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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Abiãn

A renovação de toda e qualquer fé está no abiãn. É ele que faz com que as iaôs e as egbomis perceberem que a roda da ancestralidade continua girando.
O abiãn que lava a casa, que rastela o quintal, que lava a louça, pra que os orixás sejam louvados na melhor das condições, enquanto os mais velhos no santo possam cozinhar, dar banho, dar santo.
Quando as iaôs estão viradas, são os abians que cantam, respondendo o axé dos atabaques, respondendo a voz dos ogãns, fortalecendo as ekedis.
O abiãn renova as esperanças, os desejos que vão se confundindo com o tempo, a paciência que vai se perdendo com a experiência. Nada no terreiro se confunde ao olho brilhante do abiãn apaixonado pelo santo.
Abiãn canta confuso, grita na hora que não devia, bate cabeça onde não carece. Abiãn ri das bobeiras que dá. E olhando pra eles, conseguimos nós que já casamos com o orixá, perceber o quanto o tempo e as responsabilidades nos fizeram carrancudos, ou metidos, ou prepotentes.
Abiãn é a energia do mundo, o começo, o frio na barriga, o olho brilhante, a curiosidade, o riso, a empolgação. Abiãn é aquele que está pra aprender, mas em silêncio deixa o segredo de quem também ensina.
Motumbá aos abiãns, que renovam minha fé todo dia, nas perguntas mais bobas, nos sentimentos mais sinceros, nas dúvidas mais simples. Na força do princípio da ancestralidade.
Se você não é do candomblé, abiãn é a pessoa que chega no terreiro e ainda não se iniciou, ainda não se tornou iaô.

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