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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Recado

Recebi um recado. Não lembro de onde veio, só que chegou como um tapa na cara. Ou um cuspe no meio da testa. Ou, quando criança, uma carícia por dentro das calças. Um recado que machuca, daqueles que assusta e deixa marcas psicológicas infelizes.
Depois que acordei, recebi um recado. Não foi um bilhete comum. Foi destes que os professores mandam para os pais gays referindo-se a uma mãe, daquelas pichações dizendo que Jesus está voltando, que a porta estreita é a melhor. Foi igual aquele bilhete que recebi aos 6 anos, escrito com letra infantil "bichinha".
O recado tem cheiro de sangue, aquele mesmo que saiu da minha boca quando me jogaram no chão me acusando de ser afeminado. Tem gosto salgado, aquele que eu senti quando chorei ao ver minha irmã ser violentada dentro do coletivo e ninguém disse nada.
Nas entrelinhas, muito claramente, consigo ver meu pai dizendo que nunca vai me aceitar, quando disse que sou gay. Que coisa, não? Parece muito também quando eu fui chamado de filho do demônio quando passava na rua vestido de branco e com meu delogun porquê era sexta-feira, dia de Oxalá.
Sabe aquele recado triste, doloroso? O recebi hoje. Novamente!

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