Páginas

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

"Não sabe se" ou O tiro na culatra


Não sabe se morde ou se lambe,
Se queima ou se molha,
Se acaricia ou arranha,
Se ele mostra ou se esconde,
Se normal ou estranho,
Se bonito ou medonho.
Olha nos olhos e não vê o final,
Não reconhece afinal,
O que esperava atentar.
Se alenta nos braços
Sem saber se ataca
Ou se beija no altar.
Figura mitológica amorfa,
Besta apaixonante,
Cachorro do mato domesticado.
No pôr do sol se ilumina,
À noite, aos jogados,
engana a retina,
De manhã some no breu da claridade.
Não sabe se volta pro mato ou pra cidade
Pra cama ou pro colo da amante,
Pras nuvens ou pras cavernas,
Pra lua ou pra marte.
O que sabe
É que é o tiro na culatra do escravo
E o tiro na culatra do patrão.
Não fica preso no tronco
Nem alimenta proteção.
Não sabe se cachorro ou se gato,
Se pega ou se corre,
Se gato ou se rato,
Se escorrega ou escorre.
Se estrada ou se rua,
Se de roupa ou nua,
Se boceta ou pica,
Se âncora ou prôa,
Se dele ou tua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário