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domingo, 6 de agosto de 2017

Sopro

O cara acordou cedo. Não se preocupou com o cheiro, acendeu o filtro vermelho de cinco conto que comprou na padaria, ligou o som, botou na rádio. Sabe-se lá o que pensava, mas tragava com vontade, e soprava a fumaça como se quisesse soltar os pulmões, era como gritar. O cubículo, no segundo sopro, estava cheio. Com destreza, acendia um no rabo do outro, sem desperdiçar um trago sequer. Letras apareciam como projeções na fumaça. Imagens se formaram. E o ritual continuou tempo a fio, até o maço ficar vazio. Saiu para comprar outro. Nunca mais voltou, deixou a porta aberta. Até agora ecoa no corredor os gritos no cheiro dos cigarros baratos.

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