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sábado, 1 de maio de 2010

A Perda do Domingo

O menino se chamava Francisco. Era um nome normal, pra aquela época a qual ele vivia.
Ia às celebrações religiosas matinais, com sua mãe. Quando voltava, pelas ruas estreitas, quase vielas, de sua cidadezinha interiorana, Francisco gostava de imaginar como seriam aqueles quase-becos cheios de gente. Gente era o que Francisco menos via. Ele gostava mesmo era de olhar os animais. Sempre que passava pelos paralelepípedos da Rua Dica, observava cada janela grande. Eram tão coloridas, e fechadas. Observava que sempre, em todas elas, tinham caminhos de cupins. "Um dia aquilo tudo havia de cair", sussurrava Francisco, sem deixar que sua mãe o pegasse falando coisas que não deviam. Sua mãe pensaria que já era uma praga. E ela sabia que praga de criança pega, mesmo.
Segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado tinham um mesmo nome para Francisco: SEANTO. Para ele, todos os dias eram iguais, com excessão dos domingos, que tinham as celebrações e as passagens de ida e vinda pela Rua Dica. Ninguém entendia o porquê daquele menino estranho, que mal falava com os outros, sempre chamar os dias da semana de seanto. Mas Francisco era esperto e observador. De animais, sobretudo.
Em um domingo, Francisco já acordou assustado. O sol já tinha subido mais que o normal. Não dava tempo de ir para a celebração. A rotina de Francisco havia voltado, surgido, dilacerado seu coraçãozinho de menino. Aquele foi o dia em que domingo deixou de ser domingo, para ser seanto.

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