Páginas

terça-feira, 29 de setembro de 2020

caminhar

O filho de santo ouviu na cozinha que serve-se canjica branca pra oxalá. E na ânsia de servir seu santo, foi embora pra casa com aquilo na cabeça. 
Foi no mercado, comprou a canjica, cozinhou. Percebeu que não tava maciinha, mas serviu assim mesmo. Tirou da panela de pressão, já colocou logo no prato, saindo fumaça, botou no chão, acendeu a vela e bateu paó. 
Deitou feliz, aquela noite. Acordou no outro dia com a impressão de que não tava calmo como pensou que estaria. E foi piorando até o final do dia. 
Na sexta-feira seguinte foi dar satisfação ao ilê, e contou pra mokota da casa o que tinha acontecido. Ela riu. Fez um banho de boldo e folha da costa, deu no filho e o chamou na cozinha. Ele encostado, sem entender o que tava acontecendo, ela disse, "você ouviu, agora veja". Pegou a canjica, catou os grãos, colocou na panela de pressão e levou ao fogo. No tempo de tirar, que ela reconhecia pelo cheiro, abriu a panela, lavou e separou o omitorô e colocou no prato branco. O filho, esperando já impaciente enquanto lavava as louças e via a velha fazer tudo na calma, perguntou quando serviriam. Ela, na sabedoria, lhe contou um itãn que dizia sobre a temperatura de Oxalá. E quando percebeu que a comida já havia esfriado, pegou e o chamou até o quarto de santo, serviu a comida enquanto o filho chorava emocionado e arrepiado. Tudo em silêncio. Quando ela saiu, fechou a porta e lhe disse:
"O tempo entre ouvir, ver e fazer é diferente. Afine os dois primeiros e por fim suas mãos estarão preparadas  pra trabalhar da melhor forma possível. Isso vale aqui e em todo lugar".
O filho de santo ouviu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário