À noite, enquanto
Mitra dorme, Zé assiste sua televisão e Andrea pega seu ônibus,
seu último ônibus para ir para casa. Depois de passar debaixo da
catraca enquanto o fiscal do ponto não via, estava ali naquele
terminal, o mesmo de alguns anos desde que se mudara para Goiânia. A
faculdade havia largado e nunca mais aparecido no campus, salvo as
vezes em que queria ser salvo, ou de bebida, ou de maconha. Tinha
diminuído o uso do 'braw', mas vez ou outra, frente ao pôr do sol
quase sempre alaranjado dos meses depois de julho na cidade, se
animava em acender 'um' em alguma rua do Centro, menos movimentada, e
fumar naturalmente, como se fosse o Dunhill, sempre acompanhante do
“verdim”.
Mitra, que tinha esse
nome porquê segundo seu pai, parecia um “solzim”, de tanta luz
que acendeu na sala de parto. A mãe, morta no parto, não teve
chance de visualizar tanta claridade. Dentro dela, se apagava a
faísca, dando o protagonismo para o filho. Hoje descoberta filha.
Dormia cedo porquê trabalhava num desses hipermercados, serviços
gerais. O expediente começava às 7h, o que fazia com que Mitra
levantasse todos os dias 5:30, tomasse seu banho e café da manhã,
pegasse sua moto recém comprada e levasse mais trinta minutos até o
trabalho. Gostava de banho demorado.
Calado, Andrea se
revezava entre sentar no meio fio do terminal ou fumar um cigarro no
fundo da última gente que ia para casa naquele último ônibus, que
passava às 23:45. Sempre chegava adiantado no terminal e atrasado em
casa. Aquela hora, por exemplo, era 23:10. Cansado, cochilava dentro
do ônibus, já que demorava algum tempo dali até sua casa.
Zé arruma a cama de
solteiro, já para se deitar, ao mesmo tempo em que Andrea abria a
porta de sua casa, tentando fazer o menor barulho possível, para não
acordar a família que já dorme. Mitra está em seu sétimo sono.
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