Páginas

sábado, 10 de dezembro de 2016

Goiânia obássy

Goiânia é filha de Xangô. 
Goiânia é pedra, 
caminho duro de subir, 
escalada complicada, 
necessário se amarrar pra conseguir.
Goiânia é filha de Xangô. 
É áspera como a pedreira. 
Morada de bicho goiano, cabreiro, rasteiro. 
Muro pedregulho, 
de difícil transposição.
E dentro proteção.
Goiânia, pra mim, é filha de Xangô.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Filho de segredo segredo é

Filho do segredo
até pro próprio segredo,
que me suspira as respostas
da não crença,
os caminhos
que não tem marcas,
na pele
a coceira do que negam.
Ser filho de segredo dói,
por quê nunca aceitarão
que não sabem daquilo que só eu ouço,
sinto
e vivo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Uma semana de bem


Acorda de manhã, coloca os ingredientes do suco detox dentro do liquidificador, espreguiça enquanto batia. Aos goles, liga a televisão. Aos xingamentos, se veste. Reclama em voz alta que o país não tem mais jeito, que os direitos das pessoas de bem tem sido trocados pelos bandidos, bate palmas pro juíz que predeu um mas esqueceu dez. 
Antes de chegar ao trabalho, deixa sua filha na escola de princesas e seu filho no judô. Isso às segundas, quartas e sextas. Terças e quintas amenina vai pra natação e o moleque pra aula de reforço em matemática. 
Fura o sinal de trânsito, chama de "viado" o cara que deu sinal de vida pra atravessar a faixa, de vadia a mulher que vai na velocidade proposta pela placa da avenida. Tenta encontrar uma rádio, alguma pregação cristã que o faça ter vontade de continuar a subir na empresa que trabalha.
No trabalho é aquilo todos os dias, reuniões e contatos, algumas demissões e contratações, orações entre turnos e ele vai subindo, ganhando a confiança dos patrões que o chamaram pra ir na igreja sábado. O resto da semana é igual, tirando algumas brigas com a esposa e tentativa de correção nos filhos. 
Final de semana vai almoçar na casa da prima, algumas brigas na mesa da comida, com a feminista comunista da família, que usa vermelho "só pra afrontar" e quer ler autores malditos como um tal de Paulo Freire. Toda vez a mesma coisa. Ora e pede pela alma dela e de todos ali presentes, mas dela em especial.
Domingo acorda mais tarde, gosta de ficar em casa, assiste televisão, ri das pegadinhas do Faustão, aquele quadro em que paramos pra rir das quedas de outras pessoas enquanto o apresentador milionário faz os comentários mais sem graça da televisão brasileira. Na verdade reveza entre esse e aquele no outro canal, de calouros. Chega a noite o homem de bem vai dormir, esperando recomeçar a semana. Amém.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Nosso caso não é entre polícia e ladrão


Falam como se preocupassem, mas não se preocupam com policiais ou com bandidos. Muito menos querem saber do que é mais ou menos grave. Só se preocupam consigo mesmos. Querem mesmo a morte de quem é diferente. 
Criaram esse fetiche nojento, pra não dizer maldito, nas fardas, nas armaduras dos heróis. Cresceram e aceitaram a não existência do papai noel ou do coelhinho da páscoa, mas nunca superaram a ideia de que não existem heróis, e procuram incessantemente por eles, criando pedestais. 
Não se preocupam com a justiça mas se sentem no direito de julgar. Só mudaram, e male male, o discurso. Mais uma vez, não é de policiais e bandidos que falam. A vida, crianças, não é uma brincadeira de polícia e ladrão. 
Se tivessem preocupados demais com o que é certo e errado, talvez saberiam dos que morrem inocentemente pra que o espetáculo genocida diário aconteça. Todo domingo, patética e preocupantemente, sentam na frente da TV pra ver o sofrimento alheio e rirem. Chamam a dor alheia de pegadinha. E se esbaldam. 
Não querem saber de polícia e bandido. Querem apontar um culpado antes que descubram a sua culpa. E disso, da culpa, estamos todos fadados. Odeiam saber que tem gente resistindo bravamente nesse jogo da vida, com muito menos. Não sei se é inveja ou que é, mas o ódio é visível, e dá pra sentir. 
Nosso caso nunca foi de polícia e ladrão.

domingo, 23 de outubro de 2016

Pequena carta de amor e perdão

Meu amor,
na distância entre nossas retinas
um universo nos distancia,
Desculpe.
Perdoe minha habilidade
em perder o foco,
em desistir de tudo,
em calcular a queda
e mesmo assim me jogar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Anjo caído

Eu estava passando
passeando 
aqui do lado
e a força da gravidade me sugou.
Não era pra estar aqui,
foi um grande engano.
Quero ir embora,
alguém sabe onde eu falo
sobre caso
de anjo caído?

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Corpografias urbanas da saudade

Anápolis - cabeça - o nascimento, onde tudo parece colorir. Mas não cheguei a conhecer Anápolis antes dos 20. Duas semanas e eu já tava em Palmeirópolis.
Palmeirópolis - coração - até os 6 anos, onde eu aprendi a andar, a andar de bicicleta, a tomar banho de rio, a fugir das pessoas, a soltar pipa, a amar.
Luziânia - pés - onde eu aprendi que o mundo é grande, e múltiplo, e perigoso. Aí eu aprendi que eu gosto mesmo do perigo. Quando me roubaram a bicicleta pela primeira vez. Quando eu apaixonei a primeira vez. Quando eu lia pornôs, quando eu redescobri a paixão por mato e terra, quando eu ganhei padrinho e madrinha que eu realmente amava e quando o Ratinho me parecia meio interessante.
Brasília - Cruzeiro Novo - cérebro -
Miracema
Palmas
Palmeirópolis
Goiatuba
Santa Maria Eterna
Uberlândia
São Benedito do Rio Preto
Goiânia


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Uns caminhos


Quando eu nasci, já fui logo batizado na Igreja Católica Apostólica Romana. Herança de meus pais, que herdaram de seus pais... Ganhei padrinho, madrinha e a bênção que se ganha nas boas intenções da água na cabeça da criança, no caso eu. 
Quando me entendi por gente eu era católico. Participei de grupo de jovem, fiz catequese, primeira comunhão e na hora da crisma, percebi que meus dons, aqueles que se recebem nessa cerimônia, me mandavam pra outro caminho.
Fui companheiro das Irmãs Cabrinianas. Inclusive, hei de dizer que se não fossem essas freiras, eu não seria metade do que sou hoje. E se vocês gostam de mim, agradeçam a essas mulheres também. Com elas aprendi o catolicismo popular, as Comunidades Eclesiais de Base, a possibilidade de um cristianismo que saía da batina e do hábito. A força dessas mulheres missionárias é tamanha! E eu aprendi a ser forte com elas. Aprendi também, com essas freiras, que existe uma diferença bem grande entre ser sutil e ser fraco. E foi com elas que eu percebi que o catolicismo já não me aprazeirava, não me fazia feliz e não me ajudava mais a desconstruir coisas em mim, pelo contrário, reforçava preconceitos e julgamentos. Deixei de praticar.
Então conheci o candomblé. E passo, até hoje, quatro anos depois do meu primeiro contato, por desconstruções enormes de coisas absurdas que eu aprendi com o preconceito alheio. Hoje é o lugar que me faz feliz e me mostra muitos caminhos pra minha vida, que só eu posso trilhar e escolher. 
O candomblé também me ensina, em muitos casos, como não ser. Nem todas as coisas me comprazem, mas quando meu pensamento está ligado ao meu orixá (não necessariamente no transe), sou uma pessoa feliz. E percebo também que aprendo a ser uma pessoa melhor, por mim mesmo e pelos processos de amadurecimento que a experiência no terreiro me proporciona.
Depois do catolicismo, e da minha vivência profunda e verdadeira na Igreja, percebi que religião (e a falta dela) é uma escolha pessoal. E não obrigatória! E que não faz nenhum sentido se essa experiência não vem acompanhada com felicidade e paz de espírito. Não acredito na obrigação da tristeza e nem do sofrimento.
E depois do candomblé, percebi que as coisas são extremamente mutáveis, que minha consciência é o deus soberano, e que cuidar da minha cabeça me fortalece. Tem gente que vai no psicólogo, outros no terapeuta, outros nas drogas. Eu gosto de Orixá! Mas não anulo a possibilidade de, vez ou outra, algum dos outros três. 
Estarei no candomblé pra sempre, como pra sempre também estarei no catolicismo, pq eles sempre estarão em mim.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Meu amigo Zé


O caminho é com meu amigo Zé. Quando não sei, ele me diz, quando não quero, ele me ajuda, quando eu brigo ele ri, quando ele briga eu ouço. É sabedoria primordial, de um conhecimento simples e bamba, que confunde até os mais sabidos. 
E no preconceito dessa gente 'branquela', que acha que dinheiro é tudo e que passa perfume pra esconder o cheiro da infelicidade, ele se faz pura cachaça e cigarro, pura sujeira da calçada, puro senhor da sarjeta.
Meu amigo Zé Pelintra, aquele que resignifica a palavra realeza, que desconstrói o poder do castelo, que desfaz o luxo das festas pomposas. Ele que aceita a areia da praia como tapete, a calçada como cama e os corpos suados das mulheres da rua pra entregar sua existência. E goza, com as mulheres e com a vida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A guerra


Engana-se que a guerra é externa. Os tiros saem da nossa mente e atingem o coração. As foices cortam nossos sonhos. As algemas prendem nossos caminhos, aqueles que nós precisamos trilhar, mais ninguém. 
É dentro de nós que a pancadaria rola solta. E bate, quando esperamos mais do outro, quando cobramos a atenção que não temos, quando exigimos o lugar de prestígio que nos prometeram. E enquanto isso, a revolta aumenta e, consequentemente, os tiros.
A guerra é minha, todos os dias ao levantar, a lidar com o preconceito que eu alimentei, com todo machismo que eu me convenci. É minha quando eu luto, sem perceber, comigo mesmo e num ato auto destrutivo, destruo o outro. 
Não existem vítimas nessa guerra. Ela é diária. Lidar conosco mesmos é tão mais fácil, aparentemente. Segure os desejos, cale a boca, medite, agora dance, agora sorria, olha a foto, reze, abrace, sorria de novo e finja as good vibes. Parece piada, mas nos convencemos, nessa guerra, a nos convencer. O que é horrível, pq é sozinho no banheiro que vemos as ruínas de nós mesmos, dessa guerra que, transferida pra fora, acontece é dentro. E não tem convencimento que suporte as miragens.
E, se pensarmos que cada um tá passando uma guerra agora, independente de lugar e direito, seguramente contribuiremos pra amenizar os sofrimentos e as marcas dessa guerra. Como tudo que vai volta...

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sonho

A serpente sagrada e colorida, representada pelos capins da beira dos rios usados para transe e que dão urtiga na boca e pele. Ela é um Xangô.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

No meu ori

Na caça, fartura
No fogo, calor
na terra rasteja
na água é flor.
Yabá é líquida
Cobra no mundo rodeia
na chuva renova
na terra floreia.
No meu ori
xangô solta o brado
oxumarê cobreia
oxum um som manso
oxóssi me pia.

chá pra tosse -

cinco dedos de água, cinco pitadas de canela em pó ou um pauzim de canela, uma rodela de limão, ponta de um dedo indicador de gengibre. ferver por um beijo demorado no amor mais um fazer xixi mais dois copos dágua bebidos. adoçar com mel. tomar meio copo de boteco duas vezes ao dia.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Pra um amigo chato,

que pode ser eu, você ou ele ou ela. 
Será que você não consegue manter uma prosa sem precisar falar mal de alguém ou, quando falar bem, que não seja falso? Ou será que você aguenta a pressão que o outro está vivendo? Aliás, você sabe o que a outra pessoa passa na vida ou tem passado nesses últimos dias? Não! Você não fez isso!
Você tem manias muito feias, de discordar dos outros, de falar e ditar o que é certo e o que é errado, de rir das práticas religiosas dos outros, de zoar da forma com que as outras pessoas se vestem, cantam, lidam com a vida. Você é, na verdade, um mal informado, já pensou nisso? E faz, pra mim, o papel de babaca!
Você quer que as coisas se organizem do seu jeito. E quando não, até entendo sua melancolia e, pra ela, estou aqui sempre. Mas nunca entenderei sua forma grosseira de jogar para os outros a tristeza que é sua. E ela vem sempre numa velocidade da luz em forma de patada. 
Você cobra dos outros coisas que não são deles. Você se coloca em um lugar que não mede poder. Inclusive, você tem lidado com o "poder" que te designaram de uma forma patética. Primeiro porque isso não é poder, segundo porque você não sabe lidar consigo mesmo, que é onde está o verdadeiro poder das coisas. 
Um conselho: cala a boca. E faça o exercício de se manter em cima do muro. Nem sempre você precisa tomar uma decisão ou ficar do lado de alguém. Quando fizer uma escolha, aprenda a deixar de mão o que não escolheu, afinal, você pode estar completamente errado.
Uma última coisa: as pessoas são felizes mesmo quando são diferentes de você. E ninguém precisa ser igual você pra ser feliz. Então fica quieto. Além de não estar ajudando, você tem se tornado chato. Pense mais positivo.

domingo, 14 de agosto de 2016

Exu

Na brincadeira de corrida
e na roda de criança,
brinca o senhor das andanças.
Medo não.
Aceito!

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

"Não sabe se" ou O tiro na culatra


Não sabe se morde ou se lambe,
Se queima ou se molha,
Se acaricia ou arranha,
Se ele mostra ou se esconde,
Se normal ou estranho,
Se bonito ou medonho.
Olha nos olhos e não vê o final,
Não reconhece afinal,
O que esperava atentar.
Se alenta nos braços
Sem saber se ataca
Ou se beija no altar.
Figura mitológica amorfa,
Besta apaixonante,
Cachorro do mato domesticado.
No pôr do sol se ilumina,
À noite, aos jogados,
engana a retina,
De manhã some no breu da claridade.
Não sabe se volta pro mato ou pra cidade
Pra cama ou pro colo da amante,
Pras nuvens ou pras cavernas,
Pra lua ou pra marte.
O que sabe
É que é o tiro na culatra do escravo
E o tiro na culatra do patrão.
Não fica preso no tronco
Nem alimenta proteção.
Não sabe se cachorro ou se gato,
Se pega ou se corre,
Se gato ou se rato,
Se escorrega ou escorre.
Se estrada ou se rua,
Se de roupa ou nua,
Se boceta ou pica,
Se âncora ou prôa,
Se dele ou tua.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O limite de mim

Eu queria hoje um pôr do sol maravilhoso, meu amor do meu lado, calado. O silêncio me faria tão bem nesse momento, afinal, penso eu, que daria pra escutar o que minha mente sussurra. Quando ela grita me perco, me afobo e acabo confundindo as letras. Amor vira dor, calma vira rua e gente vira monstro. Até a rima desistiu, percebe?
Queria um espaço, pode ser pequeno, até porque meu tamanho, que outrora esteve largo, hoje se contenta com esse corpo que me representa. Hoje estou diminuído a um metro e oitenta e setenta quilos. Completei milhas dentro de mim.
Quem um dia percorreu meu eu e não encontrou saída nem final, se hoje o fizesse, assustaria com tamanho recolhimento.
Ainda escrevo, na tentativa de fazer o que me propus, que é não deixar de dizer. E poucas pessoas lerão, o que por um lado me deixa tranquilo e calmo.
Se um dia pensei que o mundo era pequeno, desfaço, pelo menos hoje, dessa crença. Engulo seco e aceito que permiti me diminuir.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

HC

Nos corredores noturnos,
Almas vagam com objetivos certos.
Uns limpam o ambiente,
Normalmente de mulheres que,
Prontas no sorriso,
Apontam o caminho para as perdidas
Como eu.
Tudo azul e branco,
Numa tentativa frustrada de limpeza.
Marcas nas paredes,
Tijolos a mostra,
Janelas gradeadas
E vozes.
O próprio espaço se completa
Com as histórias mal contadas
De sofrimento alheio.
Absorvem os sorrisos,
Multiplicam o cuidado,
Como na casa da avó,
Onde o tapa acompanha o afago,
Onde o doce de faz amargo,
Onde a saudade da cama se desfaz
Nos olhos doloridos dos pacientes esperançosos.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Fogueira de Julho

Meu caminho é do fogo.
E como vim do fogo,
estou
e pra ele eu vou.
Meu coração é a fogueira de junho e julho,
irmão de São João,
filhos de Xangô,
o rei que não se enforcou.
Rezo pro senhor da justiça
tirar as pedras dos nossos caminhos,
alargar o nosso conhecimento.
Peço pro fogo
nos ensinar a queimar de paixão,
feito dendê em panela de axé.
Já nasci com coroa
e essa ninguém tira.
Se o calor da fogueira não a derrete,
quem poderá fazê-lo?
Peço ao calor de meu pai,
que nos faça sorrir sempre.
Que o sorriso seja como quiabo,
nos proteja dos feitiços doentes.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Preconceito arraigado é foda

Vejo uma galera que posta a comparação de cultos neopentecostais com giras de umbanda e outras religiões de matrizes africana e/ou indígena, como se fosse, a partir da manifestação corporal dos praticantes, a mesma coisa.
Bom, um problema, está na forma com que fazem, sempre denegrindo as religiões neopentecostais como sempre fizeram, mesmo que subjetivamente, as de matrizes africanas/indígenas. Como se aqueles movimentos fossem, de alguma forma, feios (ridículos, mals etc.) frente a ordem e controle dos corpos na maioria das religiões cristãs.
Outra coisa: não é a mesma coisa! As religiões neopentecostais denigrem e demonizam os guias e entidades afroindígenas, não teria como ser a mesma coisa. Energeticamente, pode ser que a forma de contato seja parecida, mas o que fazem contra a ancestralidade africana e indígena os torna muito diferentes.
Portanto, fazem um favor, caso postem estas comparações, se vocês problematizassem essa aparência, por exemplo: 'o espírito de Deus se manifesta nos corpos de praticantes neopentecostais como as entidades na Umbanda, como os guias do segundo podem ser demônios?' ou 'Vão pesquisar, antes de falarem mal das religiões de incorporação, pois a energia de amor dos guias está tanto pra Deus quanto seus comentários maldosos fruto do vosso preconceito estão para o diabo'.
Espero que me compreendam.

sábado, 11 de junho de 2016

Sentir de ser

Se o fogo apagar, sou água. 
Se a água secar, sou tempo. 
Se o tempo acabar, sou ancestralidade universal, infinita.
Se a calma passar, sou caos.
Se a luz diminuir, sou pó de estrela.

sábado, 28 de maio de 2016

Minha romaria

Vivo em romaria.
Rezo pra Deus,
Os Orixás e Nossa Senhora.
Minha missa são os encontros,
Meu terreiro é a estrada,
Minha fé está na natureza
Dos homens,
Dos anjos,
Dos bichos.
Aprendo olhando, vivendo.
Ligo os pontos,
Desaponto,
Continuo andando.
Enquanto sonho,
Converso com seres de outros mundos.
Enquanto paro,
Me batizo em cada canto.
E dessa forma,
Reconheço meus pais,
Minhas mães e irmãos.
Me reconheço assim.
O que sei, além do que sei,
É que Oxóssi me fez renascer
E Sogboadan me faz respirar.
Agradeço. Amo. Sirvo.

sábado, 21 de maio de 2016

Ensinamentos de um malandro


Eu aprendi com ele que não existe lugar que não possa. E aprendi que tem lugar que não vale a pena. Aprendi que a confiança é tudo nessa vida, mas que o amor ainda faz mais a diferença. 
Com ele eu aprendi que parceria é uma coisa e amizade é outra. E que não tem nada mais fabuloso quando as duas coisas caminham juntas. 
Aprendi que humildade não é calar-se. Mas quando puder ficar calado, corre rápido. Aprendi que a fome também se mata comendo pelas beiradas. 
No mais, aprendi e aprendo que carinho não falta.
Valeu, Seu Zé. Salve sua malandragem!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Xonei

Faz mais de uma semana.
E seu cheiro não sai do meu nariz,
Seu gosto não sai da minha boca,
Sua pele não sai da minha mão
E seu calor não sai do meu pescoço.
Quando me olho no espelho
Vejo você refletido.
Quão fabulosos são esses encontros.
E essa paixão,
Acompanhada de saudade,
Me faz reviver nosso encontro
Sempre que fecho os olhos.
Ai ai.
Não consigo manter a ordem
Na minha cabeça.
E meu coração te encontra
Em cada memória deslocada.

terça-feira, 10 de maio de 2016

A Rainha e o Malandro

Eram escadas, enormes e coloridas.
Cheias de gente suja.
Roupas sujas,
Pele suja,
Além de escura.
A Rainha,
desceu os degraus
como quem desce a escada de seu palácio.
Olhavam para ela com desejo.
O malandro,
percebendo o burburinho,
chegou para ver o que acontecia.
Foi num olhar,
a Rainha ganhou o coração do malandro.
Ela o ensinou da nobreza
e ele a ensinou que,
não se tem palácio maior que a rua.
E o centro da cidade se tornou vosso jardim.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Pra um amigo represado

Bom, só de te chamar de represado, já podemos imaginar a possível tragédia que isso representa. Uma hora, meu amigo, as coisas saem. Uma hora a terra e as pedras e as raízes são incapazes de segurar o que guarda. Depois de você, tudo há de virar lama, varrido pelo seu tsunami de lágrimas. Então relaxe e vamos começar a abrir caminho para isso seguir. Somos rio. Oceano é pra desaguarmos. 
É óbvio que muita gente foi responsável para esse seu estado de represa. Todos os amigos que te olharam diferente, que te disseram o que e como fazer sem respeitar seus desejos, que misturou liberdade em falar com crueldade na forma (esses existem aos montes), que te fizeram desacreditar naquilo que você, empiricamente, já havia experimentado.
Bom, todos temos limitações. Todos. E precisamos tomar cuidado para não sermos pra eles o que eles foram pra você. Não devemos desejar ser opressores. Mas devemos desejar abrir mão de toda opressão que nos é empregada. 
Nunca, mas nunca mesmo, abra mão da sua liberdade. Nunca! O que você deseja para você mesmo é mais importante que qualquer outra coisa. O que você quer ser, deseja estar, sente que precisa fazer, é seu. Não existe guru, amigo, pai, mãe que possa fazer isso por você. Não abra mão de você. Afinal, essa foi uma das coisas que mais te deixaram assim, essa represa.
Todas as nossas escolhas tem consequências, mas sempre prefira perder os outros a se perder de si. Os outros precisam encontrar os caminhos deles como você precisa encontrar os seus. Às vezes o desencontro acontece. Não se culpe. E, por favor, não culpe os outros. São só escolhas diferentes e, consequentemente, caminhos diferentes. 
Você, provavelmente, na busca por você mesmo, vai perder as pessoas que você mais ama, mais respeita, mais confia. Há momentos em que vai se sentir sozinho, sem um ombro pra chorar... mas quando somos rio, continuamos descendo a serra, e uma hora as coisas mudam. Como represa não. Água parada tem vida, mas não a sua. E sobre as perdas, o tempo já se encarrega de fazer isso mesmo, vá ser seu.
No mais, conte comigo, pro que der e vier. Vou me perdendo por aí, se sumirmos, será ótimo saber que descemos rios diferentes. E vai ser muito bom te reencontrar lá no mar. Um cheiro.

P.S.: Ah! NUNCA se responsabilize mais com os outros que com você. Você tem responsabilidade consigo mesmo e cada um de nós que não somos você temos conosco. Você pode nos ajudar em muita coisa, mas não deixe que pensemos que não podemos viver sem você. Porquê podemos e, em muitos casos, devemos.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Cansado


"Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu".
Acabou de acordar, seus desejos não são mais seus.
Chora por dentro. Sorri com os dentes amarelados...
Uma hora explode, ou é partícula universal,
que cabe todos os pesos do mundo num sorriso lacrimal?

Cansei.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Abandono

Eu já abandonei coisas mais importantes que algumas pessoas. 
Perceba como eu falo em pessoas.
Portanto, não duvide do meu abandono. 
Nem dos meus rasantes!

Carta

Goiânia,28 de março de 2016.

Irmã,

já se passaram quase três meses completos da virada de ano. O tempo parece não se importar mais conosco. Meu corpo já não responde direito, é como se vagasse no mundo, sem relógio. Minha pela ainda sente muito e, por sinal, tenho a impressão de que está pior, não dói, mas a membrana sente uma agoniazinha incômoda. Não é depressão. Nem ansiedade somente. É algum tipo de problema de estada no mundo. Ainda não consegui reconhecer o lugar do problema.
Tenho a impressão de que morri, mas não, as pessoas ainda me vêem, ainda me sentem. Eu também as vejo. Mas as sinto distantes, sem nenhum desejo de minha parte de contato próximo. Andei achando que eu era sociopata, mas acho que não. Só ando cansado de pessoas. Elas tem demonstrado muito nojo por coisas que eu amo, muito problema com minhas ideias, muito desânimo pelos meus desejos. Isso não é novidade, hei de me afastar, você sabe.
E hei de dizê-lo, não tenho o menor peso na consciência. E isso está me matando. Pergunto todos os dias pra mim mesmo se devo, e nenhuma outra resposta me vem na cabeça que não "vaza!". É reconfortante, de fato. Mas é uma loucura pensar que tenho coragem (e vontade) de sumir no mapa, ir fazer minhas coisas, viver minha vida, realizar meus sonhos. Ou não, quebrar a cara, morrer de amores, passar frio, sentir medo. Eu quero. E quero muito.
Estou com medo agora porquê ainda não sei como pedirei desculpas para as pessoas. E acho que ainda não sei porquê, definitivamente, não acho que seja motivo pra eu me desculpar. De qualquer forma, amo as pessoas que deixarei, ou que quero deixar. É difícil explicar que não são elas, sou eu. É clichê, mas minha vida sempre foi um clichê mesmo. E eu adoro essa cafonice que me representa.
Nada há de me segurar, pelo visto. Minha fé tem outro lugar, outra vivência. Não consigo ficar preso, ser escravo de mim mesmo. Talvez Exu tenha de fato ficado mais próximo, desconstruindo essa ideia fajuta de vida revolucionária gourmet. Tenho muito o que agradecer a ele. Tenho muito a agradecer muita gente. Mas é muita gente mesmo. E a maioria delas não quererá sequer olhar pra mim quando eu disser tchau. Meu coração está meio dolorido com isso. Mas ele sorri muito quando questiono o que há de ter atrás da esquina. Será que é mar? Será que é deserto? Será que é mata? Será que é concreto?
Que me perdoem os caretas, os imóveis, os estáticos. Muito se movimenta aqui dentro. E sou pequeno, não aguento segurar em mim. Me perdoem, uma pessoa só não aguentaria. É muita coisa, acredite. Aliás, você sabe.
Finalizo com um beijo, que te mando de cá. Receba aí e saiba, estamos mais próximos que você imagina e que podem ver. Me sinta. Vou pra estrada que é dela onde nunca devia ter saído. Nalgum lugar aportarei. Em muitas ondas serei jogado. Devo parar por aqui de novo, daqui uns anos. Espero sua visita. Saudades.

sexta-feira, 25 de março de 2016

"eu quero queimar minha vida de uma vez só, num fogo muito forte". kaô kabiecile!

quinta-feira, 17 de março de 2016

Caótico

Eu sinto o gosto do caos.
E gozo.
É nesse movimento incessante,
nessa dança doida
que me encontro.
Não consigo ter a calma dos velhos,
nem a ansiedade das crianças.
Sou a cabeça do jovem,
ensandecida,
na festa.
Eu gosto da roda,
das brincadeiras de corrida,
dos gritos na montanha russa.
Enquanto sorrio enlouqueço.
Cada abraço é um ponto de ebulição.
Me guardo,
como água para o café,
dentro da chaleira.
Apito,
estouro como panela de pressão,
num grito de dentro,
mas quase ninguém ouve,
poucos percebem,
ninguém vê.


segunda-feira, 14 de março de 2016

De segunda a segunda

De segunda a segunda, 
nas gargalhadas,
nos vultos,
na brincadeiras 
nas encruzilhadas. 
Nos pontos de intersecção,
nos encontros de amor,
nas estradas percorridas,
nas estradas a serem corridas,
nos caminhos de sangue,
na veia,
vermelha do preto.
Protege meu templo,
meu corpo e minha mente,
quem me apresenta,
quem sempre vai na frente.
Meu pai que me cuida.
Laroyê babá mi!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quarta-feira

As nuvens enegrecem, o vento corta, a água que cai é gelada e em grande quantidade. Aparece no céu um clarão. Logo depois um estrondo. 
Enquanto meus medos se dissipam pela energia do corajoso dragão vermelho, fogos saem de sua boca. A força da serpente alada afasta os poucos inimigos que teimam me perturbar, o brado assusta aqueles que se acham melhores que a natureza e seu sopro queima toda praga.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Arroboboi, Sogbô Adan, Kabiecilê!

Expande o ar, partículas se movimentam rapidamente,
é Sogbô chegando.
A cobra elétrica, de fogo, amando a chuva,
ligando a Terra ao Céu.
Num espaço minúsculo de tempo, rasga o céu.
Abre buraco no chão.
É Sogbô. É Sogbô!
Sogbô, a grande cobra alada que cospe fogo.
Senhor que dança,
do movimento explosivo,
de calor gelado,
que expulsa os ladrões de energia,
que mata os malfeitores.
A vida do paradoxo.
Sógbó Adan tá nu sá gba owè,
A cabeça do corajoso Sógbó vai até a coxa na quebra da dança.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Pra um amigo cansado

Uai, nêgo, estamos todos cansados. Primeiro, é importante que não usemos este cansaço pra atacar as outras pessoas. Num tem um escrito que diz que nunca sabemos o que se passa com o outro? Essa semana li isso e no final tinha "be kind. Always". 
Por mais difícil que seja, é importante que mantenhamos pelo menos o bom senso. Se você tem direitos, as outras pessoas também o tem (ou PRECISAM ter). E alguma vez na vida você também ultrapassou seus limites e invadiu o direito do outro, portanto, be kind.
A gente vê nos noticiários todos os dias um monte de atrocidade e desgraça, mas em pelo menos uma, quando é com o sofrimento de alguém, ainda conseguimos concordar. Como? Assim, sem darmos conta da rede que liga todo mundo no universo. Mas nem pensemos em universo total agora, já é tão difícil lidar com esse universo particular, nós mesmos.
Algumas coisas que podem nos ajudar: eu tenho o direito de me calar, de ficar sozinho, de não opinar sempre que eu não tiver vontade. O outro também. Todas as vezes que eu não quiser sair de casa, eu posso ficar quieto e ninguém tem nada a ver com isso. Contudo, também não tenho o direito de convencer com ameaças infatilóides meu amigo pra que ele vá comigo onde eu quero ir. Temos o direito, e em muitas das vezes, o dever de sair e/ou ficar sozinhos.
Tem tanta gente querendo explicar coisas simples e que num esforço contrário, insistimos em não ouvir ou entender. O que é um saco. Outro exemplo: não é básico sabermos que não temos direito sobre o corpo do outro? Então pq sempre estamos prontos a criticar alguém que não se veste, maquia, ou anda de forma que nos agrade? Outro saco! Será que vc ainda não percebeu que aquela pessoa também está cansada? E a crítica cresce, vira agressão verbal e em vários casos, agressão física. Nesse ano, somente nesses 29 dias de janeiro, cerca de 60 mulheres trans já foram mortas. Elas além de cansadas estão assustadas, as que não estão mortas, claro.
Você ficou sabendo que incendiaram um centro espírita em Brasília essa noite passada? É o quarto caso desde o ano passado. Essas pessoas também estão cansadas. 
Descanse, reveja seus preconceitos, suas limitações e passe a ajudar pessoas, nem que seja só calando sua boca. Por mais cansativo que possa parecer, carregar o fardo da intolerância é muito mais pesado. Seja gentil. Sempre!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Acabou?!

Às vezes acho que já estamos no pós apocalipse, que só superestimamos, como costumamos fazer com tudo, as ideias dos fins e recomeços. Pensa. Sem zumbi, sem extraterrestre, sem Deus. Só nós. Imagina!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sabedoria ancestral

Sangò sabe o que faz. Sabe o tempo das coisas, está ligado à energia primordial da terra, flui pelas veias da natureza bruta, reencontra o cosmo em cada faísca.
Passa incompreensível a meus olhos e me encanta mais cada vez que questiona minha fé, aponta meus caminhos, caminha comigo.
Com todas minhas perguntas e dúvidas intensas, revejo minhas dívidas comigo mesmo e continuo andando, cantando e em festa. Um Deus que dança.