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quinta-feira, 25 de março de 2010

A voz

Uma voz surge atrás de mim. Era uma voz mais velha, aguda que chegava a ser enjoativa. Quase insuportável. Continuei sem olhar para trás, a fim de analisar a voz sem estímulos imagéticos. Era uma mulher. Ou seria um homem? Era uma mulher, mais velha. A velha conversava com uma criança. Percebi isso pela intenção carinhosa que colocava em sua maneira de falar. Tinha uma voz forte, onde qualquer pessoa do ônibus podia ouvir o que ela falava. Mas eu que não sou mais tão criança assim estava assustado com a forma de falar da velha. Já estava esperando ouvir um choro, vindo da provável criança que estava sendo abordada pela velha. Pelo que percebo, a velha tenta gostar de crianças, tenta se chamar de "vó" mas não adianta muito. Nem um sorriso mais exaltado por parte da criança.
Antes de parar onde eu precisava, olhei para trás e confirmei todas as minhas semi-dúvidas. A velha era um pouco assustadora. Ela ia para cima da criança pensando que o fato de ela se chamar de "vó" para ele amenizaria aquele carão. Os cabelos brancos da velha a deixavam mais com cara de vó. A criança não rira em nenhum momento. Da parte dela só se percebia os grandes olhos pretos arregalados, observando aquela figura caricata dizendo: "A vó gosta de criança". Ela não conseguiu convencer nem o menino. A criança era um menino.
Confesso que quando me lembro da voz da velha, agradeço por minha vó não ter uma voz daquelas e por ela não ser tão, sei lá...

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