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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Saudade

Tenho sentido saudade. Saudade de tudo. Se volto na cabeça a lembrança de um amor, saudade. De outro amor, saudade. De amigos, saudade. Comida, saudade. Sinto saudade até do que estou cheio. Sinto saudade de alguns cheiros. Saudade de ficar quieto. Saudade de não sentir saudade. Saudade descabriada, desorganizada. Sinto saudade de viagens, de gente que veio e foi embora, de gente que veio e ficou. Se fico uma hora sem te ver, saudade. Se estou sozinho no ponto, sinto saudade do ônibus. Falto sentir saudade do motorista. Quando vejo que o motorista não é aquele que estava na linha ontem, saudade. Sei não. Nem entendo. Sinto saudade e esse frio na barriga que ela traz. Saudade das vezes em que as merdas que nos separaram pudessem ter sido repensadas, com paciência. Saudade de não quebrar a cara. Saudade da paciência que eu sentia antes de não sentir tanta saudade. 
Não sei se isso é um pressentimento, uma forma do meu coração se acostumar com o que preparam pra meus pés. Não sei se isso é arrependimento de ter deixado tanta gente ir embora assim, no piscar de olhos. Não sei. Só sei que sentir tanta saudade tem me deixado meio assim assim, mais atencioso, mais curioso, com mais desejo de sentir mais saudade. Sentir tanta saudade tem me instigado a pegar a estrada, fugir pro mundo, experimentar e sentir mais saudade. 
Ê saudade.

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