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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

animalia

Olhou pro relógio. Correu tempo, correu água do olhos, córrego passou, molhou os cílios, salgou léguas, saltou ondas, mergulhou profundo. "Esse tempo não é meu", esbravejou.
Como vaca, volta todo dia pro matadouro, pra fila do banco, pra fila do emprego, pra fila do supermercado. "Fila é a coisa mais democrática que posso ver, não escolhe lugar, está em tudo", pensou. Fila pra cagar, pra banhar, pra comprar, pra pagar.
Empurrado, amassado, cansado, atolado de lama, afogado, não pára o relógio. "Cato mamona, não consigo andar tão rápido", assumiu. Continua, abre caminho, desce a luz no fim do túnel, sobe pro fim do poço.

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