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domingo, 26 de janeiro de 2014

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Um trago.
Na ânsia, não olhou o relógio.
Abriu o guarda-roupa e se vestiu rapidamente com o que estava frente os olhos. Sem escolher cor nem nada.
Abriu a mochila, jogou o que tinha dentro fora, de qualquer jeito e pegou algumas camisetas, uma calça, uma foto e o resto foi lembrança. Na carteira, checou o pouco dinheiro que tinha enquanto trancava a porta e descia a escada. Num rápido "Até mais, 'seu' Barbabé", despediu-se do porteiro.
No celular uma música. No ouvido um fone. Pega um ônibus e na Br-153 pede para parar.
Um carro passa, ele estica as mãos mas o carro não pára. Um caminhão, não pára. Um carro pára. Ele entra.
ELE: Obrigado!
HOMEM: Nada! Vai pra onde?
ELE: Até onde cê puder me levar.
HOMEM: Goiás?
ELE: Velho?
HOMEM: É, pra velha Goiás.
ELE: Ótimo.
Silêncio. A paisagem passa e muda.
HOMEM: Tá sozinho?
ELE: Sou.
HOMEM: Hein?
ELE: Eu SOU sozinho.
HOMEM: Não entendo. É muita gente sozinha. Já é o terceiro que eu dou carona e todos dizem que estão sozinhos, vivem sozinhos...
ELE: Você não é sozinho?
HOMEM: Não.
ELE: Então porquê dá caronas?
HOMEM: Viajar sozinho é chato.
ELE: Ah, você é daqueles que tem medo de ficar só, que tem medo de morrer só. Cara, todo mundo morre só.
HOMEM: Nosso papo terminou aqui.
ELE: Vai me deixar aqui?
HOMEM: Não. Não quero ficar só. Só o papo que termina aqui.
Ele dorme. Acorda com um empurrão.
HOMEM: Chegamos.
ELE: Valeu!
HOMEM: Daqui vai pra onde?
ELE: Não sei. Bora ver.
HOMEM: Boa sorte!
ELE: Boas companhias!
Vira as costas e sai, pelas ruas de pedra da cidade velha. Entra em um boteco e sai com uma água e dois pães de queijo. Pára e pergunta alguma coisa pra alguém, que indica com a mão para uma direção. Ele segue. Rua de pedra, rua de terra, ponte, barulho de água. Num rio, ele chega, senta, bola um, fuma e sai para o mato. Imagens!
Volta e entra no rio. Viaja!
O celular toca.
ELE: Alô! No paraíso. Não, eu quero continuar só!
Escurece.
Fim.

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