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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O poder da bermuda

Tenho alguns amigos que fazem moda, entre meninos e meninas despojadas e que aceitam as diferenças, que me mostraram teoricamente o quanto a roupa que usamos é cultural e enfim. Mas eu ainda não tinha pensado sobre isso com tanto afinco, uma vez que nunca me fora exigido nada do tipo, principalmente por estudar numa universidade federal no curso de Teatro, onde nunca tenha sofrido nenhum tipo de preconceito com o tipo de roupa que uso. Mesmo porque não uso nada estranho ou extravagante a ponto de, numa faculdade de artes, estranharem o que uso. 
Mas fora de lá as coisas são diferentes - e muito -. Não me lembro de ter comentado aqui, mas ultimamente nas minhas horas vagas sou funcionário público. Na minha repartição, de pessoas sérias e gente-boas, trabalham, entre homens e mulheres, cerca de 15 pessoas. É legal trabalhar aqui (estou no trabalho agora), lidar com todo tipo de gente (contribuintes) e tal. Mas é complicado pensar nisso tudo com liberdade, tem-se um sistema a ser seguido e uma forma de trabalho tradicional, quase que passados de geração em geração, em cima daquela tradição esquematizada (não dizendo carteziana, para não contrariar meu amigo Marcos Pantaleão).
Não há o respeito pelo corpo, pela pessoa. Não há a consciência de que as coisas tem mudado e principalmente na forma de vermos a nossa cultura. Goiás é um estado quente, extremamente seco nesse tempo e ainda vejo pessoas com terno e gravata no meio da rua (e aqui no serviço também), como se vivessem em um lugar que fosse, pelo menos, úmido. Mas não, ficam como geléias derretendo debaixo do sol por conta de uma coisinha que chamam: status roupal (eu inventei isso agora, confesso).
Hoje criei coragem e vim de bermuda pro serviço. Uma bermuda jeans até o joelho, clássica, sem nada, sem nenhum bolso fora do lugar e que me custou um tanto bom do meu salário. Comentários surgiram mas nenhum maldoso. Mas ainda é interessante ver como preferem derreter ou sofrer com calor (pra ser menos dramático) a abrir mão de uma recepção desnecessária sobre aquilo que chamamos bons modos. Bons modos é me respeitar.
Eu nem fiz isso conscientemente, esse negócio de usar bermuda pra vir trabalhar. Eu vesti e vim, sabendo que é um estilo de bermuda que não agride nenhum pudor ou nada nas outras pessoas. E faço um apelo aqui: pelo amor de meu Jesus Cristim, observe esse sol, esse calor, esse clima e pense comigo: não dá pra entrar numa calça e fingir que minhas pernas não estão suando como tampa de marmita, me causando coceira e carocinhos pela perna toda.
Aliás, que poder é esse que tem uma bermuda? Que mal tem usar uma bermuda, num tempo quente e seco, que não agride nem o gosto pessoal de cada um? O que isso muda na minha forma de trabalho ou em quem eu sou? Não estou mostrando nada mais que minhas canelas e, algumas vezes, dependendo de como me sento, meus joelhos surrados? Desculpa quem devo desculpar, mas não dá pra fingir que o mundo lá fora está acabando em fogo e sair coberto de casa...

Um comentário:

  1. Como já dizia essa sociedade: Me diga o que vestes e te direi quem és.
    Ter hoje em dia é mais importante do que ser meu amigo. Infelizmente.

    Beijos!

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