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quinta-feira, 27 de abril de 2017

A Guerra

Queria, na guerra, ligar o foda-se. Não participar de frente. Estar dormindo enquanto as bombas estouram os miolos dos soldados. Guerra é guerra, segue-se o fluxo dos mísseis, não dá tempo para a desatenção, qualquer fala é passível de morte. Em cada esquina uma proteção, no meio da rua um ataque. Não existe civil. 
Na guerra, só contabilizaremos os perdidos depois da última batalha. Só choraremos os mortos depois do último tiro. Em guerra o tempo corre diferente, hora mais rápido hora cerrado. Em guerra, sorriso é força, abraço é escudo e esperança é arma. 
No campo de concentração morrem aos poucos os primeiros combatentes. Em algum momento salvos. Não queria estar em guerra. Queria poder olhar os campos verdes de outrora, nesse deserto ao qual nos afundamos em areia movediça. Perdido, caminho, encontro outros cegos e aleijados no caminho. Vejo uma janela.
Longe, talvez nem tanto, uma miragem de reencontro. Um ponto forte de energia que segura as mãos dos mais atingidos. Nossos espíritos se unem em força, em luz e em cuidado. Vejo um trem bom, não sei direito o que é, talvez por tanta poeira de parede dos prédios derrubados dentro de mim; talvez por nunca ter experimentado nada parecido. 
Mergulho, e debaixo dágua respiro. Tudo muda. Emerjo, e o sol já aparece, como um fim de tarde tranquilo em cidade do interior, de onde surgem horizontes diferentes, um mais bonito que o outro. A noite virou pôr do sol. O tempo conta-se natural, nem muito nem pouco.

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