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domingo, 16 de abril de 2017

conto reencontrado não finalizado

À noite, enquanto Mitra dorme, Zé assiste sua televisão e Andrea pega seu ônibus, seu último ônibus para ir para casa. Depois de passar debaixo da catraca enquanto o fiscal do ponto não via, estava ali naquele terminal, o mesmo de alguns anos desde que se mudara para Goiânia. A faculdade havia largado e nunca mais aparecido no campus, salvo as vezes em que queria ser salvo, ou de bebida, ou de maconha. Tinha diminuído o uso do 'braw', mas vez ou outra, frente ao pôr do sol quase sempre alaranjado dos meses depois de julho na cidade, se animava em acender 'um' em alguma rua do Centro, menos movimentada, e fumar naturalmente, como se fosse o Dunhill, sempre acompanhante do “verdim”.
Mitra, que tinha esse nome porquê segundo seu pai, parecia um “solzim”, de tanta luz que acendeu na sala de parto. A mãe, morta no parto, não teve chance de visualizar tanta claridade. Dentro dela, se apagava a faísca, dando o protagonismo para o filho. Hoje descoberta filha. Dormia cedo porquê trabalhava num desses hipermercados, serviços gerais. O expediente começava às 7h, o que fazia com que Mitra levantasse todos os dias 5:30, tomasse seu banho e café da manhã, pegasse sua moto recém comprada e levasse mais trinta minutos até o trabalho. Gostava de banho demorado.
Calado, Andrea se revezava entre sentar no meio fio do terminal ou fumar um cigarro no fundo da última gente que ia para casa naquele último ônibus, que passava às 23:45. Sempre chegava adiantado no terminal e atrasado em casa. Aquela hora, por exemplo, era 23:10. Cansado, cochilava dentro do ônibus, já que demorava algum tempo dali até sua casa.

Zé arruma a cama de solteiro, já para se deitar, ao mesmo tempo em que Andrea abria a porta de sua casa, tentando fazer o menor barulho possível, para não acordar a família que já dorme. Mitra está em seu sétimo sono.  

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