespeare

Uma pitada de drama,
outra de amor.
Um tanto de lágrimas e
sorrisos.
Um tempo que não se reconhece,
ou até demais.
Mas sem NUNCA perder a poesia.

sábado, 24 de julho de 2010

Se o Papa lhes usasse o banheiro...

Uma história sobre sonhos... e outros milagres.

E mesmo que conte a história real de uma tremenda falta de sorte... falta de sorte é não ter alguém que, mesmo depois do desastre que fizera, ainda te abraça nas futuras ideias.

El Baño del Papa (Brasil / Uruguai / França , 2007), filme dirigido por Henrique Fernádez e César Charlone, conta a história de Beto, um uruguaio residente em Melo (UY), 'bagayero' que vive a trocar mercadorias pela fronteira. Em 1988, quando o Papa João Paulo II vem visitar sua cidade, tem a ideia de construir um banheiro para que os peregrinos de outras regiões possam utilizar, pagando pelo serviço.
Como Beto, várias outras famílias investiram em negócios para o dia da visita de João Paulo II, principalmente comes e bebes. Esperavam cerca de 50.000 pessoas, principalmente brasileiros. Que frustração! Por que? "Até os dias de hoje, a data simboliza a maior calamidade econômica na memória dos habitantes do vilarejo.  Toda a comida e bebida não foram consumidas e, portanto foram doadas ou simplesmente desperdiçadas". Somente cerca de 8.000 pessoas foram ao evento.
Não gosto de filmes que me fazem ficar com raiva ou coisa do tipo, mas esse... 
Faltando cerca de 5 minutos para terminar o filme, a história muda de rumo e mostra que, nos momentos mais difíceis, nas horas mais preocupantes, sempre acontece um milagre. E mesmo que passe despercebido, sempre houve esperança e amor.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Simplesmente Amélie

"San toi, les émotions d aujouvid' Rui me servient que la peau morte des émotions d'autrefois" HIPOLITO

Não tenho cacife pra falar sobre o trabalho técnico do diretor, nem tenho coragem de arriscar qualquer dica sobre a atuação dos artistas nesse filme. A única coisa que me restou, senão, é afirmar que ela realmente muda sua vida! Amélie Poulain...
São tantas as mensagens e tantos os sinais que o filme mostra. É uma constante nostalgia e, ao mesmo tempo, um passeio pelo futuro próximo. As cores, sempre variando entre os extremos do claro e do escuro, do forte e do fraco, do drama e da comédia, unidas ao som implacável de uma trilha impecável e, sobretudo, inspiradora. 
O roteiro está no equilíbrio perfeito entre os extremos da existência humana. Como o universo shakespeareano, o de Amélie vai da dor ao amor em questão de segundos, fazendo-nos, sempre, ir das lágrimas a maior gargalhada em pouco tempo, que dá a impressão de ser muito tempo. 
E quero, definitivamente, ter um fabuloso destino, assim como o de Amélie. Coisa que tem que ser construída, passo a passo e nas pequenas coisas e escolhas ser mudada.

"Sem você, a emoção de hoje seria pele morta da emoção do passado"
HIPÓLITO

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Volta ao Mundo

Meu roteiro, imaginário, que seja, pela volta ao mundo.

Eu vou sair do Brasil,
passando por lugares que não existem, tipo o Acre.
Daqui pra Colômbia,
correr pelas platações de coca.
Deve ser interessantíssimo ver uma plantação de bebidas!
De lá, vou pro Panamá,
virarei Rodrigo. -Não me chame de Juca ou coisa assim, quando eu estiver no Panamá-
Bastidas será meu sobrenome.
Rodrigo Bastidas viajará por toda a costa caribenha.
Virarei garimpeiro na Costa Rica.
Serei freira em Nicarágua e mergulhador das Honduras.
Me tornarei Jesus em El Salvador, plantarei bananas na Guatemala e
cuidarei de uma Igreja, nas planícies mexicanas, que vai ter o nome de Maria de Guadalupe.
Virarei artista nos EUA. Dançarino no Canadá e urso polar no Alasca.
Fingirei minha morte e
fugirei para Cuba.
Virarei cubano para sempre.
Serei o amante de Fidel, que não demora
bate as botas.
Tomarei-o o posto e libertarei o país.
Depois disso, serei pedreiro no Haiti e dançarino profissional provisiório de merengue na República Dominicana.
Vou ser ameríndio na Venezuela, pescador na Guiana, professor de neerlandês no Suriname.
Gastarei meus Euros na Guiana Francesa...
Volto pro Brasil, pego você (pronto!) e vamos juntos pro Uruguai, virar cantores de cabaré,
Bailarinos de tango na Argentina, atores de teatro de rua no Chile, criadores de lhamas na Bolívia e guias turísticos no Peru.
Seremos grandes tartarugas no Equador, dragões nos Galápagos e focas na Antártida.
Depois pensei em ir pra Coréia do Norte. Nos tornaremos Mao e libertaremos o país.
De lá, viraremos monges budistas na Índia, vendedores de burca no Afeganistão e de kilt na Escócia,
Cleópatra e Gizé no Egito, ultramaratonistas no Marrocos, e gays em Uganda.
Serei um senhor girafa viciado em remédios e você uma zebra em Madagascar.
Trabalharemos numa multinacional na China e viraremos mangás ninjas super poderosos contra o mal no Japão.
Nos formaremos em super espiões contra a grande fúria dos caçadores de recompensa na Rússia.
Vikings mafiosos na Itália, judeus na Espanha e ortodoxos na Turquia. Fugiremos, depois, com seus amigos turcos e viraremos islãs.
Vamos à Inglaterra, virar pops e trabalhar num bar subterrâneo em Londres.
Seremos o braço direito do papa no Vaticano, meninas de vitrine em Amsterdam. Seremos pintores do muro de Berlim, na Alemanha...

Agradecimentos
Mariana Tagliari, obrigado por me acompanhar nessa!!! Fellipe Paulo, valeu pelas dicas de países...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

JUCA INDICA - El Cuarteto de Nos

A banda uruguaia El Cuarteto de Nos surgiu em 1984. De lá pra cá, já gravaram 11 discos e ganharam 4 discos de platina e 6 de ouro com a venda dos mesmos. Se tornou a banda mais popular do Uruguai com o disco "Otra navidad en las trincheras". Hoje estão em uma situação parecida, com o disco "Raro", que já superou, também o disco de platina.
Do último disco da banda, indico, principalmente as faixas: "Nada es gratis en la vida", "Yendo a la casa de Damián", "Pobre papá", "Ya no sé qué hacer conmigo" (a melhor!)... ok! Ouça o disco todo. 

Capa do cd "Raro"


Vídeo clip da música "Nada es gratis en la vida"

Website oficial da banda: http://www.cuartetodenos.com.uy/

Preguiça

Desperte da preguiça!! São conselhos dados por meus pais pra mim há tempos. Encontramos na Bíblia várias passagens que nos alertam sobre o perigo da prostração. Se não creres em Jesus Cristo, Kant já deu esse mesmo conselho. Se não gosta do Kant também... Aaaaaaaaaaah! Vá dormir!

Pela muita preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa.
(Eclesiastes 10, 18)

Preguiça e covardia são as razões de a maior parte da humanidade, de bom grado, viver como menor durante toda a sua vida, mesmo depois de a natureza a muito tempo ter livrado-a de guias externos. Preguiça e covardia demonstram porque é tão fácil para alguns se manterem como tutores.
(Immanuel Kant, em "O que é Esclarecimento?" (1784))

Agradecimento

Sem dúvida alguma, não posso negar o amor de Deus para conosco, humanidade. No momento em que nasci já tinha, estipulado em meu histórico futuro de vida, quem seriam meus parentes. Sem poder escolher o que tivesse mais dinheiro ou o que me puxasse mais saco, nasci! Agora, quando já tomei mais consciência de quem sou e de quem são aqueles que estão do meu lado, sei o quanto tive sorte de não poder escolher 'os de sangue'. A sabedoria do Pai me deixa constrangido e feliz. Eu não poderia ter melhores pais, avós e tios, com certeza não. Não poderia ter melhores anjos!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu não sei o que fazer comigo

Em frente a questão "Ser ou não ser", me pergunto: "Sou ou não sou?". Encontrei uma música ("Ya no sé qué hacer conmigo" - El Cuarteto de Nos) que define, em partes, ao menos, o que sucede comigo!! Não sei bem se sou; mas isso vem depois. O que pega agora é: o que eu farei comigo?

Y oigo una voz que dice sin razón
"Vos siempre cambiando, ya no cambiás más"
y yo estoy cada vez más igual
Ya no se que hacer conmigo.

Coisa da Bravo! e Almir de Freitas

Coisa boa, quase sempre, como essa:
em: http://bravonline.abril.com.br/blog/blog_almir.shtml

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um mar quase que não pra peixe

Desde sempre fui um curioso nato, principalmente por coisas vivas. Minha paixão por bixo vem daí, eu acho. De tanto querer saber como eles viviam e tals, fui aprofundando na vontade de ter um zoológico. Sempre quis ter um zoo, até tomar consciência do sofrimento dos bixinhos trancados e desistir, em partes, dessa vontade. (Deve ser triste ficar trancado, mesmo em segurança. O bom mesmo é ser selvagem e correr atrás da comida - coisas que precisamos pra viver -)
Essa curiosidade me levou a ter uma paixão especial por peixes. Eu não conseguia imaginar como aqueles bixinhos conseguiam viver debaixo d'água. Era um mistério pra mim (até hoje o é, um pouco, já que não sei exatamente como funcionam as brânquias). E fui crescendo e tendo vontade de criar um peixe, aliás, um aquário cheio deles.
Meus pais me falavam que eu não conseguia cuidar nem de mim (acho que deva ser por conta que eu sumi uma lente de contato no segundo dia de uso ou pelo fato de eu sempre estar com um ralado, corte, ematoma) quanto mais de um peixe. É claro que eu acreditava conseguir criar um peixe...
Até que, aos 19 anos, ganhei, de uma amiga, a Mariana Peixoto, o meu primeiro peixe. Um beta, azul, novinho, o qual nomeei de Rodolfo. Ele era uma graça! Tava até ensinando-o a dar beijinho no aquário quando eu aparecia com a cara perto. Rodolfo aprendia as coisas rápido, por fim, já sabia beijar (eu acho que a boca dele já parecia de beijoqueiro mesmo, mas eu prefiro acreditar que eu conseguí ensiná-lo alguma coisa).
Um dia eu cheguei em casa (2 semanas depois de ter ganhado - aprendi que é 'ganhado' quando o sentido da palavra for "ter" e/ou "haver" - o Rodolfo) e o Rodolfo tava morto. Mortinho da silva. Aí eu botei a culpa na Yullia (que tem um post pra ela aqui), que dava comida pro bixim aos montes. Penso que ela achava que peixe come que nem gente. Doida!
Fiquei um tempo sem peixe algum até que ganhei outros. Agora eram três! 2 morreram logo no primeiro dia de estada em casa. Puta que pariiiiiiiiiiiiooooo (desculpa!), como assim?! Já? E pra piorar, meus pais estavam aqui em casa na época. Ouvia todo dia: "O que restou vai morrer. Tadinho, Allan. Solta ele"! Mas pensa comigo: Soltar onde, meu Pai? Se eu soltar um peixe desse tamanho (deve ter uns 3cm) no Meia-ponte (rio perto de casa) ele vai morrer de qualquer jeito. Ou comido, ou sufocado pela poluição. E se eu soltá-lo no vaso (como me mandaram) ele ia morrer na merda, definitivo e literalmente!
Comecei a acreditar que meu mar não era pra peixe, meeesmo. Nomeei o sobrevivente de Baleiro, por causa do show do Zeca Baleiro que eu fui no dia em que ele passou sem morrer.
Uma coisa: Baleiro está vivo até hoje. Descobri que ele gosta de massa, então o alimento todo dia com pão. E troco a água de dois em dois dias.
Falando nisso, ainda não o alimentei hoje e tem um tempo que não troco a água dele. Deixa eu ir lá, antes que... credo!

sábado, 17 de julho de 2010

Uma nota rápida sobre rodoviárias

                                                                            Pessoas esperam seus ônibus em rodoviária de Palmeirópolis, no Tocantins

As rodoviárias são como se fizessem vários edifícios COPAM pelo Brasil a fora. Os tipos de pessoas, de diferentes classes sociais e lugares. Uma vez estava indo pra Eunápolis - BA de São Paulo, e passamos numa cidadezinha que não me lembro o nome. Tinha uma pedra enorme (mas gigante mesmo) assim de longe e não paramos numa rodoviária propriamente dita. Era uma rua de terra vermelha (muito vermelha!), um restaurante bem baiano (mas bem baiano mesmo!), das paredes feitas de táboas e a visão em frente ao dito restaurante era um pasto (acho que tinham até algumas vacas). Voltando à comparação com o projeto arquitetônico assinado por Niemeyer: tinham de gringo a goiano (eu) naquela restauviária. Eu sei que os meus argumentos não são tão convincentes (na comparação do COPAM com rodoviárias), mas isso se explica por eu nunca ter ido ao edifício.
Meu avô tinha uma fazenda no meio das serras sulinas do Tocantins (Não tem tanto glamour e nem nada demais nessas serras, fora a visão estonteante, um vento na cara e esse nome inventado que eu dei. Mas era bonito, bonito mesmo). A gente ia, subindo e descendo serra (a cavalo ou a pé que não tinha estrada para carros como Fiats Uno) até que chegávamos numa rodoviária, no meio do mato. Um dia eu falo sobre aquela rodoviária, afinal ela merece um post só para ela e quando eu escrever entenderão o porquê.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

"Você está proibido de ser miserável"*

                                                                                Foto retirada do site http://tinyurl.com/27fwrkr

Hoje estive lendo uma matéria na Carta Capital sobre o tratamento que moradores de rua estão tendo em alguns bairros de, principalmente, São Paulo.
Gentrificação e "higienização" são termos utilizados na matéria e dizem respeito a tais situações. Medidas públicas que são tomadas para a 'eliminação' de moradores de rua em certas regiões de grandes cidades. A vontade de 'limpeza' desses bairros para que se tornem mais valorizados.
Quando estive em São Paulo para a Virada Cultural 2010 fiquei espantado com o número de moradores de rua, que, ou por coincidência ou por força maior, se instalaram em massa na Rua Gusmões, próxima à Av. São João (no núcleo do evento). Fiquei instalado em um hotel ali naquela rua e, era constrangedor observar a situação daquelas pessoas. Misturados a turistas e "com-tetos", os que viviam na rua tinham uma relação entre si ativa e pareciam realmente almas penadas (que assustam).
De pessoas loucas, famintas, drogadas a gente simples e bem humorada se via ali. Triste! Muito triste ter que passar por lá e perceber o descaso em que estão sujeitos.
Queria ter uma máquina fotográfica em mãos para mostrar o que não sai da minha cabeça até hoje: a imagem de um menino de, aproximadamente 10 anos, lavando o rosto, logo pela manhã em uma poça de água de esgoto. A água tinha um mal cheiro terrível que eu sentia do outro lado da rua.

* Marcel Bursztyn, na matéria da Revista Carta Capital**
** O link da matéria "Uma coligação higienista - Índio da Costa, a lei antiesmola e a restrição a mendigos em São Paulo ", por Cynara Menezes: http://tinyurl.com/3a2e7bj

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Juca indica

                                                                                                                                        Foto retirada do site da banda

A banda estadunidense Dashboard Confessional é liderada pelo compositor e guitarrista Chris Carrabba. Integrada por Carrabba, John Lefler, Scott Shoenbeck e Mike Marsh, D.C. já conquistou prêmios e fãs around the world
Você ouviu alguma coisa deles se assitiu filmes como Shrek 2 e Homem-Aranha 2, por exemplo!
Fica aí a dica...



terça-feira, 13 de julho de 2010

Quando fui viajar de avião pela primeira vez


Diário pré-viagem: alguns conselhos e coisas importantes a serem lembradas
Penso que isso deve acontecer com todas as pessoas que vão viajar pela primeira vez de avião, de classe média muito baixa aos ricos: ficar imaginando como serão as aeromoças, a comida, a visão lá de cima, os aeroportos, os acentos, que nos ônibus são dois pares separados por um corredor e no avião (descobri quando fui comprar as passagens) são dois trios separados por um corredor. Na verdade eu já havia visto em filmes essa disposição, mas vai saber se é verdade mesmo né!?
Desde pequeno eu tinha vontade de viajar de avião, mas sabia que isso demoraria pelo menos uns 18 anos (como está acontecendo). Meus pais não tinham grana pra ficarmos nesse luxo de avião pra cá, pra lá. Era no busão mesmo. Um dia e meio de viagem pra andar 700 quilômetros. Não estou reclamando, eu até gosto de conhecer rodoviárias.
Algumas coisas faziam com que eu não tenha andado de avião antes dos 18 anos: em Palmeirópolis (cidade de 10 mil habitantes localizada no sul do Tocantins que eu passava férias. Todas férias!) não tinha aeroporto (e continua não tendo) e minha mãe arrepia só de pensar que há a possibilidade de ela andar de avião, mesmo morta. Isso tudo fora a principal questão: eu não sou rico. E eu até mereço – e agradeço – não ser rico. Eu não nasci pra ser rico. Uma consideração que prova isso: eu não durmo na minha cama box de casal - ela é fria e grande demais -.
Quando meu pai foi transferido de Brasília para Miracema no Tocantins, a empresa pagaria nossas passagens de avião (Bsb até Palmas). Uhul né!? Uma chance bacana, afinal deve dar umas 3 horas de viagem. Rrum, minha mãe arrumou tanta desculpa que por fim eu fiquei convencido de que a experiência de voar seria pior que andar 400 horas de ônibus (não dava isso tudo não, mas convenhamos que a sensação “temporal” é de bem isso mesmo).
Quando eu fosse andar de avião pela primeira vez queria ir, pelo menos, do Rio Grande do Sul ao Acre, em classe executiva, direto, pra poder aproveitar o avião. Agora vou de Brasília pra São Luís, com escala em Marabá e conexão em Belém (em classe econômica). São 5 horas de vôo, mais ou menos, e umas 6 só de espera (risos quase desesperados). Mas tudo bem, vou poder conhecer o aeroporto de Belém de madrugada (2 da manhã). Uai, quase ninguém tem esse privilégio.
Sobre as malas: eu sempre gostei de ser prevenido em relação ao que levar pra viagens. Não levo 200 malas como minha irmã, mas acho que todo mundo merece levar uma mala com mais de 23 kg sem pagar por bagagem extra quando se ultrapassa esse peso. Mas é legal que isso tá me fazendo reduzir o peso da bolsa, que, diga-se de passagem, já é pesada mesmo vazia. E o medo de não reconhecer minha mala e pegar a mala errada? Essa noite eu sonhei que fui pegar minha mala na esteira (que a gente vê em filmes) e escorreguei, caí na esteira, fui preso... Impressionante que quando a gente fica muito ansioso pra fazer alguma coisa a gente paga tanto mico em sonho que Deus me livre.
Eu estava conversando (sobre a viagem é claro) com um amigo do vôlei e ele disse: “Você vai de avião grande ou pequeno?”, daí eu disse que imaginava que seria grande pela lonjura do trajeto. Ele falou que era mais legal por causa das turbulências (eu nem quis saber o que ele falou depois). Conselho #1: Quando você conversar com uma pessoa que nunca andou de avião, pelo amor de Cristo, não toque em assunto de acidente de Air France; de Gol com Legacy ou turbulências. Mas se esse papo for inevitável, por favor, relembre da menina de 14 anos que sobreviveu à queda daquele Boeing no Oceano Índico.
Vacinas: Eu viajaria na quarta, quando no domingo anterior meu pai me perguntou se eu já tinha me vacinado. Cara, vacinado contra o que? Sei lá uai, e até hoje eu não sei. Ah, só porque eu estou indo pra um lugar que tem casos (vários casos) de malária e febre amarela e que acabou de sofrer enchentes (que contribuem para a propagação de doenças)? E eu fiquei preocupado principalmente por causa da gripe suína (que recebeu o nome, o complicado e bonito nome de Influenza A (H1N1). É importante ressaltar que o “H1N1” é escrito entre parênteses), afinal a vacina dela está prevista para dezembro, ainda. Na verdade eu deveria me preocupar com a malária que nem tem vacina. Conselho #2: Antes de perguntar para uma pessoa que vai viajar se ela tem todas as vacinas, procure saber antes se ela conseguirá se vacinar até a data da viagem. Se não, deixe que ela viaje sem o peso na consciência de que poderá voltar doente, se voltar.
Espero que as coisas que eu penso automaticamente não sejam tão influenciáveis. Numa das horas de escovar os dentes eu tive um pensamento, desses abruptos. Pensei no avião subindo e eu segurando os dois braços da poltrona e de uma vez soltando um grito, tipo daqueles de montanha russa, sabe!? Aném, ia ser mico demais!
Não é que eu esteja querendo ser um segundo Shakespeare, mas o que eu escreverei a seguir é pura verdade: não pense que tudo que lerá sobre viagens de avião te ajudará ou que você se lembrará de tudo na hora que, principalmente, estiver arrumando as malas. Ou pense que sim, não siga o meu conselho de ignorar essa possibilidade e seja feliz. É que eu tenho a dificuldade, a real dificuldade, de fazer as coisas todas certas. Não sei, mas algo tem que dar errado. E eu nem preciso dizer que eu prefiro que algo dê errado, nunca as coisas deram tudo certo.
Boa viagem!!! (Esse desejo vale pra mim também. É um desejo próprio, de mim pra eu mesmo).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Viver é um terror

O terror é uma mesclagem dos sentimentos de perda e ganho sem certeza. Quando não sabe se vai ganhar e corre o risco de perder, chega o terror.
Viver é estar numa linha tênue, sempre correndo esses dois riscos. Viver é um constante terror. Contudo, faz-se presente a necessidade de se aterrorizar sempre, pra sair do lugar. Acaba que tudo se torna deliciosamente aterrorizante!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Coisas que o homem precisa passar

ser pessoa quando ninguém mais o seja
ser guia quando a humanidade perdida esteja
estar atento quando forem só trevas
ficar sedento quando o amor já não anima

sentir fome de prazer quando sedentos
sentir frio quando sem abraço esteja
amar coração sem amor
e por isso, soltar lágrimas de dor

ser humano é uma responsabilidade
não tem nada a ver com a idade
é tudo uma questão de sensibilidade:
se sou eu, devo ser o outro, tudo junto e misturado.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Amores de uma mulher

Há tantos amores na vida de uma mulher! Aos quatro anos, ama-se a natureza, o pai. Os rosas que brilham, os saltos de senhoritas; aos dez, ama-se o menino que brinca conosco; aos treze, ama-se o homem bonito e charmoso, americano, molhado, dos filmes.
Quase me senti mal quando vi pela primeira vez o rosto molhado de um homem que estava por sair da piscina. Por fim, aos catorze ou quinze anos, ama-se um jovem que vem a nossa casa, e que é um pouco mais que um irmão, menos que um amante; depois, aos dezesseis anos, ama-se um outro homem, até aos vinte e cinco; depois, talvez se ame o homem com quem casamos, quando casamos. Cinco anos mais tarde, ama-se o cavalheiro que cedera o assento para que se sentasse; por fim, aos trinta e seis, ama-se a deputação, a especulação, as honrarias; aos cinquenta, ama-se o crítico do livro que escrevera; aos sessenta, ama-se a lembrança daquilo que era amor. Não será assim?
Porque eu passei por todos esses amores; não todos, porém, porque não vivi todos os meus anos, e cada ano, na vida de muitas mulheres, é marcado por uma paixão nova, paixão dos homens, do rosa, do salto, do bichinho de estimação, do livro, da posição. Quantas loucuras há numa mulher! Oh! não há a menor dúvida de que os escritos de Virginia Woolf não são mais variados do que as loucuras do espírito humano, e ambos chegam ao mesmo resultado: ficarem paradas, esperando que algum cavalheiro se apresente, o que não acontece faculmente, e que o dinheiro com a venda do livro dê, ao menos, para pagar o cigarro que fumam.
 
Adaptação de “Memórias de um Louco”, de Gustave Flaubert.

domingo, 30 de maio de 2010

Quando concebida, a mulher

Entre prazer e gemidos constrangedores. Entre ranger de dentes e olhos virados, entre barulhos de madeira se chocando, entre sorrisos e “eus” te amo, entre displicência e acaso, entre fazer sem pensar, um feixe de luz surgiu, quando as letras se encontraram. Uma força que ninguém sabe de onde veio, apareceu. A claridade foi aumentando, e aumentando, e aumentando, até que pordia-se dar como pronta a primeira célula da mulher, até então girino. Ela, ali, era um girino humano, pronto para começar a desenvolver-se, a crescer. Biologicamente a mulher começara sua vida, contínua e movimentada vida. Com um pouco mais de paciência, crescia, estava começando a ser mais alguma coisa. Não podia ser considerada um alguém, ou podia, mas ela não entendia porque estava ali, nem se lembraria, mais tarde, de que passara por aquele processo todo. De união, de luz, de desenvolvimento embrionário, como se estudam nos laboratórios de biologia, pelo mundo afora. A mulher, inclusive, nunca quis pensar em como fora concebida, mas era inevitável que, de vez em quando, sua dúvida era tão grande que ela procurava no mais íntimo de sua memória o como aquilo havia acontecido. Encontrou algumas informações básicas, mas a única certeza de que tinha é que tinha acontecido. Ela era um fato! Um fato cheio de outros fatos, que vinham de outros fatos. Um acontecimento. O acontecimento do século fora aquela mulher. A concepção daquele ser.
Depois de ser luz, passou a ser matéria. Tão pequena matéria. Um átomo insignificante. Ela foi a prova de que não precisa ser alto para ser grande. Era grande a força interna que aquele ser minúsculo fazia, que quem a carregava, pessoa que mais tarde chamaria de mãe, sentiu. Foram duas semanas até que a mãe da mulher percebesse que carregara algo mais que vísceras em sua barriga. Foi confundida com lumbriga, com gastrite, com todas doenças estomacais, inclusive aquela que chamam de susto e medo. Foi a primeira vez que a mulher fizera alguém chorar. Com apenas pouquíssimo tempo de desenvolvimento na bolha, a mulher já tinha feito alguém chorar. E, sem dó nem piedade, a mulher não soltou uma lágrima de dentro da bolsa.
Crescer e se desenvolver era difícil para a mulher, pois sempre, todos os dias ela sentia um gosto amargo como féu, um cheiro horroroso, que depois, mais tarde, quando alta, viria a sentir de novo e reconhecera o sabor e o odor do anti-bebê. Junto com o gosto do remédio, sentiu o gosto da tristeza, o gosto da repulsa, o gosto de ser rejeitada. A mulher fora rejeitada e ali, naquele instante da frente temporal, estava ela, rejeitando. Brincadeira da vida ou não, a mulher não sabia o que fazer diante de tal situação. Ficou sem saber. Ela nunca soube das situações, mesmo.
Céluas cresciam, dois milagres da vida vinham acontecendo ao mesmo tempo: a repulsa de alguém alto e a perseverança de alguém grande redondinho. Era um girino mostrando que queria viver. A mulher, quando alta, ao relembrar de tal teimosia em continuar viva, brigou consigo mesma, pois deveria ter se rendido ao anti-bebê. Pensava ela que teria sido bem menos difícil se tivesse aceitado deixar de existir ali, no instante em que alguém não queria que ela existisse. Mas naquele momento ela queria continuar seu desenvolvimento, ao contrário de quando alta, que rezava para o nada, todos os dias, todas as horas, todos os momentos, pedindo que deixassem que ela parasse de caminhar.
Foram alguns meses de agonia. Quatro para ser mais exato. Depois do quarto mês de tentativas frustradas por parte da mãe em cessá-la, desistiu, pois por mais que a mãe da mulher não quisesse o girino, ela ainda se queria. Egoísmo humano, que, tempo mais tarde, a mulher se viu egoísta também. “Será genético?” Pensou. E como todos os outros seres de sua espécie, aceitou o fato de que sim. A culpa não era dela, mas daquela que a passara tal característica. A mulher, em sua cabeça, não tinha culpa de nada. Só de ter aceitado a condição de continuar desenvolvendo... (Continua)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Consequências do amor

Um dia acordei e,
ao olhar pela janela,
reparei em quanto o sol estava mais lindo.
Depois, quando sai de casa,
até a asa do bem-te-vi tava mais amarela.
Continuei indo...
e o céu me olhava, com aqueles olhos verdes.
E descobri que era o amor que me fazia ver assim!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O menino e o Amor

O amor, que surgiu com os mirantes verdes de outrem, trouxe um medo de se render à sintonia. Meio assustado e feliz com essa situação, o menino decidiu se jogar do andar mais alto desse sentimento. Sem para-quedas, a sensação de insegurança ainda é menor que as borboletas em seu estômago. "Ai! Esperança de Quintana, leva-me pelos ares de todos os meses, de todos os anos". Perdido, o menino ainda sente o desejo de que seja eterno, pelo menos, enquanto dure.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Green Eyes

Vi o branco da tela, olhei para o lado, acendi um cigarro e no final da última tragada, lembrei daquela cena. Meus membros inferiores deram sinal, tremeram, pararam. E o superior, do meio do peito, estupefado de emoção, lembrou, sorriu e não parou. Involuntários e santos movimentos do coração.

sábado, 1 de maio de 2010

A Perda do Domingo

O menino se chamava Francisco. Era um nome normal, pra aquela época a qual ele vivia.
Ia às celebrações religiosas matinais, com sua mãe. Quando voltava, pelas ruas estreitas, quase vielas, de sua cidadezinha interiorana, Francisco gostava de imaginar como seriam aqueles quase-becos cheios de gente. Gente era o que Francisco menos via. Ele gostava mesmo era de olhar os animais. Sempre que passava pelos paralelepípedos da Rua Dica, observava cada janela grande. Eram tão coloridas, e fechadas. Observava que sempre, em todas elas, tinham caminhos de cupins. "Um dia aquilo tudo havia de cair", sussurrava Francisco, sem deixar que sua mãe o pegasse falando coisas que não deviam. Sua mãe pensaria que já era uma praga. E ela sabia que praga de criança pega, mesmo.
Segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado tinham um mesmo nome para Francisco: SEANTO. Para ele, todos os dias eram iguais, com excessão dos domingos, que tinham as celebrações e as passagens de ida e vinda pela Rua Dica. Ninguém entendia o porquê daquele menino estranho, que mal falava com os outros, sempre chamar os dias da semana de seanto. Mas Francisco era esperto e observador. De animais, sobretudo.
Em um domingo, Francisco já acordou assustado. O sol já tinha subido mais que o normal. Não dava tempo de ir para a celebração. A rotina de Francisco havia voltado, surgido, dilacerado seu coraçãozinho de menino. Aquele foi o dia em que domingo deixou de ser domingo, para ser seanto.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Que Ele É?

É ser, como se nada tivesse tanta importância. É viver, como se a vida não tivesse outras instâncias. É permanecer até conseguir reconhecer o quanto as coisas são tantas.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bem Acompanhado pro Finde

"Y Tu Mamá También" (2001), de Alfonso Cuarón;

"Central do Brasil" (Brasil - 1998), de Walter Salles;

"Pequena Miss Sunshine" (EUA - 2006), de Jonathan Dayton e Valerie Faris;

"Budapeste" (Portugal, Hungria, Brasil - 2009), de Walter Carvalho;

"O Segredo dos Teus Olhos" (Argentina, Espanha - 2010), de Juan José Campanella;

"Tudo Acontece em Elizabethtown" (EUA - 2005), de Cameron Crowe;

"O Banheiro do Papa" (Brasil, França, Uruguai - 2007), de César Charlone e Enrique Fernández;

"Lavoura Arcaica" (Brasil - 2001), de Luiz Fernando Carvalho;

"Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" (EUA - 2004), de Michel Gondry;

"Preciosa" (EUA - 2009), de Lee Daniels;

"Abril Despedaçado" (Brasil - 2001), de Walter Salles.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ana e o Medo

Medo. O medo aflora os desejos mais profundos de Ana. Ela tem se queixado da situação que se colocara, em sua vida. Pobre Ana, que não conhece o mundo exterior. Mas o mundo exterior não existe mesmo, é uma divagação das pessoas que acham que cada pessoa é um mundo. E o mundo exterior, nessa última situação, seria o que? O resultado de todos os mundinhos? Daí já se deixou de ser exterior, uma vez que meu mundinho forma esse mundão, de Deus. Ana tem toda razão em se perder. E todo direito também.
Esses tempos, Ana se deu o luxo de pensar sobre seu passado, de procurar uma ligação com seus ancestrais. E descobriu que mesmo que tente, não conseguirá se ver externalizada à sua hereditariedade. Isso é uma questão de genética, está imprgnado e não adianta fugir.
Ana precisa devolver as pedras de seu passado ao rio de onde elas foram retiradas. Ana tem a obrigação de se devolver às águas do passado. E quando o fizer, com certeza, se banhará de imagens antigas, presentes e futuras. Só se concebe um futuro bem intencionado quando se inteciona positivamente seu passado. Isso não é só ser museu, afinal, na contemporaneidade, o passado se contrapõe com o presente e juntos, resenham o que está por vir, que de tão entregue ao destino se perde e logo se encontra na hora, no lugar e na intensidade certos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Corre, Ana, corre

Sra. Ana tem lá seus 50 anos. Sim, acredite se quiser, mas ela tem essa idade. Para você que a olha, dá-lhe uns 60? Mais? 80, então? Mais! Muito mais idade para essa mulher desesperada. Tão desesperada que se sente na obrigação de ficar zanzando na cabeça dos outros, como se as pessoas fossem obrigadas a passar pelo mesmo desespero que ela. Poupe-nos sra. Ana, não temos que dar conta dos seus pensamentos ou inquietações. Vivemos em um mundo móvel demais para pararmos e refletirmos sobre o que você está pensando. Aliás, pensar nesse mundo é tudo o que não podemos fazer. Falar ainda se pode, um pouco, desde que você esteja completamente certo de que aquilo tem mesmo alguma necessidade para alguém. E me desculpe, o que a sra. tem pensado não diz respeito a mim, mas só a você. Corra, Ana, corra contra o tempo, corte todo o vento e vá encontrar seu lugar, mulher. Eu não quero entrar em seu apartamento e encontrá-la lá, definhando como sempre ficara. A vida é longa demais pra quem anda devagar e curta demais pra quem corre. Mas você se arrastou tanto pela vida que agora, só correndo para conseguir chegar onde todos estão. Corre, Ana, corre.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Dona Mulher - o nome

O nome da mulher é Ana. Ela gosta desse nome. Lhe parece tão doce, tão sutil mas ao mesmo tempo é forte. São tantas Anas no mundo. Mas a mulher não quer saber das outras Anas, somente suas influências. As influências dos nomes. Anas são fortes. A mulher, a Ana, é forte. Mesmo perdendo energia, Ana é uma mulher. E mulheres sempre foram fortes, até as mais fracas tem suas forças.

terça-feira, 30 de março de 2010

És tão pequena, que mal consegue ser.
És tão grande aqui dentro, que já mal consegue caber.
E vai apertando no meu peito, tomando seu lugar por direito.
Yullia me cativara.
És teu meu coração!
Uma irmandade para sempre.
Infinitamente irmãos.

 Os dois. Eu e Yullia com 1 ano.

 
 Eu e Yullia com 19 anos.


sábado, 27 de março de 2010

Dona Mulher - o som

A mulher ainda se contentava a ouvir música. Não sabia ao menos quem estava cantando, mas a mulher não queria saber da existência de outra pessoa no mundo se não ela mesma. Para a mulher já não existia ninguém. Sua lembrança de outras pessoas da infância já não lhe importara. Apertava play e a fita tocava e tocava e ela dançava como se ninguém a visse. Ninguém via a mulher senão pelas sombras da janela. Ninguém via as sombras da mulher. A mulher estava invisível aos olhos das pessoas. As pessoas eram invisíveis aos seus olhos de mulher. A mulher escolhia quem via e suas escolhas já estavam muito limitadas. A mulher já não escolhia nada a não ser ficar ali, no seu apartamento esperando que as coisas acontecessem. As coisas escolhiam pela mulher. A mulher falou, em um suspiro, tudo o que pensara até ali. A mulher estava tentando excluir todos os seus pensamentos anteriores. A música tocando, tocando, tocando. “Vai”! Gritou a mulher. Foi a última coisa que falara a mulher. As palavras já não apareciam em sua boca. As cordas vocais da mulher se viam travadas.
A mulher andou mais um pouco, rodeou a sala-quarto-cozinha ao som da música. A música levava a mulher. A música escolhia para a mulher. Soava tão doce aquela melodia. As memórias da mulher paravam pela cabeça feminina e ela dançava e as fazia passar. A mulher queria nada. O nada ficou na cabeça da mulher.
Uma lágrima lhe percorreu todo o rosto. A mulher chorava compulsivamente. A mulher tentava entender porque aquilo acontecia e não obtinha respostas. A mulher não queria ter respostas. Naquele momento ela só queria chorar. E já que estava com vontade de chorar, chorou, chorou, chorou. A mulher não se dava ao luxo de parar de chorar. A mulher se deu o luxo de quase morrer de chorar.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Vó Maria - uma saudade do futuro

Escrevo-te porque desejo conhecer-lhe.
Rezo todos os dias para que, quando eu morrer
consiga encontrar-te por aí.
A primeira vez que te vir,
darei-lhe um abraço apertado,
para matar a saudade desse meu futuro,
que lá, será passado.
Te amo,
vó Maria.

"Pousa-se toda Maria
no varal das 22 fadas nuas lourinhas
Fostes besouro Maria
e a aba do Pierrot descosturou na bainha

Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico

Sou a pessoa Maria
Na água quente e boa gente tua Maria
Voa quem voa Maria
e a alma sempre boa sempre vou à Maria

Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundo
do céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa Maria
Tua pessoa Maria" (Maria de Verdade - Marisa Monte).

quinta-feira, 25 de março de 2010

A voz

Uma voz surge atrás de mim. Era uma voz mais velha, aguda que chegava a ser enjoativa. Quase insuportável. Continuei sem olhar para trás, a fim de analisar a voz sem estímulos imagéticos. Era uma mulher. Ou seria um homem? Era uma mulher, mais velha. A velha conversava com uma criança. Percebi isso pela intenção carinhosa que colocava em sua maneira de falar. Tinha uma voz forte, onde qualquer pessoa do ônibus podia ouvir o que ela falava. Mas eu que não sou mais tão criança assim estava assustado com a forma de falar da velha. Já estava esperando ouvir um choro, vindo da provável criança que estava sendo abordada pela velha. Pelo que percebo, a velha tenta gostar de crianças, tenta se chamar de "vó" mas não adianta muito. Nem um sorriso mais exaltado por parte da criança.
Antes de parar onde eu precisava, olhei para trás e confirmei todas as minhas semi-dúvidas. A velha era um pouco assustadora. Ela ia para cima da criança pensando que o fato de ela se chamar de "vó" para ele amenizaria aquele carão. Os cabelos brancos da velha a deixavam mais com cara de vó. A criança não rira em nenhum momento. Da parte dela só se percebia os grandes olhos pretos arregalados, observando aquela figura caricata dizendo: "A vó gosta de criança". Ela não conseguiu convencer nem o menino. A criança era um menino.
Confesso que quando me lembro da voz da velha, agradeço por minha vó não ter uma voz daquelas e por ela não ser tão, sei lá...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dona Mulher

Mulher. Seios pequenos, cabeça pequena, cabelo liso pequeno, olhos grandes como bolas de fogo, mas um fogo azul natural e incendioso. Se questiona da vida, se questiona do acordar do sono a morte. Aliás, ela não se questiona, ela sabe que não encontrará respostas pro que pergunta então cria sempre mais perguntas, e mais, e mais e mais... até não terem mais perguntas lógicas. A partir daí ela faz perguntas desconexas com qualquer realidade menos a dela. Ela já tem uma realidade desconexa. Desconectada com o mundo, a mulher sentada em seu sofá, de vez em quando vai a janela, observa a cortina e volta, dá uma volta no sofá e senta-se de novo. Arruma as flores secas no escaninho no canto direito da sala como se elas ainda ressuscitariam. Ela, a mulher, pensa que ressuscitará. Talvez sim, ou talvez ela somente descubra que ela ainda não morreu e só se ressuscita quem morre. Ou morreu e esqueceu de avisar os parentes. Ela tem dúvidas sobre a morte, sobre a vida. Não consegue entender como as pessoas conseguem pensar em outra coisa que não a vida e a morte. Um dia ela responderá todas suas dúvidas, ela tem fé. A mulher de fé inabalável acredita. "Ela acredita em anjos e, porque acredita, eles existem". E o que se passa com ela é mais que uma doença mental. É inspiração. A mulher vive, e porque vive, duvida. Talvez ela tenha um amor, um grande amor, que a deixou. Talvez ela não tenha amado ninguém. A mulher está sempre em seus extremos. É difícil desvendá-la. Nem mesmo a própria se desvenda. O universo tenta desvendá-la, ela mesma tenta compreendê-la, mas quanto mais ela tenta, quanto mais o universo se intromete na vida da mulher, mais ela se perde. Se perde tentando encontrar-se.
A mulher não tem relógio, não tem óculos, não tem cigarros, não tem ambições. Sua casa é formada por uma sala, que faz de quarto, cozinha. O banheiro é no corredor. Ela não daria conta de olhar todos os dias em um espelho, e se tivesse um banheiro só para si, teria que ter um espelho. Por isso a mulher escolhe dividir o banheiro. É uma banheiro comunitário. A mulher tem dessas coisas. Sozinha demais. Tão solitária que o vazio que se cria nessa falta de relação a faz querer dividir. Ela sabe das horas pelo sol. Mas não olha o sol diretamente. A mulher está sempre atrás das cortinas. Precisa se esconder dos olhos das pessoas. Como se as pessoas a olhassem. Os outros não sentem sua falta, nem se dão conta de sua presença ali. Os vizinhos. O velho do apartamento ao lado, a gorda do apartamento de baixo e as crianças do apartamento de cima não sabem que ela está ali. Ou sabem e fingem não saber. Eles só conhecem o rapazinho. O misterioso rapazinho que leva uma vasilha, todos os dias para a senhora. Dentro da vasilha está o sustendo material da mulher. Comida. Ela já não sente vontade de comer. Preferiria definhar até não conseguir mais e acordar do sono. A mulher não conversa, porque acha que é desperdiçar energia demais falando, falando, falando. Ela só pensa. Às vezes dança. E dançando, ela descobre o ar ao seu redor. O ar. O ar tem sido o único companheiro da mulher a anos. A mulher e o ar, um relacionamento amoroso, amigoso, perturbado. Se ela pudesse, nem o ar a faria companhia. A mulher é antissocial. A mulher gosta de companhias. Só não as suporta por muito tempo. Ou suporta demais, a ponto de fazê-las tão inesquecíveis e eternas que não se precisa mais da presença física, quando vão embora. Quando iam embora. A mulher já não recebe visitas a anos. O ar é sua única companhia. E se pudesse, ela mandaria o ar embora.
A mulher tem um par de roupas. Quando começara a enlouquecer a mulher havia mandado que instalassem uma pia na sala de estar. Ela já sabia que não gostaria de ter que andar mais de 6 metros para lavar roupas. Um vestido amarelo, desbotado, velho, sem a metade dos botões inferiores. O vestido amarelo era seu preferido. O lavou poucas vezes, a fim de não desgastá-lo mais que o desgaste inevitável do uso diário e cotidiano da mulher. Cotidiano. A mulher vive seu cotidiano com seu vestido amarelo. O vestido roxo de renda fica encostado em um dos cantos da sala de estar de 6 metros quadrados da mulher. Ela não gosta tanto desse quanto do outro. Sempre tem-se uma preferência e a da mulher é por amarelo. A mulher deve pensar o quanto é amarelo o sol. A mulher não pensa sobre essas coisas. Ela pensa em poder parar de pensar. Ela quer parar de pensar e poupar energia. Já não fala, já mal come, já mal vai ao banheiro. A mulher já mal tem energia. Quantos anos tem essa mulher quase sem energia. A mulher já tem idade para ser mãe. A mulher esconde até de si mesma a sua idade. A mulher começa a pensar nos anos passados de sua vida, então se levanta e vai a janela, observa a cortina, volta, passa por trás do sofá e senta-se de novo. Uma caixa preta a sua frente a incomoda. A mulher se incomoda com as coisas que parecem sem importância, ou que são sem importância. Para a mulher, tudo o que existe tem que ter no mínimo significado. A mulher já percebera que estava perdendo seu significado. O significado da mulher se perdia junto à sua energia.
Quando se passa muito tempo sem nada para fazer, a mulher levanta, vai à janela, observa a cortina sempre fechada. A cortina tampa totalmente a janela, que parece ser de vidro. A mulher não sabe de que é feita sua janela. A cortina é azul turquesa, com bolas de todos os tamanhos preenchidas de rosa. Na parte superior tem uns babados de crochê. A mulher gosta de crochê. Na parte inferior da cortina rosa e azul não tem nada demais. É como todas as cortinas rosa e azul que a mulher já havia visto. Depois de observar a cortina, a mulher volta pensando em algo que nem ela entende. A mulher sempre pensa coisas que não entende. A mulher voltou. A última vez que a mulher pensou. Na última vez que pensou alguma coisa, a mulher rodou, sentou-se em seu sofá lilás, descansou sua cabeça em um dos braços do sofá lilás e suspirou. Uma, duas, três. Na terceira ela soltou todo o ar e perpetuou sua existência. A mulher acorda do sono.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sem escudo.

Vontade de escrever. É quase uma necessidade fisiológica, como ir ao banheiro e/ou ler um livro. Só é menor que o Teatro. É que aqui dentro, nas entranhas, bate uma coisa que eu não sei o nome, nem de onde vem, muito menos pra onde vai. Só sei que me força a teatralizar, a querer ser teatro a vida inteira.
Reler o que já está escrito talvez me impossibilite de continuar, portanto, se algo aqui parecer subjetivo demais, não importe, é só uma maneira de colocar para fora tudo o que me inquieta. Não devo fumar um cigarro para maquear minhas depressões, mas ainda o tenho feito de vez em quando. E confesso que isso tem me ajudado. Contudo, continuo sem indicar o cigarro para fins antidepressivos. E quando não fumo, escrevo... não tem os mesmos resultados, mas a saúde que me poupo ajuda.
Ouvir música. Escrever. Fazer. Comer. Tomar um café.

domingo, 21 de março de 2010

Genealogia


Eu, com 1 ano e 1 mês de idade.

Procidônio Luduvino se casara com Carolina Santana. Ambos baianos (cogita-se São Desidério-BA). Nessa união, nascera Pedro Luduvino de Santana, pai de meu pai.
João Ribeiro de Souza se casara com Marcolina Araújo de Souza. Todos da Bahia, também. Tiveram uma filha, nascida no mesmo estado: Maria Araújo.
Pedro Luduvino de Santana se casara com Maria Araújo, que pegara o sobrenome de seu Pedro, Santana.
Pedro Luduvino de Santana e Maria Araújo de Santana tiveram 10 filhos, entre eles meu pai, Pedro Afonso Luduvino de Santana (nascido em 10 de outubro de 1969 em Uruaçu, Goiás).

Laudelino Jacinto de Paula se casara com Maria Rita de Jesus. Ambos de Minas Gerais (cogita-se Patrocínio-MG). Os dois tiveram 6 filhos, entre eles José Jacinto de Paula, pai de minha mãe.
Cassimiro Cláudio Ribeiro se casara com Olímpia Carolina de Jesus. Todos os dois goianos. Deste casamento nasceu Nelza Olímpia, em Goiatuba-GO.
José Jacinto de Paula se casara com Nelza Olímpia, ela que herdou o sobrenome de Seu Zé, de Paula. Tiveram 6 filhos, entre eles minha mãe: Siomara Olímpia Paula.

Em 1986 Siomara conhecera Pedro Afonso, na cidade de Palmeirópolis, no Tocantins. Em 12 de abril de 1990 se casaram, na mesma cidade. Em 27 de agosto de 1990 eu nasci, o primeiro filho do casal! Quando em 1992, 27 de fevereiro, nasceu minha irmã, Verônicka.

Resumido...
Meus bisavós paternos tiveram meus avós, que tiveram meu pai. Meus bisavós maternos tiveram meus avós, que tiveram minha mãe. Meu pai e minha mãe me tiveram e logo tiveram minha irmã.
Tenho uma forte influência de baianos e mineiros. Mas sou oficialmente goiano e culturalmente brasileiro.

sábado, 20 de março de 2010

Carta de amor

Um lugar qualquer, num dia aí do mês treze do calendário, ano?

Meu pierrô,

Hoje tive certeza do quanto o tempo que passamos juntos me foi prejudicial. Tenho percebido que estive cada dia mais cheia disso tudo que chamamos de relacionamento sério-amoroso.
Os espelhos que espalhei por todas as paredes do apartamento me deixam mais tonta, mais confusa. E até pensei que fossem as lentes dos meus óculos falsos, fui em um oftalmologista e não eram. Contei a história dos espelhos, que sempre que encontrava um para comprar, o fazia, para ver se as coisas melhoravam nos reflexos...
Ando meio doida. Então, escolhi descer as escadas e me perder completamente pelas ruas carnavalescas da cidade. Quem sabe o meu grande amor seja um Pantaleão e não você, pierrô?
Não se desespere, em todo carnaval as ruas ficam cheias de personagens Dell'arte. E, se der sorte, ainda consegue ficar com um Shakespeare, Clarice, Virginia...

De sua,
Colombina

segunda-feira, 15 de março de 2010

Definição de Amizade

Definir um amigo é complicado. Falar de uma amizade também. Muitos já tentaram, como Shakespeare, Quintana, Einstein, Chaplin, Machado de Assis... mas é tudo material demais pra se falar de um sentimento tão da alma.
E para mim, amizade é assim, impossível de ser descrita. Porque ela é tão alma que as palavras se perdem nos pensamentos, nas divagações do sentimento e... se perdem. Enquanto as teorias sobre essa alegoria de emoções voam, o coração de quem escreve esquenta, aumenta e sente a presença do amigo.
Amizades são simplesmente fantásticas!


sexta-feira, 12 de março de 2010

Memória

Quando Clarice escreve que "saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença", nunca quis tanto comer algo imaterial, como a presença. Presença é tanto alma que o corpo material do presenciado se torna tempo, se torna vento, se torna áurea! E absorver isso tudo só é possível em memória... como tenho-o guardado.

terça-feira, 9 de março de 2010

Eu, personagem de mim

Todas as vezes que tento escrever sobre mim me sinto um pouco mais louco. E quando consigo, parece, SEMPRE, que consegui chegar em um estado físico-pscicológico muito além do estado da loucura. É êxtase! Se releio o que escrevi então, depois de terminado, não reconheço quem é aquela figura. É a prova, é o escape momentâneo de uma personagem permanente, ou personagens permanentes em mim. Eu, definitivamente, sou várias personas.
Sinceramente? Acho que já somos loucos...