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quarta-feira, 31 de março de 2010

Dona Mulher - o nome

O nome da mulher é Ana. Ela gosta desse nome. Lhe parece tão doce, tão sutil mas ao mesmo tempo é forte. São tantas Anas no mundo. Mas a mulher não quer saber das outras Anas, somente suas influências. As influências dos nomes. Anas são fortes. A mulher, a Ana, é forte. Mesmo perdendo energia, Ana é uma mulher. E mulheres sempre foram fortes, até as mais fracas tem suas forças.

terça-feira, 30 de março de 2010

És tão pequena, que mal consegue ser.
És tão grande aqui dentro, que já mal consegue caber.
E vai apertando no meu peito, tomando seu lugar por direito.
Yullia me cativara.
És teu meu coração!
Uma irmandade para sempre.
Infinitamente irmãos.

 Os dois. Eu e Yullia com 1 ano.

 
 Eu e Yullia com 19 anos.


sábado, 27 de março de 2010

Dona Mulher - o som

A mulher ainda se contentava a ouvir música. Não sabia ao menos quem estava cantando, mas a mulher não queria saber da existência de outra pessoa no mundo se não ela mesma. Para a mulher já não existia ninguém. Sua lembrança de outras pessoas da infância já não lhe importara. Apertava play e a fita tocava e tocava e ela dançava como se ninguém a visse. Ninguém via a mulher senão pelas sombras da janela. Ninguém via as sombras da mulher. A mulher estava invisível aos olhos das pessoas. As pessoas eram invisíveis aos seus olhos de mulher. A mulher escolhia quem via e suas escolhas já estavam muito limitadas. A mulher já não escolhia nada a não ser ficar ali, no seu apartamento esperando que as coisas acontecessem. As coisas escolhiam pela mulher. A mulher falou, em um suspiro, tudo o que pensara até ali. A mulher estava tentando excluir todos os seus pensamentos anteriores. A música tocando, tocando, tocando. “Vai”! Gritou a mulher. Foi a última coisa que falara a mulher. As palavras já não apareciam em sua boca. As cordas vocais da mulher se viam travadas.
A mulher andou mais um pouco, rodeou a sala-quarto-cozinha ao som da música. A música levava a mulher. A música escolhia para a mulher. Soava tão doce aquela melodia. As memórias da mulher paravam pela cabeça feminina e ela dançava e as fazia passar. A mulher queria nada. O nada ficou na cabeça da mulher.
Uma lágrima lhe percorreu todo o rosto. A mulher chorava compulsivamente. A mulher tentava entender porque aquilo acontecia e não obtinha respostas. A mulher não queria ter respostas. Naquele momento ela só queria chorar. E já que estava com vontade de chorar, chorou, chorou, chorou. A mulher não se dava ao luxo de parar de chorar. A mulher se deu o luxo de quase morrer de chorar.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Vó Maria - uma saudade do futuro

Escrevo-te porque desejo conhecer-lhe.
Rezo todos os dias para que, quando eu morrer
consiga encontrar-te por aí.
A primeira vez que te vir,
darei-lhe um abraço apertado,
para matar a saudade desse meu futuro,
que lá, será passado.
Te amo,
vó Maria.

"Pousa-se toda Maria
no varal das 22 fadas nuas lourinhas
Fostes besouro Maria
e a aba do Pierrot descosturou na bainha

Farinhar bem, derramar a canção
Revirar trens, louco mover paixão
Nas direções, programado e emoldurado
Esperarei romântico

Sou a pessoa Maria
Na água quente e boa gente tua Maria
Voa quem voa Maria
e a alma sempre boa sempre vou à Maria

Tou vitimado no profundo poço
na poça do mundo
do céu amor vai chover
Tua pessoa Maria
Mesmo que doa Maria
Tua pessoa Maria" (Maria de Verdade - Marisa Monte).

quinta-feira, 25 de março de 2010

A voz

Uma voz surge atrás de mim. Era uma voz mais velha, aguda que chegava a ser enjoativa. Quase insuportável. Continuei sem olhar para trás, a fim de analisar a voz sem estímulos imagéticos. Era uma mulher. Ou seria um homem? Era uma mulher, mais velha. A velha conversava com uma criança. Percebi isso pela intenção carinhosa que colocava em sua maneira de falar. Tinha uma voz forte, onde qualquer pessoa do ônibus podia ouvir o que ela falava. Mas eu que não sou mais tão criança assim estava assustado com a forma de falar da velha. Já estava esperando ouvir um choro, vindo da provável criança que estava sendo abordada pela velha. Pelo que percebo, a velha tenta gostar de crianças, tenta se chamar de "vó" mas não adianta muito. Nem um sorriso mais exaltado por parte da criança.
Antes de parar onde eu precisava, olhei para trás e confirmei todas as minhas semi-dúvidas. A velha era um pouco assustadora. Ela ia para cima da criança pensando que o fato de ela se chamar de "vó" para ele amenizaria aquele carão. Os cabelos brancos da velha a deixavam mais com cara de vó. A criança não rira em nenhum momento. Da parte dela só se percebia os grandes olhos pretos arregalados, observando aquela figura caricata dizendo: "A vó gosta de criança". Ela não conseguiu convencer nem o menino. A criança era um menino.
Confesso que quando me lembro da voz da velha, agradeço por minha vó não ter uma voz daquelas e por ela não ser tão, sei lá...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Dona Mulher

Mulher. Seios pequenos, cabeça pequena, cabelo liso pequeno, olhos grandes como bolas de fogo, mas um fogo azul natural e incendioso. Se questiona da vida, se questiona do acordar do sono a morte. Aliás, ela não se questiona, ela sabe que não encontrará respostas pro que pergunta então cria sempre mais perguntas, e mais, e mais e mais... até não terem mais perguntas lógicas. A partir daí ela faz perguntas desconexas com qualquer realidade menos a dela. Ela já tem uma realidade desconexa. Desconectada com o mundo, a mulher sentada em seu sofá, de vez em quando vai a janela, observa a cortina e volta, dá uma volta no sofá e senta-se de novo. Arruma as flores secas no escaninho no canto direito da sala como se elas ainda ressuscitariam. Ela, a mulher, pensa que ressuscitará. Talvez sim, ou talvez ela somente descubra que ela ainda não morreu e só se ressuscita quem morre. Ou morreu e esqueceu de avisar os parentes. Ela tem dúvidas sobre a morte, sobre a vida. Não consegue entender como as pessoas conseguem pensar em outra coisa que não a vida e a morte. Um dia ela responderá todas suas dúvidas, ela tem fé. A mulher de fé inabalável acredita. "Ela acredita em anjos e, porque acredita, eles existem". E o que se passa com ela é mais que uma doença mental. É inspiração. A mulher vive, e porque vive, duvida. Talvez ela tenha um amor, um grande amor, que a deixou. Talvez ela não tenha amado ninguém. A mulher está sempre em seus extremos. É difícil desvendá-la. Nem mesmo a própria se desvenda. O universo tenta desvendá-la, ela mesma tenta compreendê-la, mas quanto mais ela tenta, quanto mais o universo se intromete na vida da mulher, mais ela se perde. Se perde tentando encontrar-se.
A mulher não tem relógio, não tem óculos, não tem cigarros, não tem ambições. Sua casa é formada por uma sala, que faz de quarto, cozinha. O banheiro é no corredor. Ela não daria conta de olhar todos os dias em um espelho, e se tivesse um banheiro só para si, teria que ter um espelho. Por isso a mulher escolhe dividir o banheiro. É uma banheiro comunitário. A mulher tem dessas coisas. Sozinha demais. Tão solitária que o vazio que se cria nessa falta de relação a faz querer dividir. Ela sabe das horas pelo sol. Mas não olha o sol diretamente. A mulher está sempre atrás das cortinas. Precisa se esconder dos olhos das pessoas. Como se as pessoas a olhassem. Os outros não sentem sua falta, nem se dão conta de sua presença ali. Os vizinhos. O velho do apartamento ao lado, a gorda do apartamento de baixo e as crianças do apartamento de cima não sabem que ela está ali. Ou sabem e fingem não saber. Eles só conhecem o rapazinho. O misterioso rapazinho que leva uma vasilha, todos os dias para a senhora. Dentro da vasilha está o sustendo material da mulher. Comida. Ela já não sente vontade de comer. Preferiria definhar até não conseguir mais e acordar do sono. A mulher não conversa, porque acha que é desperdiçar energia demais falando, falando, falando. Ela só pensa. Às vezes dança. E dançando, ela descobre o ar ao seu redor. O ar. O ar tem sido o único companheiro da mulher a anos. A mulher e o ar, um relacionamento amoroso, amigoso, perturbado. Se ela pudesse, nem o ar a faria companhia. A mulher é antissocial. A mulher gosta de companhias. Só não as suporta por muito tempo. Ou suporta demais, a ponto de fazê-las tão inesquecíveis e eternas que não se precisa mais da presença física, quando vão embora. Quando iam embora. A mulher já não recebe visitas a anos. O ar é sua única companhia. E se pudesse, ela mandaria o ar embora.
A mulher tem um par de roupas. Quando começara a enlouquecer a mulher havia mandado que instalassem uma pia na sala de estar. Ela já sabia que não gostaria de ter que andar mais de 6 metros para lavar roupas. Um vestido amarelo, desbotado, velho, sem a metade dos botões inferiores. O vestido amarelo era seu preferido. O lavou poucas vezes, a fim de não desgastá-lo mais que o desgaste inevitável do uso diário e cotidiano da mulher. Cotidiano. A mulher vive seu cotidiano com seu vestido amarelo. O vestido roxo de renda fica encostado em um dos cantos da sala de estar de 6 metros quadrados da mulher. Ela não gosta tanto desse quanto do outro. Sempre tem-se uma preferência e a da mulher é por amarelo. A mulher deve pensar o quanto é amarelo o sol. A mulher não pensa sobre essas coisas. Ela pensa em poder parar de pensar. Ela quer parar de pensar e poupar energia. Já não fala, já mal come, já mal vai ao banheiro. A mulher já mal tem energia. Quantos anos tem essa mulher quase sem energia. A mulher já tem idade para ser mãe. A mulher esconde até de si mesma a sua idade. A mulher começa a pensar nos anos passados de sua vida, então se levanta e vai a janela, observa a cortina, volta, passa por trás do sofá e senta-se de novo. Uma caixa preta a sua frente a incomoda. A mulher se incomoda com as coisas que parecem sem importância, ou que são sem importância. Para a mulher, tudo o que existe tem que ter no mínimo significado. A mulher já percebera que estava perdendo seu significado. O significado da mulher se perdia junto à sua energia.
Quando se passa muito tempo sem nada para fazer, a mulher levanta, vai à janela, observa a cortina sempre fechada. A cortina tampa totalmente a janela, que parece ser de vidro. A mulher não sabe de que é feita sua janela. A cortina é azul turquesa, com bolas de todos os tamanhos preenchidas de rosa. Na parte superior tem uns babados de crochê. A mulher gosta de crochê. Na parte inferior da cortina rosa e azul não tem nada demais. É como todas as cortinas rosa e azul que a mulher já havia visto. Depois de observar a cortina, a mulher volta pensando em algo que nem ela entende. A mulher sempre pensa coisas que não entende. A mulher voltou. A última vez que a mulher pensou. Na última vez que pensou alguma coisa, a mulher rodou, sentou-se em seu sofá lilás, descansou sua cabeça em um dos braços do sofá lilás e suspirou. Uma, duas, três. Na terceira ela soltou todo o ar e perpetuou sua existência. A mulher acorda do sono.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sem escudo.

Vontade de escrever. É quase uma necessidade fisiológica, como ir ao banheiro e/ou ler um livro. Só é menor que o Teatro. É que aqui dentro, nas entranhas, bate uma coisa que eu não sei o nome, nem de onde vem, muito menos pra onde vai. Só sei que me força a teatralizar, a querer ser teatro a vida inteira.
Reler o que já está escrito talvez me impossibilite de continuar, portanto, se algo aqui parecer subjetivo demais, não importe, é só uma maneira de colocar para fora tudo o que me inquieta. Não devo fumar um cigarro para maquear minhas depressões, mas ainda o tenho feito de vez em quando. E confesso que isso tem me ajudado. Contudo, continuo sem indicar o cigarro para fins antidepressivos. E quando não fumo, escrevo... não tem os mesmos resultados, mas a saúde que me poupo ajuda.
Ouvir música. Escrever. Fazer. Comer. Tomar um café.

domingo, 21 de março de 2010

Genealogia


Eu, com 1 ano e 1 mês de idade.

Procidônio Luduvino se casara com Carolina Santana. Ambos baianos (cogita-se São Desidério-BA). Nessa união, nascera Pedro Luduvino de Santana, pai de meu pai.
João Ribeiro de Souza se casara com Marcolina Araújo de Souza. Todos da Bahia, também. Tiveram uma filha, nascida no mesmo estado: Maria Araújo.
Pedro Luduvino de Santana se casara com Maria Araújo, que pegara o sobrenome de seu Pedro, Santana.
Pedro Luduvino de Santana e Maria Araújo de Santana tiveram 10 filhos, entre eles meu pai, Pedro Afonso Luduvino de Santana (nascido em 10 de outubro de 1969 em Uruaçu, Goiás).

Laudelino Jacinto de Paula se casara com Maria Rita de Jesus. Ambos de Minas Gerais (cogita-se Patrocínio-MG). Os dois tiveram 6 filhos, entre eles José Jacinto de Paula, pai de minha mãe.
Cassimiro Cláudio Ribeiro se casara com Olímpia Carolina de Jesus. Todos os dois goianos. Deste casamento nasceu Nelza Olímpia, em Goiatuba-GO.
José Jacinto de Paula se casara com Nelza Olímpia, ela que herdou o sobrenome de Seu Zé, de Paula. Tiveram 6 filhos, entre eles minha mãe: Siomara Olímpia Paula.

Em 1986 Siomara conhecera Pedro Afonso, na cidade de Palmeirópolis, no Tocantins. Em 12 de abril de 1990 se casaram, na mesma cidade. Em 27 de agosto de 1990 eu nasci, o primeiro filho do casal! Quando em 1992, 27 de fevereiro, nasceu minha irmã, Verônicka.

Resumido...
Meus bisavós paternos tiveram meus avós, que tiveram meu pai. Meus bisavós maternos tiveram meus avós, que tiveram minha mãe. Meu pai e minha mãe me tiveram e logo tiveram minha irmã.
Tenho uma forte influência de baianos e mineiros. Mas sou oficialmente goiano e culturalmente brasileiro.

sábado, 20 de março de 2010

Carta de amor

Um lugar qualquer, num dia aí do mês treze do calendário, ano?

Meu pierrô,

Hoje tive certeza do quanto o tempo que passamos juntos me foi prejudicial. Tenho percebido que estive cada dia mais cheia disso tudo que chamamos de relacionamento sério-amoroso.
Os espelhos que espalhei por todas as paredes do apartamento me deixam mais tonta, mais confusa. E até pensei que fossem as lentes dos meus óculos falsos, fui em um oftalmologista e não eram. Contei a história dos espelhos, que sempre que encontrava um para comprar, o fazia, para ver se as coisas melhoravam nos reflexos...
Ando meio doida. Então, escolhi descer as escadas e me perder completamente pelas ruas carnavalescas da cidade. Quem sabe o meu grande amor seja um Pantaleão e não você, pierrô?
Não se desespere, em todo carnaval as ruas ficam cheias de personagens Dell'arte. E, se der sorte, ainda consegue ficar com um Shakespeare, Clarice, Virginia...

De sua,
Colombina

segunda-feira, 15 de março de 2010

Definição de Amizade

Definir um amigo é complicado. Falar de uma amizade também. Muitos já tentaram, como Shakespeare, Quintana, Einstein, Chaplin, Machado de Assis... mas é tudo material demais pra se falar de um sentimento tão da alma.
E para mim, amizade é assim, impossível de ser descrita. Porque ela é tão alma que as palavras se perdem nos pensamentos, nas divagações do sentimento e... se perdem. Enquanto as teorias sobre essa alegoria de emoções voam, o coração de quem escreve esquenta, aumenta e sente a presença do amigo.
Amizades são simplesmente fantásticas!


sexta-feira, 12 de março de 2010

Memória

Quando Clarice escreve que "saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença", nunca quis tanto comer algo imaterial, como a presença. Presença é tanto alma que o corpo material do presenciado se torna tempo, se torna vento, se torna áurea! E absorver isso tudo só é possível em memória... como tenho-o guardado.

terça-feira, 9 de março de 2010

Eu, personagem de mim

Todas as vezes que tento escrever sobre mim me sinto um pouco mais louco. E quando consigo, parece, SEMPRE, que consegui chegar em um estado físico-pscicológico muito além do estado da loucura. É êxtase! Se releio o que escrevi então, depois de terminado, não reconheço quem é aquela figura. É a prova, é o escape momentâneo de uma personagem permanente, ou personagens permanentes em mim. Eu, definitivamente, sou várias personas.
Sinceramente? Acho que já somos loucos...