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terça-feira, 23 de maio de 2017

As Mulheres

Nasci.
Tinha uma mãe. Outra me amamentou. Outra servia o escaldado.
Já foram três.
Moço, quando eu parti o joelho no meio, minha vó que me segurava no colo dela.
Quando eu senti fome, fugindo da cronologia, minha tia me amamentou.
Eu lembro de cada professora que eu tive.
Cê pira?
E da menina que eu escrevi uma carta e ela nunca me respondeu?
Até me abraçou no outro dia como se nada tivesse acontecido.
Quando eu desmaiei quando, por leseira, bati na pilastra, foi a Lígia que me segurou a onda.
Tudo girava.
Antes de ir pra escola, foi a Maura que me levou.
Paixão infantil é bom porque a gente não lembra depois.
Minha tia era minha professora, e foi a primeira vez que eu fui pra coordenação.
Tinha uma muda também.
E um pé de amora.
A Bruna.
A amiga que morava com a mãe no barraco de adobe.
Mãe de sangue.
Mãe de leite.
Mãe avó.
Mãe de Cristo.
Mãe de Santo.
Mãe gira.
Dama da Noite.
Maria Padilha.
Sete Saias.
Rainha.
Uma mais santa que a outra.
Moço, moleque levado, com tantas madrinhas.
Na fogueira são duas vezes.
Madrinha que cortava meu cabelo. Quem botou a mão na minha cabeça pela primeira vez.
Madrinha do supermercado. Minha lembrança do ovo de páscoa.
Madrinha da cidade onde eu nasci. Quem me esperou.
Madrinha da fogueira, onde renovou nosso laço no fogo.
Madrinha do rio. Da água. Da calma. Da proximidade ancestral.
Madrinha entidade.
De fora as amigas.
São tantas.
Esqueço do nome, mas nunca da cara.
Nem do carinho.
Nem do caminho.
Agradecido.

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