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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O ano que não choveu

Sempre, desde que se entendera por gente, via no dia de seu aniversário, uma torrencial queda de água do céu. Lembra de um ano que lhe pegou de surpresa, acompanhada de um arco-íris, na rua.
Diziam que era presente, coincidência, recado ou aviso do céu. Tinha quem colocasse sagrado e profano no mesmo balaio pra falar daquela chuva. Eram os comentários que ele mais gostava, aliás.
Mas esse ano não choveu. Não caiu um pingo d'água, nem nuvem tinha lá em cima. Tudo seco. Nem suor lhe desceu a testa. Foi então que viu-se cerrado. Seco, esfumaçado, com marcas cinza na pele, feitas pelas unhas desidratadas. A água era interna, discreta. De tanto matutar, escolheu a resposta que mais lhe acomodara o coração quanto o atraso da chuva. É do fogo sua vida e seu renascimento.
Dá voltas no quarteirão a pele que deixa agora para trás, mais leve que quando o céu molhava agosto.

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